A autora, jornalista e criadora de conteúdo Bianca Jung tem um quadro nas redes sociais intitulado “Escreva como”, onde ela descreve a rotina de outros escritores. Em entrevista exclusiva ao NSC Total, a autora foi questionada sobre o que faria se um desses vídeos fosse sobre seu processo. A resposta veio entre risos e, de forma descontraída, revelou o: “Escreva como: Bianca Jung”:

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— Eu diria que a Bibi não gosta de escrever pela manhã e pela noite. Ela é uma pessoa que escreve pela tarde, normalmente das 13h às 17h, que gosta muito de fazer sprints de pomodoro porque é uma pessoa um pouco ansiosa, é muito planejadora e gosta de ter o Excel prontinho com o que vai escrever. Sempre com uma xícara de café e escutando música —, conta.

Foi essa mesma rotina de escrita que, ao longo dos últimos três anos, resultou nos lançamentos de “O Veneno na Montanha” e “O Chamado do Abismo” pela Qualis Editora e colocaram Bianca Jung como um dos grandes nomes da fantasia nacional. Em entrevista ao NSC Total, Bianca relembra que embora sempre tenha sido leitora, a ideia de ser escritora sempre pareceu distante, mas a mudança de cidade e as oportunidades que apareceram ao longo de quase dez anos tornaram o sonho possível.

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Uma mudança completa, “de mala e cuia”

Nascida em São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi em Florianópolis, capital de Santa Catarina, que encontrou não apenas sua casa, mas também o caminho para se firmar como escritora.

A ligação de Bianca com a Capital catarinense começou ainda na infância, como um sonho compartilhado em família. Quando decidiu cursar jornalismo, a escolha pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) impulsionou a mudança de toda família para a Ilha da Magia.

— Florianópolis sempre foi o amor da minha família e quando decidi estudar aqui, viemos todos de mala e cuia —, relembra a autora, que se mudou para a cidade em 2013.

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A leopoldense ingressou na UFSC em 2015, onde aproveitou para testar diversas áreas do jornalismo. Contudo, foi durante um estágio na Qualis Editora, que tem sede em Florianópolis e anos depois publicaria suas obras, que ela vislumbrou a possibilidade de unir sua paixão pela escrita à literatura.

— A escrita sempre esteve no meu coração, mas no Brasil, onde já temos dificuldade em formar leitores, ser escritor não parece ser uma possibilidade. Foi então que no estágio aprendi muito sobre o mercado e entendi que, mesmo sendo difícil, era possível ser autora, especialmente com o apoio das redes sociais —, explica.

O encontro entre jornalismo e literatura

Confinada em casa durante a pandemia, Bianca criou o perfil @bibilendo no Instagram para compartilhar sua paixão por livros. Estabeleceu uma aposta consigo mesma: atingir 10 mil seguidores em um ano. Para a surpresa dela, alcançou esse número em apenas quatro meses. A meta cumprida lhe deu confiança para abandonar a profissão de jornalista em tempo integral em 2021 e investir na carreira de escritora.

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E foi então, que além do trabalho no Instagram, Bianca explorou produzir conteúdo na Twitch, plataforma onde influenciadores transmitem live e que a ajudou a estreitar os laços com o público que se tornaria também seus leitores.

— O Instagram foi importante para as pessoas conhecerem a “Bianca criadora de conteúdo”, mas a Twitch foi o que fez as pessoas se conectassem comigo como escritora, porque era lá onde eu compartilhava o meu processo de escrita —, revela a autora.

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O nascimento de “O Veneno na Montanha”

A obra de estreia foi publicada em 2022, mas a ideia da história de “O Veneno na Montanha” ficou amadurecendo durante quatro anos. Kalina Kaster, protagonista do livro, “nasceu” na cabeça da autora em 2018, durante uma disciplina de escrita criativa no curso de Cinema da UFSC, ministrada pelo professor Márcio Markendorf.

A proposta de escrever uma história de fantasia a desafiou a criar algo que gostaria de ler. Após pensar, pensar e pensar durante a aula, acordou durante a noite por um sonho.

— Participar da disciplina foi tão interessante e tão especial porque eu consegui experienciar trabalhar com uma galera que escreve unicamente ficção e meu olho brilhou. E a história veio na minha cabeça enquanto eu dormia, eu lembro que eu acordei meio tonta e já comecei a anotar —, relembra Bianca Jung.

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Inspirada, começou a desenvolver a trama, que levou meses para amadurecer. Como o início do livro, por exemplo: Kalina comete um crime premeditado para entrar na maior prisão do continente. Inicialmente, Bianca explorou diferentes motivações para sua protagonista, mas foi apenas quando decidiu que Kalina faria isso para salvar a mãe que a história ganhou profundidade.

— A motivação dela precisava ser tão forte que o leitor acreditasse e se conectasse. Salvar a mãe, ainda mais com toda a bagagem de culpa que Kalina sente, trouxe o peso necessário para sustentar a história —, detalha sua escolha.

A relação de Kalina com outros personagens, como Vixen, também evoluiu com o tempo. Bianca revela que optou por não apressar o romance no primeiro livro, priorizando a jornada pessoal e os conflitos da protagonista.

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— No início do livro, ela só pensava nela mesma, era um pouco egoísta e queria apenas cuidar da família, mas, ao final, percebe que o mundo é maior. Muitos jovens leitores vieram me contar como isso os fez refletir sobre olhar para o mundo e perceber além de suas próprias vidas —, complementa a escritora.

O futuro e a paixão pela escrita

Bianca também compartilhou os desafios de equilibrar sua jornada criativa com as expectativas dos leitores. A escrita de “O Chamado do Abismo”, segundo livro da trilogia, exigiu uma pausa e mais tempo do que o previsto, mas ela decidiu ser honesta com seus leitores.

— Eu quis ser franca, falar que o livro ainda não estava bom e que eu daria o meu melhor. O retorno dos leitores foi incrível; eles me disseram que preferem esperar por algo de qualidade. Isso foi muito especial e me motivou a continuar escrevendo —, relembra.

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O segundo livro foi lançado durante a Bienal do Livro em São Paulo em setembro deste ano e foi um sucesso de vendas, colocando os dois livros de Bianca como os mais vendidos da editora.

— No segundo livro, o romance é mais trabalhado, temos o desenvolvimento do romance de Kalina e Vixen. Mas ele entra no momento certo, sem ofuscar a trama principal. A história também é contada a partir da visão de Vixen. É um livro bem mais denso, tem muita intriga política, tem duas visões, nós temos dois vilões e um final que é um pouco drástico —, explica.

Foi durante o evento literário que Bianca também percebeu a transição do público leitor de seus obras, que inicialmente a seguia pelas redes sociais e agora também é composto por leitores que buscavam suas obras pelo conteúdo em si, sem conhecê-la.

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— Muitos leitores vinham atrás de “O Chamado do Abismo” porque tinham lido “O Veneno na Montanha”. Eles nem sabiam quem era Bianca Jung e isso foi muito especial. Todo escritor sonha com isso: que o livro seja maior que o escritor, que ultrapasse o autor, fure a bolha e chegue a mais pessoas —, complementa.

Bianca Jung atualmente dedica-se à escrita em tempo integral. Apaixonada por fantasia e romantasia, ela está trabalhando em um novo projeto no gênero que deve ser lançado em 2025, antes de escrever o terceiro e último livro da série “O Veneno da Montanha”. E neste sábado (16), a partir das 15h, a autora fez pela primeira vez uma sessão de autógrafos em Florianópolis, onde mora. O evento foi realizado na Livraria Leitura, do Villa Romana Shopping.

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