Os dreads nos cabelos escuros, o bigode cheio e o cavanhaque são as marcas do jeito simples do polivalente Roberto Adolar Gonçalves, que prefere ser chamado pelo nome artístico de Beto Terra. O jaraguaense de 48 anos mora em Joinville há 25, entre idas e vindas para a capital catarinense e a Europa. O ator, diretor, dramaturgo, escritor e músico, há cerca de três anos se dedica à criação de instrumentos musicais.
Continua depois da publicidade
O gosto pelas artes começou em 1982, quando passou a morar atrás da Casa da Cultura e estudar teatro no Museu de Arte de Joinville. No final do ano anterior, ele havia se cansado do trabalho de chefe de expedição que exercia no Banco Mercantil e pediu demissão do emprego. A partir dos primeiros contatos, mesmo sem receber apoio da família, Beto não parou mais. No ano seguinte, ingressou nas aulas de teoria musical e, até 1988, participou de outros cursos, como harmonia e balé clássico, mas em nenhum permaneceu até o fim.
Com participação em mais de 20 trabalhos teatrais em Santa Catarina, ele também fez apresentações musicais e cênicas no exterior. Em 1995, decidiu viajar à Suíça ao lado do amigo Sidney Herzsage. No Velho Mundo, se instalou, juntamente com mais 24 pessoas, em uma antiga companhia de ônibus desativada chamada Espaço Autogéré.
– Eu estudava sozinho, participava do movimento anarquista e me apresentava em festivais em Lausanne -, conta. Beto permaneceu por sete anos e ainda estudou antropologia com um etnólogo na Dinamarca.
Após voltar ao Brasil, o artista não queria mais saber de política e resolveu esfriar a cabeça em viagens a pé por Barra Velha, Florianópolis e Porto Belo. Ex-marido da pintora canadense Marie Girö, mãe de sua filha Oceanne, de dez anos, ele ainda mantém contato com as duas. De tempos em tempos, recebe a ajuda da ex-mulher para patentear suas invenções em Montreal, no Canadá.
Continua depois da publicidade
Em 2010, depois de três anos de estudo, Beto Terra inventou o seu 20º instrumento. O claviole, nome inspirado no clavicorde e na viola, possui 11 cordas e é parecido com um contrabaixo. Não satisfeito, continuou suas experiências e, no último mês de outubro, terminou o claviole royal. Construído com madeira de móveis antigos, o objeto possui 12 notas.
– A intenção era fazer um instrumento agudo e grave além do que o violão possibilita -, conta.
– O piano é o maior do mundo em número de notas com 7,3 oitavas. O meu instrumento possui mais do que isso, com 7,4 oitavas.
Apesar de já estar na segunda versão de seu claviole, Beto está em processo de produção do claviole monarchic, que ganhará uma versão de 13 e outra de 14 cordas. No entanto, seu estudo ainda permite um instrumento de 17 cordas, que ainda não se tornou realidade por falta de material. Além das invenções, o também escritor se aproxima do término de seu quarto livro,
– Estelionato, o 8º Pecado Capital -, que fala sobre mentira e perjúrio.