Foram anos para que Beth Goulart passasse de uma leitora apaixonada a uma personagem cativante em “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”. Desde o primeiro encontro na adolescência – a identificação com as confusões internas – até a decisão estimulada por “Cartas Perto do Coração”, foi como se Beth passasse por um período de gestação. O espetáculo é o filho que Beth traz para Joinville conhecer neste fim de semana, na Sociedade Harmonia-Lyra.

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À vontade na área social do hotel, e com uma simpatia admirável para uma típica manhã quente joinvilense, a atriz contou ao “Anexo” que o espetáculo, uma declaração de amor à escritora arrebatadora de fãs por todo mundo, foi sendo costurado a partir de circunstâncias.

A atriz tinha a intenção de levar aos palcos Clarice e Fernando Sabino, falar da amizade eternizada em correspondências trocadas entre 1946 e 1969.

– Ali, eu começava a enxergar Clarice como personagem – conta a atriz.

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O fato é que a família de Sabino não via o porquê de encená-lo, preferiam uma lembrança não-biográfica.

Restou simplesmente ela, a Clarice. E aquela vontade que sempre acompanhou Beth. “Quem era essa mulher?” foi a pergunta que ela levou dois anos para responder ao público, e a si mesma. Além do mergulho nas obras da autora, a atriz também passeou por biografias, trabalhos acadêmicos e duas entrevistas concedidas por Clarice: um áudio pertencente ao Museu de Imagem e Som, e a única filmagem para a TV Cultura gravada poucos meses antes dela morrer.

Por Clarice se permitir múltiplos olhares, não havia do que Beth se acanhar para dar o seu na adaptação do texto de “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”. Já repleta de intenções, achou traição consigo mesma não se autodirigir.

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– Segui as instruções que a própria Clarice me ensinou. Eu também estou falando de mim, eu me revelo através de minhas escolhas – afirma.

Beth escolheu momentos íntimos da autora, encaixando neles as personagens Joana, de “Perto do Coração Selvagem”; Ana, do conto “Amor”; Lóri, de “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres”; e a sem nome de “Perdoando Deus”. Todas ligadas pela vida, obra e até as contradições e angústia criativa da autora.

– A Clarice me toca de uma forma muita positiva. Se revela tanto em suas personagens que quando escreve acaba nos revelando também. Aliás, ninguém é uma pessoa só – dispara.

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Peça premiada

Como ela mesma argumenta, “quem conhece Clarice, a reconhecerá” no espetáculo. No palco, Beth transborda semelhanças físicas com a escritora.

– Trata do que chamamos de fé cênica. O público embarca na história junto com você – diz.

“Simplesmente Eu, Clarice Lispector”, que passou nesta turnê por Blumenau e na semana que vem segue para Florianópolis, rendeu a Beth o prêmio de melhor atriz da Shell (2009), APTR, Revista “Contigo” e Qualidade Brasil, que premiou também como melhor espetáculo.

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O QUÊ: espetáculo “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”.

QUANDO: sábado, às 21 horas, e domingo, às 19 horas, na Sociedade Harmonia-Lyra.

ONDE: Sociedade Harmonia-Lyra, rua 15 de Novembro, 485, Centro, Joinville.

QUANTO: ingressos a R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia) e R$ 56 para Clube do Assinante A Notícia. Ingressos à venda no Biergarten Choperia e no www.blueticket.com.br.