Histórias de empreendedores semelhantes às míticas marcas do Vale do Silício, nascidas do entusiasmo de jovens nerds na garagem da casa dos pais, não existem só nos Estados Unidos. Troque a Califórnia por Florianópolis (também ensolarada e com um pujante polo de tecnologia) e a garagem pelo apartamento de um amigo e você tem a história de Bernardo de Castro, presidente da divisão de Agricultura da Hexagon. Com mais de 25 mil equipamentos em operação em 36 países, a empresa está envolvida atualmente nos processos de planejamento de 46% da produção global de cana-de-açúcar. No setor de silvicultura, já monitorou mais de 2,5 milhões de hectares de florestas plantadas.
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Mas antes de se tornar o principal executivo da vertical agrícola da Hexagon, Bernardo fundou uma startup que está na própria origem da divisão. Filho de médicos, o mineiro adorava matemática e ainda no colégio decidiu que queria estudar automação. Era meados dos anos 90, a internet ainda era discada, a palavra startup não fazia parte do dicionário dos brasileiros e poucas universidades tinham graduação em Engenharia de Controle e Automação.
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Em 1996, Bernardo passou no vestibular para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Deixou Minas Gerais e se mudou para Florianópolis, onde em pouco tempo faria parte de uma geração de empreendedores que transformou a economia da cidade, hoje conhecida como a Ilha do Silício, antes apenas uma capital turística.
— Acho que fui empreendedor pela primeira vez quando saí da zona de conforto da casa dos meus pais e vim estudar em Florianópolis — afirma o executivo.
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Na universidade, ele começou a estagiar logo na 2ª fase, na primeira incubadora de empresas da cidade, a Celta. De certa forma, estava semeando a Arvus Tecnologia, startup de soluções para agricultura de precisão que criaria em 2005. A ideia surgiu no final de 2003 numa conversa com um tio que era gerente de uma fazenda agrícola em Goiás. Ele demandava um sistema que garantisse de forma automatizada a precisão da aplicação de insumos. Bernardo já era graduado e voltou para Florianópolis decidido a resolver o problema.
Convicto de que não se faz nada sozinho, chamou os amigos da faculdade Gustavo Raposo e Adriano Naspolini para entrar no projeto. A “sede” funcionava num quarto do apartamento de um colega, onde o trio se reunia enquanto não estavam em seus empregos. Bernardo já trabalhava na Fundação Certi nessa época.
— Como muitos garotos de 20 e poucos anos, achávamos que tínhamos experiência, foi duro cair na realidade, mas se deu certo é porque tivemos muita persistência e já trabalhávamos com dados e análises para tomar decisões — conta.
Foram dois “infinitos” anos até os três perceberem que o esforço tinha valido a pena: em 2007 a Arvus conquistou o seu primeiro grande cliente. Foi quando começou a ganhar notoriedade e novos mercados no Brasil e na América Latina.
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— Nesse momento, mudamos nosso problema de ‘será que alguém compra nosso produto’ para ‘será que vamos conseguir atender a demanda?´ — lembra Bernardo.
Para crescer, foram atrás de um investidor. Em 2009, fizeram o primeiro aporte e, em 2011, a segunda rodada.
— Depois que decidimos isso, sabíamos que o momento da venda chegaria. Não éramos apegados ao negócio, mas aos resultados que queríamos tirar dele.
E os resultados vieram. Em 2014, Bernardo de Castro integrou o seleto grupo de empreendedores brasileiros que criaram negócios tão promissores que acabaram chamando a atenção e sendo adquiridos por empresas globais. A diferença é que ele continua à frente da gestão como presidente.
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A divisão de Agricultura da Hexagon foi criada em 2014, quando o grupo adquiriu a Arvus e a uniu com a ILab Sistemas, de Ribeirão Preto, e a divisão de agricultura da Leica Geosystems, de Madrid. A Hexagon identificou nas tecnologias dessas empresas um enorme potencial para automatizar as operações e elevar a produtividade no campo.
Bernardo conta que seis meses após a venda da Arvus ainda não tinha certeza de que continuaria na empresa. Mas o engenheiro não teve tempo de ficar ansioso com a incerteza de seu futuro. Durante o período, esteve bem ocupado à frente do processo de integração das tecnologias desenvolvidas pelas três empresas. A sede da divisão de Agricultura da Hexagon continuou em Florianópolis. O convite para ser presidente veio tão naturalmente quanto a decisão de Bernardo em aceitá-lo. Seu sócio Adriano Naspolini também se manteve como CTO da vertical.
Hoje, a Hexagon Agriculture é referência em soluções digitais para os mercados de cana-de-açúcar, grãos e florestal em todo o mundo. Suas soluções convertem dados em informações inteligentes, garantindo eficiência no planejamento e na execução, além de controles precisos de máquinas agrícolas e fluxos de trabalho automatizados. Entre os clientes brasileiros estão grandes grupos como São Martinho, Raízen e Suzano Papel e Celulose.
— O potencial do mercado agrícola para novas tecnologias é tão grande quanto o tamanho das terras que suas fazendas ocupam, algumas equivalentes a mil campos de futebol — afirma.
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Relatório de inteligência divulgado recentemente pela BIS Research estima que o mercado de software e serviços para agronegócio alcance U$ 1,6 bilhão até 2023 e uma taxa anual de crescimento de 17,88%. Para Bernardo, a venda da Arvus se transformou numa grande oportunidade de realizar sonhos: trabalhar com o que há de mais avançado em tecnologia no mundo e expandir o mercado para além das fronteiras da América Latina.
— Hoje nossas soluções já estão em cinco continentes. Temos na empresa um verdadeiro parque de diversões para quem é apaixonado por tecnologia de ponta.
O resultado é tudo o que qualquer empreendedor busca em sua trajetória: consistência nos resultados financeiros e reconhecimento do mercado.