O molusco mais famoso da Ilha, que leva até nome de festa de Carnaval, está em falta no mercado. Há cerca de um mês está difícil de encontrar berbigão, situação que preocupa a comunidade. Em Florianópolis, nos dois principais locais de extração, a Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé, na Costeira, e as prainhas da Mutuca e dos Pescadores, na Tapera, os moluscos estão somente com a casca, e os poucos que são colhidos inteiros estão com o miolo podre.

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Glória Maria Martins, 41 anos, vive somente da extração do molusco, e há cerca de um mês parou a atividade na Tapera:

– Antes eu tirava 30 quilos por dia. Agora não tem mais nada. Parei completamente faz um mês, e estou ajudando outros pescadores pra me virar. Estou desde os oito anos nessa vida e nunca vi assim. Tá uma lama podre, fedida – lamenta.

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Na Costeira, Alcenir Mir da Silva, o Chimbica, e Domingos Lucio, nem vão mais até o ponto de coleta.

– Em janeiro começamos a perceber que estava podre. Aqui a gente faz tudo certo, recolhemos dos bancos A e B, e tem berbigão o ano inteiro. Agora ou vem vazio ou cheio de lama. A gente não sabe mais o que vai fazer, hoje vamos ter uma reunião no ICMBio para falar sobre o assunto – contou Chimbica.

Excesso de chuvas pode ser a causa

A convergência de fatores ambientais é apontada pela Epagri como a causa da mortalidade do molusco. Desde que começaram a receber relatos dos produtores, o órgão começou a investigar. Segundo a oceanógrafa da Epagri, Janaína Bannwart, o berbigão fica enterrada no fundo do mar e está menos sujeito a interferências externas, mas o excesso de chuvas desde o mês de janeiro, principalmente em fevereiro, deixaram a água das baías menos salinizada, o que é ruim para berbigões e mexilhões:

– Foram realizados testes em parceria com a UFSC e não foi encontrada nenhuma doença ou fatores relacionados a algas, por isso a principal hipótese é o excesso de chuva. A tendência é que com a temperatura caindo e a chuvas diminuindo em março os organismo voltem a se recuperar, mas vamos continuar investigando.

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Segundo Alex Alves dos Santos, engenheiro agrônomo da Epagri, em 2011 houve uma situação parecida e Palhoça perdeu 90% da população.

– Pedimos o comparativo para o nosso setor da meteorologia, e em uma semana de fevereiro choveu 65% a mais do que o previsto para o mês inteiro. A temperatura da água também está elevada, por volta dos 32º, quando o comum é cerca de 28º. As descargas elétricas também prejudicam os molusco e até alguns peixes – explicou.

Peixarias aumentaram o preço

No Mercado Público, apenas duas peixarias têm berbigão à venda. Em uma delas é congelado, a na outra o quilo, que costuma custar em torno de R$ 18, está por R$ 32. Diogo Bittencourt, da Pescados Oliveira, diz que está sem receber há cerca de um mês:

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– Pra gente não veio mais, e vejo que quando chega para outras peixarias é bem pouco – comenta.