O 42º boneco do Berbigão do Boca já está quase pronto para a abertura do Carnaval de Rua de Florianópolis, no próximo dia 2 de fevereiro. Tradicionalmente, o bloco homenageia uma figura importante para a cultura da cidade, que morreu nos meses anteriores à folia.

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Neste ano, o escolhido foi Nilton Elizeu da Silva, mais conhecido como Mestre Rato, que comandou baterias de várias escolas de samba da Capital, e também do Berbigão. Ele faleceu em setembro de 2022, aos 84 anos.

— Ele era um ‘ás’ na percussão. Depois, virou chefe de bateria da banda do Berbigão do Boca e tocou o resto da vida conosco, além de ser o batuqueiro principal do Los Angeles Boys, uma banda amadora que tocava em diversas festas — relembra Leonardo Garofallis, o Nado, um dos fundadores do bloco.

— O Rato esteve sempre presente conosco, em todos os desfiles do Berbigão. É uma figura folclórica — explica Alan Cardoso, artista responsável pela construção dos bonecos desde 1995.

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Um pé na eternidade

Os bonecos são uma marca do Berbigão, mas só foram surgir dois anos depois de o bloco começar a desfilar por Florianópolis, em 1993. A inspiração é no Carnaval de Olinda, mais especificamente no bloco Bacalhau do Batata — de onde, aliás, veio também a ideia para o nome Berbigão do Boca, acrescentando referências ao fruto do mar típico de Florianópolis, o berbigão, e a um dos criadores do bloco, Paulo Bastos Abraham, o Boca.

No início, o mote dos bonecos era celebrar figuras importantes para a cultura da cidade, de diferentes épocas. Os primeiros a virarem boneco, por exemplo, foram o Rei Momo Lagartixa, que na época estava vivo, e o músico Luiz Henrique Rosa, que havia morrido dez anos antes.

A tradição de celebrar alguém que faleceu nos meses anteriores ao desfile foi se criando com o tempo. Hoje em dia, a ideia é que, através dos bonecos, a pessoa permaneça na memória da cidade — diferentemente da arte erudita, que circula por museus, cinemas e bibliotecas, a arte popular, da qual o Carnaval é a maior expressão, tem dificuldades de inscrever seus autores na história.

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— É um jeito de trazer de volta um cara que fez alguma coisa legal por Florianópolis. Então quando chega o desfile do Berbigão: (o povo relembra) “Ah, é o Beto Stodieck, o Meyer Filho, o Franklin Cascaes…” São pessoas mitológicas para Florianópolis — diz Alan.

É por isso que os bonecos do Berbigão são chamados também de imortais. Para o futuro, o intuito é que o bloco, considerado patrimônio cultural imaterial de Florianópolis, também se perpetue. De acordo com Alan, o grupo quer construir um museu para exibir os 42 bonecos.

Processo de confecção

No ateliê de Alan, localizado no Morro do Tico-Tico, no Centro de Florianópolis, a versão boneco do Mestre Rato está tomando forma. Falta terminar a pintura, aplicar o cabelo e acrescentar as roupas, feitas “sob medida” por costureiras.

O processo todo costuma levar cerca de 20 dias. Primeiro, o artista molda uma enorme cabeça de barro, de cerca de um metro de comprimento, com as feições do homenageado. A inspiração vem de fotografias que o artista deixa ao lado de sua bancada de trabalho, ou de familiares que fazem uma espécie de consultoria criativa. Depois, a cabeça serve como molde para o boneco, que é feito de fibra de vidro.

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Segundo Alan, há uma “fila” de interessados em virar boneco. Mas no ano que vem, segundo ele, a vaga já está preenchida.

— Todo artista quer fazer o seu autorretrato e, como eu sou bonequeiro, vou fazer o meu boneco. O meu boneco vai ser o único boneco vivo na festa do ano que vem — ri Alan.

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