Um corredor – longo e angustiante – separa os pais Douglas Alexandre de Oliveira e Angelina Helbing da UTI neonatal do Hospital Ruth Cardoso em Balneário Camboriú, onde o bebê Igor, que nasceu na quinta-feira com incompatibilidade sanguínea, está internado. A criança passou por uma transfusão de sangue sexta-feira à tarde, mas ainda corre riscos. Não há previsão de alta e ela deve receber novas transfusões durante a semana.
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O caso, que segundo o hospital é raro de ocorrer, mobilizou toda a comunidade. Até sexta-feira mais de 50 pessoas doaram sangue para a criança, especialmente do tipo O negativo. Conforme a diretora de enfermagem do Ruth Cardoso, Dalni Leontina Pereira, cerca de 9% da população tem esse tipo sanguíneo e há pouquíssimos doadores.
– É raro ver estes casos, acho que faz mais de um ano e meio que não acontece aqui no hospital. Na próxima semana nós vamos continuar com a campanha para que mais pessoas doem sangue para o bebê – reforça.
Choque
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De acordo com o pai do bebê, Douglas Alexandre de Oliveira, descobrir a doença foi um choque para o casal. Quando Igor nasceu, às 8h de quinta, ficou com a mãe durante cerca de 5 horas e após foi levado para a UTI.
– O hospital e a prefeitura mobilizaram vários funcionários para doar sangue e foi muito rápido. Ontem ainda ele fez a transfusão. Não sabemos quanto tempo vai ficar aqui – afirma.
Nascido de parto normal com 3,5 quilos e 52 centímetros, Igor ainda não pode ser tocado pelos pais. Os dois só têm uma hora e meia por dia para ver a criança.
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– Só podemos olhar. Vemos as outras crianças com os pais e nós não podemos tocar nele – desabafa Oliveira.
A mãe Angelina Helbing relata que a situação poderia ser evitada, mas nenhum dos dois médicos que ela consultou orientou sobre os riscos que o bebê corria.
– Até os nove dias de vida ele ainda corre risco. Era uma coisa que poderia ser evitada, mas não foi, nos falaram que quando o bebê nascesse ia ser normal – completa.
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Doença pode causar anemia e sequelas nos bebês
Doença considerada rara, a incompatibilidade sanguínea ou doença hemolítica perinatal ocorre quando há diferença entre o sangue materno e o do bebê. No caso de Igor, a mãe tem sangue negativo e ele herdou o positivo do pai. Nessa situação pode haver uma mistura do sangue da mãe com o do feto, produzindo anticorpos que podem causar anemia, além de riscos sérios de sequelas, complicações graves e até a morte se a doença não for monitorada.
Quando detectada a incompatibilidade é necessário que o recém nascido passe por transfusões nos primeiros dias de vida, quando os anticorpos da mãe ainda circulam pelo sangue. A médica neonatologista, Samira Ayoub, que acompanha o caso de Igor, explica que essa situação só ocorre quando a mãe ficou vulnerável em uma gravidez anterior, que evoluiu ou não.
– Muitas vezes a incompatibilidade passa despercebida, como nos casos de abortamento logo no início da gestação. Essa avaliação é feita através do pré-natal, por isso temos que ressaltar a importância de fazer o acompanhamento – afirma.
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Conforme a professora da Univali e mestre em clínica médica, Daiane Cobianchi da Costa, quando são gerados os anticorpos na mãe, eles atravessam a placenta e destroem as hemácias do feto. Os riscos para o bebê são sequelas principalmente neurológicas.
– Existe ainda a vacina Rogan que é administrada em até 72 horas depois da primeira gestação ou quando é detectada a incompatibilidade – comenta.
Campanha por doação de sangue continua
O caso do bebê Igor sensibilizou a comunidade de Balneário Camboriú e Itapema. Segundo o Hospital Ruth Cardoso, mais de 50 pessoas compareceram para doar sangue ao pequeno, inclusive agentes de trânsito e guardas municipais. Na próxima semana a campanha por doações para o recém-nascido continua.
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O hospital solicita principalmente doadores do sangue do tipo O negativo, mas todos os tipos sanguíneos são aceitos e necessários, pois há carência nos estoques. Os interessados podem agendar a doação no Hospital Ruth Cardoso pelo telefone (47) 3169.3700. Segunda e terça-feira o hospital vai disponibilizar transportes para o hemocentro de Blumenau onde são feitas as doações.
SERVIÇO
O quê: campanha de doação de sangue
Como: agendar doação no Hospital Ruth Cardoso através do telefone (47) 3169-3700
Quando: segunda e terça-feira
Onde: na rua Angelina, s/n, bairro dos Municípios, em Balneário, para transporte ou direto no Hemocentro de Blumenau