A história do pequeno Gabriel não começa da maneira que se deseja a qualquer bebê. Enquanto ele ainda estava no ventre de Bruna Mirela Esteves, com 40 semanas, a gestante sofreu uma parada cardíaca em Blumenau. Assim como aconteceu com a mãe, o frágil coração do menino também parou. Ele foi retirado da barriga às pressas, 30 minutos depois da mulher ficar desacordada. O que era para ser uma fatalidade completa, porém, ganhou uma reviravolta carregada de emoção.
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Bruna não resistiu. O filho, que estava sem batimentos, voltou a respirar. A partir daquele momento, uma nova trajetória entre pai e filho começou a se desenhar.
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Foi na manhã de 23 de abril que Rafael Correa Hostins teve um dos dias mais difíceis da vida dele, relembra. Ao encontrar a companheira Bruna inconsciente, ele não demorou para começar os procedimentos de reanimação na mulher. Fez o possível para não perdê-la, até que os bombeiros chegaram e assumiram o trabalho.
A mulher de apenas 34 anos já não tinha mais pulsação e os profissionais optaram por fazer um parto às pressas para tentar salvar o bebê que estava dentro dela. Por uma cesariana, o pequeno Gabriel veio ao mundo, mas também estava em parada cardíaca. Foram necessárias algumas manobras de reanimação até que a equipe conseguisse o retorno dos batimentos cardíacos do pequeno.
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— Quando ele voltou, os bombeiros até se emocionaram, comemorando o retorno da vida dele — descreve o pai.
À época, o NSC Total chegou a noticiar a vitória da criança e dos socorristas. Gabriel foi encaminhado à UTI do Hospital Santo Antônio, em Blumenau, e o estado de saúde dele era estável. O menino, porém, sofreu uma paralisia cerebral e, hoje, com quatro meses, precisa enfrentar tratamentos e idas frequentes ao médico para avaliação das possíveis sequelas.
A neurologista Infantil Lucia Machado Hertel é quem acompanha o miniguerreiro nessa jornada. De acordo com ela, as consequências da paralisia cerebral só serão percebidas conforme o desenvolvimento da criança, mas que, considerando o tempo em que o menino ficou dentro da barriga da mãe em parada cardíaca, provavelmente ainda serão bem menores do que se esperava para essa situação.
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E, para explicar isso, há um outro super-herói — além dos bombeiros — que também teve um papel essencial nessa vitória.
— O fato de o pai ter mantido a massagem cardíaca da mãe durante meia hora salvou a vida da criança — ressalta a médica.
Fruto de um amor genuíno
Juntos há 18 anos, Bruna e Rafael viveram uma história de amor intensa até a chegada do primeiro filho, Gabriel. Sem muito planejamento, os dois decidiram que queriam ter uma criança e, quando Bruna engravidou, o casal passou a compartilhar do mesmo sonho.
— A gente viveu ótimos 18 anos e os nove meses de gravidez da Bruna foram mágicos — ressalta Rafael.

Ele ainda conta que, durante a gestação, a companheira fazia exames periódicos e nunca teve problemas de saúde. Até que Bruna sofreu a parada cardíaca, dentro da própria casa, e com 40 semanas de gravidez.
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— Ela foi embora nos meus braços — recorda .
Apesar da tristeza causada pela perda inesperada da companheira, Rafael ainda tinha um motivo para seguir em frente. Em meio a todo aquele caos, ele também se tornava pai e precisava honrar o sonho que um dia foi dele e da amada.
O recomeço de pai e filho
Depois que o bebê foi levado ao hospital, Rafael ficou na UTI com o pequeno Gabriel por cerca de um mês. Nesse período, ele ainda recebia o apoio das avós da criança, que também se revezavam para ficar com o menino.
Foi nesse tempo que o pai aprendeu os procedimentos necessários para cuidar do filho. Ainda no hospital, o garoto teve ao menos duas convulsões e só pôde sair com segurança do local após uma traqueostomia — para auxiliar na respiração. Além disso, o bebê também usa uma sonda, já que não consegue fazer a deglutição dos alimentos.

Atualmente, Rafael não trabalha para se dedicar ao filho. Como uma forma de ajudar no tratamento da criança, o irmão dele criou uma rifa em prol do pequeno Gabriel. O primeiro prêmio é uma moto que pertencia ao casal, mas que já seria vendida de qualquer forma para quitar as parcelas da casa comprada há cerca de três anos.
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— A intenção é cuidar dele e garantir a moradia, para não precisar viver de aluguel — comenta.
Os outros quatro prêmios foram doados por pessoas que abraçaram a iniciativa. Cada bilhete custa R$ 15 e pode ser comprado pela chave PIX (47) 988522024 — que é, também, o telefone do WhatsApp de Rafael. Os interessados podem pedir o número do bilhete adquirido mandando uma mensagem para ele. O sorteio ocorre no dia 23 de dezembro pela milhar da Loteria Federal.
É assim, de pouco em pouco, que pai e filho buscam, juntos, por um recomeço. Mesmo com a perda inesperada de Bruna, ela ainda deixou, antes de partir, uma possibilidade para que os dois comecem uma nova jornada com a companhia um do outro e o amor que sempre esteve presente na família.
— Graças a Deus ele ficou aqui para mim. Vou ter uma parte dela aqui comigo.
*Sob supervisão de Bianca Bertoli
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