A única esperança para o joinvilense Henrique dos Santos Delfino, de 11 meses, é um transplante de coração. Há seis meses, os pais Cristiane e Edson vivem uma agonia. Eles passaram a ficar dentro de um hospital desde que descobriram o problema no coração do filho e sabem que a única chance de o menino sobreviver é recebendo um órgão novo. A corrida é contra o tempo.
Continua depois da publicidade
A criança que ria e brincava no hospital quando chegou, depois de ter quatro paradas cardíacas, agora fica apenas deitada. O estado de saúde de Henrique é crítico. Ele está em um quarto isolado onde só entram profissionais e visitantes com luvas, máscara e avental para evitar que alguém contraia o vírus que causou uma infecção respiratória que agravou o quadro de saúde. Entre os períodos de sedação, há minutos em que Henrique acorda. Em um desses momentos ele sorriu para os pais e se moveu como se dissesse que está ali, forte.
— Ele está sedado e entubado porque o coração não aguenta mais ficar acordado. Está muito fraco — conta a mãe Cristiane, que tenta se manter firme diante de tantas incertezas.
Ela repete várias vezes o quanto é lindo o gesto da doação de órgãos e que uma atitude como esta pode salvar a vida de Henrique e de outras pessoas na mesma situação. Os pais iniciaram uma campanha na internet para conscientizar sobre a importância da doação de órgãos.
Com diagnóstico de miocardiopatia dilatada, o chamado coração grande, o filho mais novo de Cristiane e Edson está internado no Complexo Santa Casa de Misericórdia, no Hospital Santo Antônio, em Porto Alegre, há um mês e meio, porque em Santa Catarina não são feitos transplantes pediátricos. O local é um centro de referência para esses tipos de casos.
Continua depois da publicidade
— Toda vez que tentamos tirar a medicação da veia dele, o estado de saúde piora — lamenta a médica Aline Botta, responsável-clínica pelo programa de transplantes pediátricos do hospital.
O coração de que Henrique precisa, além de ser compatível para doação, deve ter o tamanho adequado – de no máximo três vezes o peso do bebê -, o que representa uma criança de dois anos de idade, aproximadamente. Além disso, o coração não pode ter sofrido uma parada cardíaca e precisa estar próximo geograficamente.
— O coração tolera no máximo quatro horas entre retirada do doador e transplante no receptor. Quanto mais tempo passar, mais diminuem as chances de o coração funcionar – explica a médica intensivista.
Henrique é prioridade na lista regional. No Sul do Brasil, se houver um coração nos critérios necessários, o órgão vai para o menino. Se houver um coração compatível mais longe, poderia vir no máximo de São Paulo – por causa do tempo que o órgão suporta. No entanto, a morte encefálica não é uma causa comum de mortes de crianças. As paradas cardíacas são mais frequentes – o que inviabiliza a doação.
Continua depois da publicidade
A descoberta
Com cinco meses, Henrique apresentou sintomas de uma gripe forte e recebeu o diagnóstico de bronquiolite. O quadro foi se agravando e o menino apresentou complicações. Um exame mostrou haver algo errado com o coração dele. A médica intensivista que hoje o acompanha acredita que uma infecção viral tenha causado a dilatação do coração, que cresceu e perdeu a função.
— O médico que nos atendeu em Joinville disse que era grave. Ele nos encaminhou e aqui estamos, à espera de um coração novo ao Henrique — diz a mãe.
– Larguei tudo em Joinville. Eu tinha dois empregos. Só penso que o coração vai chegar e ficar tudo bem – conta o pai do menino, que trabalhava como auxiliar administrativo e motoboy.
Recentemente, Edson buscou a filha mais velha do casal, Heloísa, 5 anos, e devolveu o imóvel alugado onde viviam para ficar com o caçula.
Continua depois da publicidade
Desafio do procedimento em crianças
O coordenador do Centro Estadual de Transplantes de Santa Catarina, Joel de Andrade, explica que não seria prudente realizar transplantes pediátricos no Estado. Como essas cirurgias são raras, é preferível enviar os pacientes para unidades de referência, onde as equipes estão mais especializadas.
No hospital em que Henrique está hoje, em Porto Alegre, desde o ano 2000 foram feitos 20 transplantes de coração em crianças. O Rio Grande do Sul tem cerca de 10 doadores pediátricos por ano. Em SC, no ano passado, foram 282 doadores de órgãos, dos quais oito tinham menos de dez anos.
— É preciso pensar que um gesto de amor e um olhar ao próximo pode salvar vidas — desabafa a mãe de Henrique, que passa os dias no hospital com o filho.
Mais um catarinense no hospital
No Hospital Santo Antônio que está internado o também catarinense Liedson Pimentel Cristaldo, 13 anos, de Caçador. Como Henrique, ele tem o coração grande e precisa de transplante. Ele está há quase dois meses em Porto Alegre.
Continua depois da publicidade
Mesmo que receba alta para aguardar em casa pela cirurgia, precisaria continuar na cidade. Quando houver uma doação tudo preciso ser rápido. Liedson respira com dificuldade. Sente muita dor no corpo todo. Ele não pode sair da cama para nada. Um pequeno esforço poderia ser fatal.
O pai dele, Edson Cristaldo, conta que o filho jogava futebol, era ativo e nunca teve uma doença grave. O pai tem a convicção de que o filho adolescente vai conseguir um coração e se recuperar.