Thalita tem 49 centímetros, pesa menos de 3,5 quilos e ainda nem completou três dias de vida. Mas já é um verdadeiro milagre da medicina: ao nascer com vida, portando uma doença raríssima, já superou centenas de outros casos semelhantes no mundo, em que poucos bebês sequer conseguiram sobreviver.
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A menina, filha de um casal de Palhoça, nasceu com a chamada Ectopia cordis, que, em termos leigos, significa o coração do lado de fora do corpo. A incidência de casos assim é de cinco em um milhão. De tão raro, poucos conseguem resistir: a mortalidade chega a ser superior a 50% dos casos.
Thalita nasceu às 5h de sexta-feira no Hospital de Clínicas de Curitiba (HCC), mas horas depois foi transferida para a UTI do Hospital Pequeno Príncipe, referência no atendimento a crianças e adolescentes na capital paranaense. A mãe, a auxiliar de produção Katiane Dutra Martins Correia Pereira, 24 anos, segue se recuperando da cesariana e, até agora, só conhece a filha pela descrição do marido: as duas ainda não puderam se ver. Katiane deve receber alta no domingo. Já Thalita segue internada pelos próximos 30 dias, no mínimo.
A incerteza de ver a filha nascer com vida acompanhou Katiane e o marido Bruno nos quase nove meses de gravidez. A doença rara foi descoberta logo no terceiro mês de gestação, por meio do pré-natal feito no posto de saúde do Bairro Madri, perto de onde moram. Mesmo assim, Katiane e Bruno jamais deixaram de acreditar. Depois de ficar boa, Thalita deve ser recebida de braços abertos no quartinho cor lilás que o espera em casa.
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– O médico nos deixou bem cientes de que existia o risco do bebê nascer morto. Não era para a gente se iludir muito. Mas tivemos bastante fé e ela agora está aqui – comemora a avó da criança, Sirlei Correia Pereira.
Segundo o cirurgião cardíaco que acompanha o caso, Carlos Alexandre Spera, a menina será submetida a várias cirurgias de correção, mas ainda é cedo para apontar a quantidade: é preciso criar o espaço da cavidade que irá receber o coração e isso nem sempre é obtido em um único procedimento. Agora, a principal luta de Thalita será contra as infecções, a principal causa de morte dos bebês que nascem com o problema.
– O coração não foi feito para sobreviver ao ambiente externo. Mas é possível criar algumas barreiras de proteção, como curativos, membranas e antibióticos. A cada cirurgia, os riscos de infecção aumentam. Mas a correção precisa de tempo. Às vezes conseguimos colocar apenas 10% dele para dentro. Depois, mais 50%. E assim vai. Precisamos criar este espaço e, ao mesmo tempo, abrir folga para o coração trabalhar no ritmo do restante do corpo.
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Mas as expectativas são boas. Em geral, a má-formação do coração vem acompanhada da má-formação de outros órgãos do corpo, principalmente em toda a linha do meio do corpo. A boa notícia de Thalita é que, até agora, os médicos não encontraram outros órgãos nesta situação. E isso é uma vantagem:
– Se o único problema for o coração exposto, o organismo tem muito mais chance de resistir e sobreviver. São menos cirurgias a que ela precisará ser submetida – explica o médico.