Exatamente um ano depois de ter surpreendido o mercado com um corte inesperado no juro, o Banco Central (BC) assume sua orientação: além de controlar a inflação, está de olho no crescimento. O claro recado veio na justificativa dada na noite de quarta-feira para a nona redução seguida do juro, de 8% para 7,5% ao ano.
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Mesmo na linguagem hermética do Comitê de Política Monetária (Copom), a inflação deu lugar à atividade econômica: “Considerando os efeitos cumulativos e defasados das ações de política implementadas até o momento, que em parte se refletem na recuperação em curso da atividade econômica, o Copom entende que, se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movimento deverá ser conduzido com máxima parcimônia.”
O mandato explícito do BC é apenas conter a inflação. A meta é segurar a alta dos preços em 6,5% ao ano, no máximo, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mesmo diante do risco de elevação de custos, a decisão foi aprofundar os cortes que marcaram a primeira virada na orientação econômica do governo. Mas uma ajuda veio antes do anúncio: ao prorrogar a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros, eletrodomésticos, móveis e materiais de construção, o Ministério da Fazenda evita a pressão de alta desses produtos, que, caso contrário, teriam preços elevados.
Para sexta-feira, quando será divulgado o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro semestre, analistas apostam em recuperação tímida. Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, o ambiente mudou, e o BC se adaptou para acompanhar a maior incerteza:
– O cenário é difícil de ser compreendido e está muito instável. Essa instabilidade faz com que o BC tenha de ser mais flexível e trabalhar com inflação um pouco acima da meta para fomentar o crescimento.
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Julio Sergio Gomes de Almeida, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, avalia que o BC segue focado no controle da inflação.
– O cenário de desaceleração segura um pouco a inflação. A alta nos preços de hoje é resultante de um choque de oferta externo, que não é impactado pelo juro – diz o economista, lembrando que soja e trigo subiram com a seca nos EUA e pressionam o preço dos alimentos no Brasil.
Há poucos dias, o presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou que resultados recentes comprovam que os incentivos do governo começaram a surtir efeito. O governo pode apresentar juros reais – descontada a inflação futura – de 1,98% ao ano. Ainda altos para os padrões internacionais, são os menores em três décadas.