É do bloco mais antigo mais antigo do Carnaval de Florianópolis que surge um dos recados mais importantes para a festa desse ano. — Que as crianças voltem a brincar na Praça XV, que as famílias voltem a curtir o Carnaval de rua — pede o presidente Marcos Antônio Silveira, o Marquinho do Cavaco. O grupo desfila todos os dias de Carnaval e faz o primeiro desfile nesta sexta-feira (21).
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Há 51 anos desfilando na capital catarinense, o bloco tem a missão de manter a celebração da alegria, do respeito e da paixão pela festa popular. Tudo começou em fevereiro de 1969. Época dura, amarga, de repressão militar. Tempo em que brincar o Carnaval poderia ser um dos únicos momentos de festa para muitas pessoas. Nesse ambiente, o Batuqueiros do Limão desenhou o começo da sua história. Não por coincidência, a trajetória dos foliões é marcada pela resistência para seguir desfilando.
— Todo ano a gente vai atrás de dinheiro para conseguir manter os instrumentos, manter o bloco. Por isso, se não fosse não fosse os patrocínios, não teríamos como manter. Os nossos batuqueiros não recebem nada, é tudo pelo amor ao Carnaval em sua verdadeira essência — afirma Marquinho.
Mas, engana-se quem pensa que essa luta fez o bloco perder força. Nas cinco décadas de história, o número de foliões só aumenta. Hoje, cerca de 300 pessoas saem no bloco durante os 5 dias da festa. A equipe de batuqueiros e batuqueiras é composta de 100 músicos. Como o bloco desfile em todos os fias de Carnaval, há um rodízio para que ninguém fica de fora e para que todo mundo possa ter um pouco de descanso durante a folia.
O que cresceu também foi o espaço destinado aos ensaios. O terreno da casa de um dos fundadores — o Osvaldo Oliveira, conhecido como Vadicão — ficou pequeno e foi necessário criar uma sede, na rua Júlia da Costa, 264. Mas, as lembranças dos primeiros ensaios ainda estão vivas na memória de Marquinhos, filho de Vadicão. — Meu pai era um líder nato, por isso lembro bem das reuniões lá em casa. Começou lá, no pátio de caso, e está aí até hoje — relembra.
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História de amor pelo bairro Saco dos Limões
Durante toda a história do grupo, o que permanece igual é o espírito de amor ao bairro Saco dos Limões. Mesmo que alguns participantes não morem mais por lá, a região é o ponto de encontro e recordação de muitos dos foliões que nasceram, cresceram e criaram família. Marquinhos conta que além de ser o momento de festa, o Carnaval é aguardado para que haja este reencontro de velhas amizades.
Mulheres ainda mais presentes
No começo do bloco, eram os homens que comandavam o Batuqueiros do Limão. As esposas e filhas, ficavam em casas, sem brincar a folia. Aos poucos, as mulheres começaram a ficar mais presentes nos ensaios e hoje, estão ao lado dos integrantes para lutar por igualdade. Sinal da evolução do bloco mais antigo de Florianópolis e, de certo modo, da cultura carnavalesca.
Um exemplo do crescimento da participação feminina é o de Nadir Bratz, de 59 anos. Tudo iniciou quando ela conheceu o marido, que já era batuqueiro. Entre um desfile e outro, colocou em prática os ensinamentos das fanfarras do colégio e começou a tocar no bloco.
Nascida em Presidente Getúlio, no Alto Vale do Itajaí, Nadir mudou-se há 29 anos para Florianópolis. Desde então, confirma presença em todos os desfiles do Batuqueiros do Limão. — É o momento que a gente tem de se divertir, de brincar, por isso eu gosto — comenta.
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Sobre a presença de mulheres no bloco, ela ainda comenta o respeito dos integrantes. — Não é não, realmente. Eu sempre fui “metida” e nunca fiquei quieta quando não gostei de alguma coisa, mas estou gostando de ver todo mundo fazendo o mesmo — diz. E mesmo sem ter presenciado episódios de assédio no Carnaval de rua, ela afirma estar gostando de ver adolescentes e mulheres empoderando-se nos desfiles.

Estandarte inédito em 2020
Ao buscar o estandarte do bloco no depósito durante a semana pré-carnaval, a direção deparou-se com o sumiço do símbolo maior do Batuqueiros do Limão. Na correria para deixar tudo pronto, a camiseta deste ano chegou a ser cogitada como uma “substituta”. Porém, foi Nadir que sugeriu a ideia “salvadora”.
— Eu dei a ideia de pegar a camiseta e usar o tecido como estandarte. Todo mundo gostou e acabou sendo a minha primeira grande contribuição — conta a batuqueira. Costureira, Nadir juntou duas partes da camiseta e acrescentou detalhes verdes para compor a obra. Com isso, depois de 51 anos, o Batuqueiros do Limão segue inovando e apresenta neste ano um estandarte inédito aos foliões.