Desfile da Independência em Florianópolis. Em meio a centenas de militares de uniformes camuflados e fuzis modernos, um grupo azul-marinho e amarelo se destaca pela pompa. É o 63º Batalhão de Infantaria, com sede no bairro Estreito, região continental da Capital. O traje é uma das heranças da unidade militar trazida pela Corte Portuguesa ao Sul do Brasil ainda no século 18, durante as disputas na região do rio do Prata, no Uruguai.

Continua depois da publicidade

A trajetória do batalhão se confunde com a história militar brasileira. A chegada da unidade ao Rio de Janeiro em 1793 abriu espaço para a vinda da família real 15 anos depois.

– É por isso que temos 1793 como adata de nossa fundação: não o ano em que a unidade foi criada em Portugal, mas sim quando ela virou oficialmente brasileira – explica o comandante e tenente-coronel Wagner Alves de Oliveira.

Durante os próximos séculos, a unidade seria rebatizada e deslocada pelo menos sete vezes – Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Ponta Grossa -, mas é em 1917 que chega a SC e, quase seis décadas mais tarde, ganha o nome atual. Hoje, com cerca de 600 homens em serviço, o batalhão recebe 200 novos recrutas a cada ano.

Continua depois da publicidade

Para recuperar a trajetória histórica do batalhão, os militares dispõem de 150 uniformes cerimoniais que simulam o traje do exército português do século 18. A roupa é utilizada apenas por integrantes da unidade e pela banda militar em eventos como desfiles de 7 de Setembro, visitas de autoridades ao batalhão e formaturas.

Batalhão dispõe de 150 uniformes cerimoniais inspirados no exército português do século 18. Crédito: Alvarélio Kurossu/Agência RBS

A mudança para Florianópolis se encaixou perfeitamente na história do batalhão: o tenente-coronel Oliveira explica que, sendo esta a região mais lusitana do Estado, até o nome dos recrutas acaba puxando para a herança portuguesa:

Continua depois da publicidade

– Vários que servem aqui são nascidos na Grande Florianópolis, e por isso a maioria dos soldados tem sobrenomes de origem portuguesa.

Herança portuguesa, patrono ilhéu

Em 1986, quando a unidade buscava um patrono para dar um nome histórico ao batalhão, um nome se destacou imediatamente: o do coronel Fernando Machado de Sousa, nascido em 1822 na antiga Desterro e morto em combate na Batalha de Itororó, na Guerra do Paraguai.

A praça que carrega os restos do extinto Miramar – uma das mais movimentadas do centro da Capital, considerada o “marco zero” da cidade – foi nomeada a partir do militar, além de ganhar uma estátua do próprio. A rua onde ele teria nascido, na mesma região, também foi batizada como Fernando Machado.

Continua depois da publicidade

Praça Fernando Machado, no centro da Capital, exibe busto do patrono do batalhão do Estreito, nascido na antiga Desterro. Crédito: Maurício Vieira/Agência RBS, BD 29/7/08

– Foi muito fácil escolher o patrono do batalhão. O coronel é visto como o maior herói militar catarinense – explica o comandante Wagner de Oliveira.

O papel de Fernando Machado na história militar catarinense é tão relevante que o 63º B.I. está buscando formas de recuperar os restos mortais do patrono, enterrado em 1868 no Rio de Janeiro. A intenção seria criar um memorial ao militar, junto ao busto erguido no pátio do batalhão.

Continua depois da publicidade