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(Foto: Zachary C. Bako / The New York Times )

*Por Keith Bradsher

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Xangai – Transferências bancárias de US$ 1 milhão para estranhos. Rumores de suprimentos escondidos em armazéns. Negociadores tentando convencer reguladores e autoridades da alfândega a deixar o carregamento precioso passar.

O desespero global para proteger os trabalhadores médicos na linha de frente que lutam contra a epidemia de coronavírus estimulou uma luta internacional louca por máscaras e outros equipamentos de proteção. Governos, cadeias hospitalares, clínicas e empresários vasculham o mundo em busca de equipamentos de proteção individual que possam comprar ou vender – e um novo tipo de comerciante surgiu para fazer isso se realizar.

O mercado se tornou uma série de negócios feitos às pressas em bares, ligações repentinas para pilotos de jatos corporativos e transferências bancárias rápidas entre contas em Hong Kong, nos Estados Unidos, na Europa e no Caribe.

Há muito dinheiro em jogo e os preços são altos. Os custos por atacado de respiradores N95, um tipo crucial de máscara para proteger os trabalhadores médicos, quintuplicaram. As taxas de transporte aéreo através do Pacífico triplicaram.

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"É um vale-tudo global. E os preços refletem isso", disse Eric Jantzen, vice-presidente para a América do Norte da Vertis Aviation, corretora de aeronaves e carga aérea com sede em Zurique.

Há cada vez mais obstáculos. Após reclamações da Europa sobre máscaras chinesas de má qualidade e kits de teste ineficazes, o Ministério do Comércio da China ordenou que os fabricantes fornecessem mais garantias de que seus produtos cumpriam as normas.

Líderes mundiais estão se movendo para obter suprimentos, mas ainda estão lutando com a grande dimensão do problema. A Casa Branca anunciou que organizou 22 voos para o transporte aéreo de equipamentos de proteção individual. Eles visam reabastecer hospitais que ficariam sem esses itens em 72 horas, informou Gregory Forrester, executivo-chefe das Organizações Voluntárias Nacionais Ativas em Desastres, grupo que trabalha com autoridades federais e estaduais dos EUA.

"Se algum desses aviões não decolar, isso será um problema", disse Forrester.

A China absorveu uma grande parte dos suprimentos globais depois que o surto surgiu em janeiro. O país importou dois bilhões de máscaras em um período de cinco semanas desde então, de acordo com dados alfandegários chineses, aproximadamente o equivalente a dois meses e meio de produção global. Também importou 400 milhões de peças de outros equipamentos de proteção, desde óculos médicos até macacões para perigo biológico.

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Agora, a China se tornou uma parte importante da solução. Já um gigante na fabricação de máscaras, ela aumentou a produção para quase 12 vezes seu nível anterior de dez milhões por dia. Foi um grande esforço de mobilização que envolveu a reformulação das rotas de trens de carga e o envio de um grande número de trabalhadores a todo o país em ônibus lacrados.

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(Foto: Zachary C. Bako / The New York Times )

O governo chinês tem encorajado acordos globais, mas comprar e vender máscaras não é tarefa fácil. Os comerciantes, alguns deles há apenas algumas semanas nessa carreira instável, enfrentam confusões, tentativas de fraude, leis aduaneiras bizantinas e outras barreiras.

Muitos dizem que vendem diretamente para hospitais e para outros que precisam do equipamento, não para especuladores. Altruísmo à parte, os hospitais também têm menor propensão à inadimplência dos pagamentos e sabem precisamente os itens que são necessários.

"Fica muito mais fácil quando você lida com os profissionais de compras, porque eles sabem exatamente do que precisam", explicou Blake Noah, consultor de artes de bancos privados que agora organiza carregamentos de máscaras em Xangai.

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Algumas empresas chinesas dizem que estão prontas para vender máscaras globalmente. A Henan Doria Mechanical Equipment, uma empresa em Zhengzhou que já produziu guindastes elétricos, se reinventou como fabricante de respiradores N95 e diz aos comerciantes que consegue entregar pedidos de até dois milhões de máscaras em quinze dias.

Uma vez que as máscaras são encontradas, elas têm de ser transportadas. O cancelamento de quase todos os voos internacionais de passageiros na China para retardar a propagação do vírus dificultou o rápido transporte de mercadorias. Metade da carga aérea do mundo era levada em aviões de passageiros.

Jason Yuan, gerente de uma empresa comercial estatal em Pequim, disse que enviou pequenas amostras de respiradores N95 para a Europa, o Camboja, as Filipinas e os Estados Unidos.

"Nos outros países, os pacotes chegaram, mas, no caso dos EUA, ainda está em Hong Kong", informou ele.

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Zhang Qing, alta reguladora da aviação chinesa, disse que o governo da China está facilitando a entrada e saída de aviões de carga no país. As companhias aéreas estão operando aeronaves de passageiros como cargueiros, contou ela.

Mas a China quer que os Estados Unidos forneçam os aviões para quaisquer carregamentos em larga escala de equipamentos de proteção individual. Ren Hong, inspetora de desenvolvimento de infraestrutura da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, disse que a China tinha apenas 173 cargueiros aéreos, enquanto os Estados Unidos tinham mais de 550. "O desenvolvimento de aviões de carga na China está apenas no estágio inicial", afirmou ela.

Regulamentos podem causar confusão. Por exemplo, os importadores ainda estão analisando as mudanças nas regulamentações dos EUA em relação aos respiradores projetados para uso na China.

Fredrik Barner, agente de carga de Xangai, disse que se recusou a providenciar o transporte para uma carga de respiradores porque o comprador americano não tinha uma licença da Administração de Alimentos e Drogas (FDA) para importar suprimentos médicos. Ele mudou de atitude depois de saber que a carga envolvia um respirador de grau industrial que a administração agora permite que seja importado, na maioria dos casos, sem licença.

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O transporte de respiradores ou máscaras, afirmou Barner, é "mais complicado do que o de autopeças".

Embora muitos hospitais nos Estados Unidos estejam desesperados por máscaras, vender para eles nem sempre é fácil.

Os negócios pararam porque os hospitais, acostumados a pagar por suprimentos depois que estes chegam às docas de carga, recusaram os termos rígidos que agora são exigidos pelas fábricas, relataram os comerciantes de máscaras. Eles também temem fraudes.

Segundo Michael Crotty, fundador e presidente da Golden Pacific Fashion & Design em Xangai, empresa que anteriormente fabricava cortinas, os produtores de respiradores N95 e máscaras cirúrgicas agora insistem que as encomendas só são feitas com uma entrada de 50 por cento, com o resto sendo pago antes que as máscaras saiam pelo portão da fábrica.

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As fábricas, às vezes, entregam pedidos fora de sequência, movendo os clientes que pagam melhor para a frente da fila, acrescentou.

"É um mercado de vendedores. Você não vê isso com muita frequência", disse Crotty.

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