Nova York, primavera de 1851. O escritor Herman Melville escreve “Moby Dick”, romance considerado tesouro da literatura, enquanto sente-se pressionado pela sociedade de então, que fadava ao fracasso todos os seus escritos – destino que o próprio “Moby Dick” encontraria nos primeiros anos de sua publicação.
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Diz-se que foi aí que a angústia inspirou Melville a criar Bartleby, o estranho protagonista do conto “Bartleby, o Escrivão”, história que a companhia Núcleo Caixa Preta, de São Paulo, traz a Joinville nesta quarta e quinta-feiras com apresentações gratuitas no Galpão de Teatro da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote).
Sucesso de crítica, com duas indicações ao prêmio Shell 2008, o espetáculo é um projeto da atriz mineira Cácia Goulart que, apaixonada pelo conto de Melville, decidiu montar uma peça teatral baseada na intrigante trajetória de Bartleby. Ela mesma interpreta o personagem, na adaptação feita pelo dramaturgo espanhol José Sanches Sinisterra, ao lado de Rodrigo Gaion, intérprete do advogado-narrador.
É ele quem comanda a peça ao relatar como conheceu o escrivão, que chega a seu escritório atraído por um anúncio. O advogado está desesperado por um novo profissional, já que os dois escrivãos – que na peça não aparecem fisicamente – que já trabalham para ele se dividem entre “o irritado” e “o que bebe em serviço”.
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Bartebly parece ser, a princípio, o funcionário perfeito: é calmo e faz seu trabalho corretamente. Um dia, no entanto, utiliza-se do livre arbítrio para se recusar a fazer uma atividade. “Prefiro não”, diz ele, e é atendido pelo empregador. É o estopim para que as negativas do escrivão comecem a crescer ao ponto de ele negar-se a fazer o próprio trabalho, ainda que continue no escritório todos os dias, mesmo sem cumprir nenhuma de suas obrigações.
O espetáculo é uma tragicomédia que brinca com a agonia do público. Por isso mesmo, a adaptação de Sinisterra optou por tirar de cena os personagens secundário e focar no jogo cênico entre Bartebly e o patrão, já que o último passa de um homem compreensivo para um espectador curioso, até se transformar em uma espécie de escravo do funcionário que esgota todos os seus apelos.
Bartebly não protesta nem é agressivo, ele apenas continua dizendo seu afável e educado “prefiro não” à tudo aquilo que o senso comum é acostumado a aceitar – mesmo quando preferia não. A peça é dirigida por Joaquim Goulart, irmão da protagonista que, apesar de não compartilhar do mesmo sexo que o personagem, convence tanto no papel de Batleby que foi indicada ao Shell de melhor atriz. “Bartleby” foi selecionado pela Funarte no Edital Prêmio Procultura de estímulo ao Circo, Dança e Teatro 2010, possibilitando a circulação da peça pelo Brasil.
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AGENDE-SE
O QUÊ: Bartleby, da Núcleo Caixa Preta, de São Paulo.
QUANDO: 20 e 21 de junho, às 20 horas.
ONDE: Galpão de Teatro da Ajote, na Cidadela Cultural Antarctica, 1.383, América, Joinville.
QUANTO: gratuito, com entradas disponíveis uma hora antes do evento, na bilheteria do teatro.
INDICAÇÃO ETÁRIA: a partir de 14 anos.