O silêncio que toma conta das entranhas do Vale do Itajaí no município de Botuverá, quebrado apenas pelo som da correnteza do rio Itajaí-Mirim e dos pássaros, será interrompido pelo barulho de máquinas e trabalhadores. A Defesa Civil do Estado planeja começar até o final do primeiro semestre deste ano a construção da barragem que promete acabar com as grandes enchentes que atingem principalmente as cidades de Brusque e Itajaí – localizadas no curso e na foz do Itajaí-Mirim, respectivamente. A obra é mais uma do pacote de ações prevista no Pacto pela Defesa Civil para prevenir tragédias climáticas e tem previsão de dois anos e meio para ser concluída.
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>> Confira no vídeo onde será construída a barragem
Uma audiência pública foi promovida quarta-feira em Botuverá, a quilômetros de Brusque, para tirar dúvidas, explicar o projeto e apresentar o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) produzido pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma) desde 2013 e concluído no fim do ano passado.
Uma das principais preocupações é a influência da obra no Parque Nacional da Serra do Itajaí. Conforme o estudo, a área de inserção da barragem coincide com a borda sul do parque. O reservatório projetado atinge pequenos pontos do parque, a maioria localizado na área de amortecimento da reserva. Com isso, o relatório aponta impactos nos meios físico, biológico e na população da área e determina a implantação de 20 programas ambientais para impedir, diminuir ou compensar as alterações.
Na área de represamento, que fica depois de onde será a barragem, cerca de 40 desapropriações serão feitas, 15 na área de alagamento da barragem. O empresário Maurício Ricardo Kalvelage, sócio de uma fábrica de bebidas na Estrada Geral Areia Baixa, ainda tem dúvidas se a fábrica poderá permanecer no local.
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– Vieram aqui e falaram que faltava uma medição precisa para saber se nós podíamos ficar ou não, se o alagamento ia pegar aqui. Pelo mapeamento que mostraram, estamos no limite, pro isso não sabemos (se vai ficar). Não gostaríamos de sair, a nossa alma está aqui, os nossos produtos nascem da vivência nesse lugar, mas sabemos que se tivermos que sair é para um bem maior – afirma.
Benefícios
Para o prefeito de Botuverá, José Luiz Colombi, os benefícios da construção da barragem vão compensar o impacto que a obra vai causar, tanto no meio ambiente quanto na população. Ele afirma também que a prefeitura acompanhou o desenvolvimento do projeto, conhece os estudos de impacto ambiental e não houve discordâncias com relação à estrutura:
– Esta não é uma obra prioritária para Botuverá, mas vamos ceder este espaço para diminuir os prejuízos das pessoas de outras cidades que são muito mais atingidas do que nós.
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Botuverá tem cerca de 70% de sua área preservada por mata nativa e a área urbana que concentra a maioria dos 4,8 mil cidadãos está afastada do leito do rio, o que protege a cidade de tragédias climáticas. Mesmo assim, a cidade está localizada em um ponto-chave para a prevenção por estar acima de Brusque e Itajaí e, de acordo com o secretário de Defesa Civil Milton Hobus, será beneficiada com as múltiplas funções da barragem.
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Ele explica que a estrutura, que terá 40 metros de altura, além de conter e armazenar cerca de 20 milhões de metros cúbicos de água será capaz de produzir 1,5 megawatt de energia, o que será suficiente para abastecer e corrigir a deficiência energética da cidade de Botuverá, e de armazenar a produzir água potável para Brusque, Guabiruba, Itajaí e, possivelmente, Balneário Camboriú, pelos próximos 30 anos, já considerando a média de crescimento das cidades.
– A missão primeira da barragem é eliminar as grandes inundações a jusante (no sentido do curso do rio), mas temos que analisar todas as possibilidades, por isso a importância dessa estrutura para a economia e o desenvolvimento local – analisa Hobbus.