Anos de estrada, clientela cativa e o nome gravado na memória do consumidor são ativos importantes para qualquer tipo de negócio, mas nem sempre suficientes para garantir a própria sobrevivência em momentos de crise. Além de inúmeras vidas humanas, a pandemia do coronavírus deixou pelo caminho estabelecimentos tradicionais em muitas cidades, que não resistiram e acabaram sucumbindo diante da realidade transformada pela Covid-19. Alguns acabaram por fechar as portas, outros seguem na batalha e buscam alternativas para continuar.

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Diego Alves Rita lutou para manter o negócio, conforme as possibilidades, em meio à pandemia. O mixologista é sócio e proprietário do Franklin Bar, localizado no Centro de Florianópolis, ele conta que o desejo de valorizar a cultura manezinha através de bebidas e drinks vai precisar esperar mais um pouco para voltar a ser realizado.

— Abrimos em 2019 e o crescimento era constante, estávamos agregando públicos e até pensamos em ampliar o espaço, porque estávamos ficando lotados frequentemente. O Centro estava ficando cada vez mais cheio e a tendência dos bares estava aumentando. Mas aí veio a pandemia e acabou qualquer chance de previsibilidade. Mudou tudo, completamente – avalia.

Durante o ano, Diego foi se virando para conseguir manter as contas em dia mesmo com o negócio parado. Deu férias coletivas para a equipe, suspendeu contratos, pegou empréstimos, e adotou a redução de jornada e salários. Sem poder funcionar como gostaria, chegou a oferecer aulas de coquetelarias no jardim de casa para tentar manter o contato com os clientes e fez drinks para retirada no local.

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— Pagar as contas era o mais difícil, pensamos “o que vamos fazer”. Era um prejuízo de R$ 10 mil a 12 mil por mês. Os decretos limitavam muito, a população também ainda estava assustada, e temos uma rigidez nas leis trabalhistas. Baixei todos os custos que consegui, mas o custo de folha não baixou o suficiente. Além disso, tem também o lance da experiência de bar. Ir para o bar é uma experiência social, não é só pelo drink. Então, mesmo com as aulas, com a opção para retirada no balcão, foi horrível – comenta Diego.

A solução encontrada pelo empresário foi fechar temporariamente o bar.

— Foi uma decisão fria, de negócio. Ninguém quer fechar, fica todo mundo na esperança que vá melhorar e ter fé. Então, na primeira semana de fevereiro fiz esse anúncio, convidando para o último mês do Franklin. Consegui fazer essa despedida pouco antes de a nova onda vir com tudo e a gente ter novos decretos. A princípio, a suspensão é de seis meses com previsão de reabertura em setembro. Então, dispensei toda a equipe e consegui fazer um acordo de aluguel pela metade do preço – explica o empresário.

Perda de 30% dos postos de trabalho no setor gastronômico em Blumenau

Quem não jogou a toalha precisou encontrar uma maneira de enxugar custos e se adaptar a uma demanda menor. O Restaurante Saint Peter, também um dos mais tradicionais e populares de Blumenau, decidiu trocar de endereço após 16 anos. Saiu da Rua Theodoro Holtrup para se instalar em um salão anexo ao Lira Circolo Italiano, no mesmo bairro Vila Nova.

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No novo local, os sócios pagarão um aluguel mais em conta do que no antigo ponto. É uma despesa fixa que pesou mais com a queda no movimento. Eram cerca de 650 almoços servidos por dia antes da pandemia. Agora, são em torno de 400.

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Fora os estabelecimentos que fecharam, o setor gastronômico de Blumenau calcula perda de cerca de 30% dos postos de trabalho desde o início da pandemia. A estimativa é feita com base nos 200 estabelecimentos ligados à Associação Blumenau Gastronômico, que representa o segmento.

Em números absolutos, são de 900 a mil empregos a menos apenas entre esse grupo, diz o presidente da entidade, Jonathan Benkendorff. O impacto real que fica hoje e que será lembrado daqui para frente, no entanto, é bem maior.

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