Dois barcos infláveis do Greenpeace atravessaram Moscou nesta quarta-feira, passando em frente ao Kremlin para exigir a libertação dos 30 membros da tripulação do Arctic Sunrise presos, entre eles a brasileira Ana Paula Maciel, desde setembro, depois de uma ação no Ártico.
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“Liberdade aos 30 do Ártico!”, podia ser lido nas bandeiras amarelas agitadas por ativistas da ONG, cujos barcos infláveis nas cores laranja e preto passaram em frente a residência oficial do presidente russo, Vladimir Putin, após um tour pela capital.
“Apelamos a todos aqueles que não são indiferentes sobre o destino dos prisioneiros (…) que exijam a libertação imediata”, declarou a filial russa do Greenpeace em um comunicado.
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Trinta membros da tripulação do navio do Greenpeace Arctic Sunrise – de 18 países diferentes – foram detidos em setembro e presos em Murmansk, no noroeste da Rússia, depois de alguns entre eles tentarem escalar uma plataforma da Gazprom no Mar de Barents para denunciar os riscos ecológicos da extração de petróleo na região.
Eles foram acusados inicialmente de “pirataria” , um crime punível com 15 anos de prisão. O Comitê de Investigação da Rússia anunciou que 23 de outubro que substituiria essas acusações por a de “vandalismo” , punível com sete anos de prisão.
O Greenpeace anunciou na semana passada, que os 30 presos estavam sendo transferidos para uma prisão em São Petersburgo, segunda maior cidade da Rússia. Essa transferência ainda não foi realizada, segundo o advogado do Greenpeace à agência Ria Novosti na terça-feira.
Em carta enviada para a família e para a imprensa, Ana Paula defendeu o “protesto pacífico” que seu grupo realizava no “amado navio Arctic Sunrise”.
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“Depois de dois dias em uma cadeia, três em outra, agora estou sentada em minha cela na penitenciária para onde nos trouxeram dia 29 de setembro”, contou.
Leia a íntegra da carta de Ana Paula:
Queridos leitores,
Me chamo Ana Paula e sou uma dos 30 ativistas presos aqui na Rússia. Hoje faz um mês que nos retiraram de nosso amado navio Arctic Sunrise e, depois de dois dias em uma cadeia, três em outra, agora estou sentada em minha cela na penitenciária para onde nos trouxeram dia 29 de setembro. Tudo isso depois de um protesto pacífico onde queríamos chamar a atenção do mundo sobre os perigos de danos ambientais ao perfurar em busca de petróleo no Ártico.
Neste mês em que nossas vidas pararam, aqui sozinhos, tive tempo pra parar e pensar e lhes pergunto, caros leitores: quantos produtos derivados de petróleo você usou nesses último mês? Derivados de petróleo são usados para fabricar muitas coisas e, sendo “coisas” consumíveis, sofrem sob o efeito “oferta e demanda” que as pessoas ávidas pelo consumo compram, utilizam e descartam com uma rapidez sem precedentes nos dias de hoje.
Nosso planeta, que chamamos de casa, o único que conhecemos com vida, está em crise e precisamos fazer algo individualmente, todos os dias. Creio que não estariam indo procurar petróleo no Ártico se não houvesse quem o utilizasse. Se fôssemos mais preocupados em ser do que em ter, usaríamos menos petróleo, a natureza estaria correndo menores riscos, os protestos pacíficos não seriam necessários, eu não estaria presa injustamente…
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Nem tenho palavras para agradecer a todas as pessoas que se importam e que clamam por nossa liberdade. Gostaria de agradecer especialmente o apoio do governo e do povo brasileiro que têm se mostrado incansáveis em seu suporte pela minha liberdade. Clara Solon, da embaixada do Brasil na Rússia, é quase uma segunda mãe para mim. Tem sido impecável em suas visitas, presença na Corte, apoio psicológico e em tudo o que está ao seu alcance.
Gostaria de fazer um apelo ao mundo e aos que se importam: Salvem o Ártico! Consumam menos para ser mais, usem sacolas reutilizáveis, apaguem as luzes ao não usá-las, procurem produtos com menos embalagem, usem mais as pernas e menos os carros. Você não é o seu telefone celular, ele não diz nada sobre suas virtudes, você não precisa do último modelo. Separe o lixo, recicle, conserte o que quebrar em vez de comprar uma coisa nova, informe-se. Existem tantas mil pequenas ações que podem ser feitas todos os dias para salvar o Ártico, a Amazônia, os recifes de corais e todo o resto. Basta escolhermos bem o que comprar. Nós todos e cada um de nós somos responsáveis pela mudança!
Prometa que vai tentar. Assim, eu vou saber que esse mês presa não foi em vão.
Com amor,
Ana.