O primeiro barco que em meio século transporta carga humanitária e encomendas de Miami (Estados Unidos) a Cuba chegou nesta sexta-feira ao porto de Havana, após uma travessia que durou 24 horas adicionais por problemas de burocracia, comprovaram jornalistas da AFP.

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O barco “Ana Cecilia”, que era esperado na quinta-feira em Havana, entrou às 07h06min locais (08h06min de Brasília), pouco depois do amanhecer, no canal da baía de Havana para atracar no cais de contêineres e retirar sua carga.

A demora foi causada por problemas nos trâmites administrativos, disse a empresa proprietária da embarcação, International Port Corp., que negou obstáculos do tipo político no início deste histórico serviço marítimo entre dois países distanciados por causas políticas há meio século.

– O problema foi um problema de burocracia (…) e, em essência, foi culpa nossa porque preenchemos o formulário incorretamente – disse de Miami o porta-voz da companhia, Leonardo Sánchez-Adega.

Esta é a primeira vez em décadas que uma companhia inicia um serviço semanal regular de Miami a Cuba.

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Para não violar o embargo americano à ilha, em vigor desde 1962, a empresa pretende atender a demanda de grupos religiosos, organizações não governamentais e instituições beneficentes autorizadas a enviar carregamentos humanitários a Cuba.

– Mas também temos como clientes familiares de pessoas em Cuba – esclareceu Sánchez-Adega.

Em sua primeira viagem, o barco transportou carga humanitária, encomendas de parentes, que consistem de alimentos, remédios e roupas. A carga maior é um colchão ortopédico e uma cadeira de rodas para pessoas com deficiências físicas, informou Sánchez-Adega

O presidente Barack Obama flexibilizou o envio de remessas de dinheiro e viagens de cubano-americanos à ilha, assim como os intercâmbios acadêmicos, esportivos, religiosos e culturais, desde que chegou à Casa Branca em janeiro de 2009.

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A filha do presidente cubano Raúl Castro, a sexóloga Mariela Castro, por exemplo, obteve visto americano e foi em maio a um congresso em San Francisco), o que enfureceu os políticos cubano-americanos e ocasionou críticas do candidato presidencial republicano, Mitt Romney.

No entanto, as relações de Obama com Havana têm sido tensas desde a prisão, em dezembro de 2009, do americano Alan Gross, condenado a 15 anos de prisão sob acusação de atentar contra a segurança do Estado cubano, por introduzir sofisticados equipamentos de comunicação na ilha.

A resposta da comunidade cubana nos Estados Unidos a este inédito serviço de entregas foi positiva, segundo o International Port Corp.

O economista opositor Oscar Espinosa Chepe elogiou o serviço:

– Aplaudo esta iniciativa e, tomara, se siga por este caminho de normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos.

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Apesar do embargo, os Estados Unidos são o sétimo sócio comercial de Cuba, com um intercâmbio de 400 milhões de dólares em 2010, última cifra disponível.

No sul da Flórida, estado em que se encontra Miami, vive a maioria dos 1,2 milhão de cubanos emigrados da ilha comunista.