A contadora de histórias gesticula, quase teatral, para mais de 20 crianças entre três e quatro anos. Todas atentas ao conto. O ambiente para este tipo de atividade é um dos mais propícios da ilha da magia. Um espaço colorido, com almofadas espalhadas pelo chão e com estantes de livros por todos os cantos. E não são poucos: o acervo conta com mais de 15 mil publicações, somente infanto-juvenil – o maior de Santa Catarina. Essa é Barca dos Livros, que fica na Lagoa da Conceição, em Florianópolis.

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Vencedora de prêmios importantes na área da cultura e do estímulo à leitura, a Barca é considerada uma das mais importantes bibliotecas comunitárias do país. Com uma função social tão importante nas costas, não se esperava um dia estar em maus lençóis – pelo menos no que diz respeito ao bolso. A Barca está com mais de um ano de aluguel atrasado e precisa de ajuda para pagar as contas e manter o projeto vivo.

Desde abril do ano passado a entidade não consegue pagar o aluguel para o Lagoa Iate Clube (LIC), onde está situada a biblioteca. O valor ultrapassa R$ 80 mil. A Barca possuía um convênio com a Prefeitura de Florianópolis, que arcava com esta despesa específica, mas o benefício foi cortado. Enquanto a crise econômica perdurar, não há previsão da retomada desde convênio, explicou uma das fundadoras da barca, a voluntária e coordenadora de projetos, Tanira Piacentini.

Outra dificuldade está em conseguir convênios com editais de cultura. Hoje, uma ONG de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, doa R$ 1 mil por mês. Também existem doações que chegam através da conta de energia elétrica, cerca de R$ 800 por mês, e seis pessoas doam, fixamente, todos os meses, uma pequena quantia. O montante é suficiente para pagar duas funcionárias – outras duas já foram dispensadas por conta do momento difícil. Atualmente, 90% dos trabalhadores da Barca são voluntários, como Isa Saraiva.

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Um supermercado ainda ajuda com produtos de limpeza e higiene. Um crowdfunding (ação para arrecadar dinheiro pela internet) chegou a ser realizado, mas foi arrecadado pouco mais de R$ 6 mil, valor suficiente apenas para pagar um mês de aluguel.

Como ajudar

Chegou-se à conclusão de que, se a barca tivesse 1 mil amigos que ajudassem todos os meses com R$ 20, seria possível começar a pagar as dívidas e manter o projeto do jeito que ele é hoje: lúdico e imprescindível no fomento à leitura. Criou-se então a campanha ¿Seja amigo da Barca dos Livros¿.

— Não queremos só que as pessoas coloquem dinheiro na conta. Queremos que elas conheçam o trabalho e a importância dele — explicou a assessora da Barca, Samira Nagib.

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Para doar, o interessado pode ligar na Barca para saber os detalhes de como vai funcionar e o número da conta. Os voluntários fazem questão de prestar contas no final. O contato é o (48) 3879-3208 e o e-mail é barcadoslivros@amantesdaleitura.org.

O que rola?

— Eu gostei do lobo mau. Mas também gostei do livrinho do leão — disse um sorridente Vicente Guidi Vieira, de três aninhos.

Depois que contou para a reportagem do que mais tinha gostado da tarde diferente na Barca dos Livros, ele correu para uma almofada onde uma professora já estava com um livrinho na mão para contar mais historinhas.

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— Eu gostei das princesas — complementou a pequena Clara Piccoli Ferreira da Silva, também de três anos, lembrando que em casa já tinha lido historinhas do Sítio do Pica Pau Amarelo.

Segundo a professora Aline da Silva, do infantil 3 da Escola do Parque, do Itacorubi, essa foi a primeira vez que a turminha foi à Barca dos Livros.

— É um dia diferente, um lugar bonito, tem vários livros para eles conhecerem — relatou.

A contação de histórias é apenas uma das atividades realizadas pela entidade. Ela ocorre todas as quartas-feiras, tanto para escolas particulares como públicas. Tudo é gratuito. A escola só precisa se comprometer no transporte das crianças até o local.

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Também são realizados cursos e oficinas de artes e leitura – estes são pagos. A biblioteca ainda disponibiliza um sebo para venda de livros doados que eles já possuem no acervo.

Barco de histórias

O nome Barca dos Livros não é por acaso. Em 2005, antes de a biblioteca nascer, um projeto bem bacana já ganhava as águas da lagoa. Um barco, com capacidade de levar de 60 a 70 pessoas, faz um passeio inspirador.

— O barco segue até o meio da lagoa, onde ele para, para a contação de histórias. Nós colocamos ainda vários livros espalhados pelos bancos dos passageiros. Porque o objetivo é também o momento de fomento de leitura entre pais e filhos— explicou Tanira Piacentini.

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O passeio é aberto a todos, e ocorre em todo segundo sábado de cada mês, e dura cerca de 50 minutos. Antes, eram dois passeios por dia, às 15h e às 16h. Por conta da falta de dinheiro, desta vez, é possível que apenas um passeio ocorra no próximo evento, marcado para 10 de setembro.

Os preços para o passeio são bem modestos, porque o objetivo é incentivar a leitura: apenas R$ 5, para pessoas acima de dez anos. Menor que isso, não paga. O barco sai do trapiche da Lagoa da Conceição.