Foram 38 dias entre o resultado positivo do teste de Covid-19 e a morte de Juan Carlos Alves, de 30 anos, que não teve tempo de conhecer o filho recém-nascido, também chamado de Juan. O barbeiro de Caçador, no Oeste de SC, foi internado no dia 10 de maio já com parte do pulmão comprometido, e seu filho nasceu no dia 24 do mesmo mês.

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– O bebê nasceu horas depois de eu conseguir ver o Juan na UTI – relembra a esposa, casada há um ano, Camila Plens.

O resultado positivo do teste saiu em uma quarta-feira, de acordo com Camila. Com muita febre durante todos os dias, na segunda-feira, dia 10 de maio, Juan já se sentia melhor. A esposa relembra que foi questão de horas para que seu estado de saúde piorasse.

– Ele acordou bem na segunda, sem febre. Foi um dos primeiros dias que estava sem sintomas algum. Algumas horas depois, a febre voltou junto com a falta de ar. Entre isso e ele ser internado, foram cerca de duas horas. Ele chegou no hospital, fez exames e já subiu pra emergência da UTI – explica.

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Neste momento, Camila estava grávida de 34 semanas e também testou positivo para Covid-19. Em isolamento, ela não pôde acompanhar o marido até o hospital e recebia os boletins diários do estado de saúde dele por telefone.

Juan foi internado com 50% do pulmão comprometido na emergência da UTI, mas no mesmo dia à noite, entrou para um leito em estado grave. Camila combinou com os profissionais de saúde do hospital para fazer uma chamada de vídeo com Juan na quinta-feira, 13 de maio, já que ele ainda estava acordado. Grávida, de 35 semanas, Camila recebeu a notícia de que o marido seria intubado e que não conseguiria vê-lo.

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– Foi um dos piores dias pra mim. Ele não queria ser intubado, resistiu muito a isso e chegou a ter um princípio de parada cardíaca – relembra ela com a voz engasgada.

Só no dia 23 de maio, 13 dias depois, Camila conseguiu ir até a UTI. O processo de extubação começaria no dia seguinte porque Juan estava respondendo bem ao tratamento.

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– Ele apertou minha mão, chorou, sentiu o bebê mexer mas não abriu os olhos – diz a esposa.

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Na madrugada do dia 24, Camila entrou em trabalho de parto com 36 semanas e Juan reagiu e abriu os olhos na mesma noite. As enfermeiras mostraram para ele vídeos do bebê com Camila e ele estava aparentemente consciente.

No dia 25, Juan arrancou todos os tudos e disse que queria ir embora ver o filho. Mas nesse momento, acabou pegando uma bactéria nos rins e no dia 27 de maio começou a fazer diálise. A partir daí, segundo a esposa, ele permaneceu totalmente sedado. Logo depois, Juan chegou a contrair outra bactéria, porém no pulmão, e seu estado de saúde passou para gravíssimo.

– A cada melhora que ele tinha, a equipe médica vibrava muito. Eles queriam que ele conhecesse o filho, perguntavam pra mim o tempo todo sobre o bebê. Um dos últimos dias, eu estava no hospital esperando para ver ele e uma família chegou lá pra visitar o parente, também internado, e o médico trouxe a notícia de que tinha morrido. Aquilo foi muito triste pra mim.

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No mesmo dia, os médicos não deixaram Camila entrar na UTI porque Juan tinha piorado, e a equipe achava que ele poderia ter tido um dano neurológico grave, já que não respondia mais aos procedimentos.

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No dia 12 de junho Camila foi chamada para vê-lo. Foi um dia depois que a notícia veio: Juan, que também era estudante de história, morreu.

– Ele faria aniversário no dia 15. A gente tinha acabado de fazer um ano de casamento. Ele chegou a falar pra minha sogra “cuida da Camila e do meu neném”, estávamos muito felizes.

Juan Carlos Alves não tinha comorbidades e ficou internado 33 dias.

– Foi muito rápido. Ele estava com medo. 

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Hoje, o bebê, que também se chama Juan, está com 23 dias e Caçador, onde mora a família, tem 61 casos ativos de Covid-19, de acordo com boletim epidemiológico divulgado pelo município nesta quinta-feira (19).

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– Não dá pra saber quem vai ficar bem ou não, tem que se cuidar, não dá pra ficar brincando – complementa Camila.

Juan era, segundo Camila, uma pessoa muito engraçada e de muitos amigos. 

– Quando ele tava no hospital eu mandava memes no Whatsapp pra ele, áudio, pra quando ele saísse conseguisse ver e rir comigo – completa. 

*Sob supervisão de Vinicius Dias.

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