Casos como os ocorridos em Itajaí têm sido frequentes no país, mas é inadmissível que a sociedade tome para si uma prerrogativa que é dos poderes constituídos
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Fazer justiça com as próprias mãos é a falência do Estado Democrático de Direito. Porém, sentindo-se desamparados pelo poder público, moradores de um bairro de Itajaí assumiram a condição de justiceiros na última quinta-feira, amarrarando a um poste e agredindo um rapaz que tinha acabado de participar do assalto a um restaurante. Junto com um comparsa, que conseguiu fugir com R$ 2 mil, o criminoso apontou uma arma para o dono do estabelecimento.
É compreensível a revolta do comerciante que foi vítima da ação – trabalhador, casado e pai de três filhos -, mas é inadmissível que a sociedade tome para si uma prerrogativa que é dos poderes constituídos. No caso em questão, o correto seria a imediata comunicação da ocorrência à polícia. Qualquer coisa além disso é intolerável. Os justiceiros surgem, porém, da omissão do Estado. Quando a polícia e a Justiça não fazem o que os cidadãos esperam e precisam, eles buscam alternativas deste tipo, às vezes até pior, submetendo-se à proteção de traficantes e bandidos. Casos parecidos têm sido frequentes no país. Recentemente, uma das imagens mais difundidas do país no exterior foi a do adolescente acorrentado a um poste no Rio de Janeiro, depois de ser acusado de roubo e espancado por uma milícia de justiceiros.
A generalizada reação de apoio à reação dos moradores nas redes sociais, logo após a divulgação da foto do rapaz agredido em Itajaí, merece profunda reflexão. Acuada, a sociedade parte para a agressão, mas parece não perceber que ela será ainda mais vítima se esse tipo de ação se disseminar. Antes que tais descalabros se generalizem, é impositivo que os cidadãos brasileiros reajam com determinação.Não para entrar em luta com os bandidos, mas sim para cobrar mais ação dos governos, das forças de segurança e do Judiciário. Que os poderes estabelecidos cumpram o seu dever, promovam operações ostensivas que comprovadamente inibam os marginais, organizem campanhas de desarmamento, julguem com celeridade os criminosos, invistam em penitenciárias e criem mais vagas nos presídios, retirem de circulação os delinquentes, previnam e combatam o tráfico de drogas e deem atenção mais efetiva e mais constante aos cidadãos que os sustentam com seus impostos.
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