Quando o Trintão era o único bar e restaurante de Coqueiros, na época em que o bairro da região continental de Florianópolis era apenas um balneário afastado de tudo, um carioca de 27 anos desembarcou sozinho em Florianópolis, cheio de sonhos, muita criatividade e nenhum conhecido. Era Silvino Santiago Goulart, um publicitário que queria apenas morar em uma das três ilhas capitais do país.

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Depois de pisar nas areias de Coqueiros, nem precisou mais procurar por Vitória, no Espírito Santo e São Luís no Maranhão. Ele decidiu ficar e a medida que se transformou no Barão, famoso escultor de restos de peixes e criador do jornal comunitário Folha de Coqueiros, o bairro também mudou e as histórias de um e de outro se fundiram.

Pelo bairro não há um morador que não o conheça, podem não reconhecer o Silvino, mas o Barão até os recém chegados conhecem. Casado com a jornalista Sybila Loureiro, sua parceira de discussão de pautas, o Barão tem muito a comemorar aos 61 anos. Neste ano ele completa 35 anos como morador do balneário, 18 de Folha de Coqueiros e 30 como escultor, haja velinha para apagar tantas conquistas.

Da mesma forma que o bairro cresceu, ganhou e perdeu, nestas últimas três décadas Barão também caiu e levantou. Nascido no Rio de Janeiro, mas Cidadão Catarinense, título concedido pela Assembleia Legislativa, Silvino chegou pela primeira vez no bairro em 1979 acompanhado de um estranho na época.

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Depois de uma breve conversa em um bar, no Centro na Capital, o árabe Michel Micari mal o conhecia mas já afirmou que ele iria morar em Coqueiros. O publicitário nem chegou a procurar por outros bairros, se apaixonou e ali ficou até hoje na companhia da esposa que deixou Porto Alegre para embarcar no mesmo sonho.

Logo de chegada, quem sabe já influenciado pela magia da ilha das bruxas, sem nem esperar, recebeu uma boa proposta de trabalho como representante comercial da editora o Globo, depois daí a lista de bons cargos só aumentou.

Passados quatro anos, levou um dos primeiros tombos da vida. Permaneceu por mais de um ano com as duas pernas imobilizadas em consequência de um acidente. Mas entre lamentar e dar a volta por cima ele escolheu a segunda opção e ao observar suas

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radiografias contra luz, mais do que observar seu tratamento, passou a criar outras imagens. Ao tomar um caldo de garoupa enquanto os ossos de peixe saíam da panela, imaginou sua primeira escultura chamada O Esotérico e a partir dali nascia o Barão das esculturas.

Mais trabalho para o Barão e mais moradores para Coqueiros

Enquanto Barão ficava conhecido pelas criações e o pelo jornal, Coqueiros também já não era mais o mesmo. No aniversário de 10 anos do folhetim, a manchete anunciava o que ele imaginou na primeira edição.

– Em 1995, uma foto com poucos carros na avenida feita às 19h dizia “O bairro do futuro”, dez anos depois fizemos o mesmo retrato, na mesma hora e local com ela já congestionada e com a frase ” O futuro chegou”, bem como eu tinha imaginado. Coqueiros é hoje o que eu pensava que ele iria se tornar, ganhamos em alguns aspectos, mas também perdemos muito – afirma Barão.

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Depois vieram os anúncios das obras de melhoria para o bairro, a construção de equipamentos de lazer, a criação do Parque de Coqueiros, a abertura de novas vias, e por outro lado mais edifícios, carros filas intermináveis, poluição e falta de segurança.

Ossos famosos

A técnica que Barão adquiriu para suas esculturas é inusitada. Primeiro ele limpa os ossos dos peixes com soda cáustica. Depois, ficam cerca de 30 dias expostos à chuva, sol e sereno para depois vir a montagem. As obras variam de cinco centímetros a mais de um metro de altura. Penduradas por fios transparentes o que seriam restos de peixe vão ganhando vida em forma de guerreiros, samurais, cristos, bailarinas, animais, entre tantas outras.

Do Esotérico até hoje são centenas de trabalhos, exposições dentro e fora do Brasil, troféus para prêmios e coleções particulares. Em 1990 Barão foi condecorado pela Fundação Jacques Cousteau (criada pelo conhecido explorador francês do mundo submarino que emprestou seu nome à instituição).

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A manchete esperada para 2015

Em 11 de setembro de 2015, a Folha de Coqueiros irá completar 20 anos. Se quando fez 10 a manchete dizia “O Futuro Chegou” e se desde sua criação os temas já eram a falta de saneamento básico e as consequências do esgoto despejado ao mar, Barão imagina que aos 20 anos não terá boas novas para anunciar, mas não custa sonhar.

– Gostaria muito de escrever “Vamos todas à praia, a água está própria para banho”, ou “Coqueiros volta a ser um balneário tranquilo”, quem sabe ainda “Prefeitura encontra solução para congestionamentos”. Criei meus filhos aqui e todos nós passamos a vida olhando para um mar do qual não podemos nem molhar os pés de tanta poluição. Apesar disso tenho esperança, não irei parar tão cedo com meu trabalho e também não mudo daqui por nada – diz.