Carlos Prochnow tem sete anos e, apesar da pouca idade, carrega um instrumento que pesa cerca de quatro quilos e é considerado por muitos especialistas em música como o mais complicado do mundo. Seu professor é André Luiz Cruz, 20 anos, um dos responsáveis por garantir que este instrumento, o bandônion, não seja esquecido. E é em Joinville, na Sociedade Rio da Prata, que a manutenção deste patrimônio histórico e cultural chega ao auge, durante a Bandoneon Fest. Promovida há 16 anos pelos moradores da região, ela agora entra no calendário oficial de Joinville.
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A lei foi assinada no palco da festa, que ocorreu ontem, em Pirabeiraba. Dessa forma, está garantido que a Bandoneon Fest ocorrerá anualmente, sempre no terceiro domingo de maio. Além disso, como a organização busca recursos a partir do Mecenato municipal, por meio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec), fazer parte do calendário oficial de eventos do município pode atrair mais patrocinadores.
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Antes da assinatura da lei, a advogada Francielle Trapp, 32 anos, recordou a primeira festa, quando o pai, Dionisio, tentou reunir os tocadores de bandoneon da região.
– Foram seis meses procurando os músicos que ainda sabiam tocar o instrumento. E a entrada custou R$ 1, no caso de mais alguém além da família querer ir na festa. No fim, pelo menos mil pessoas participaram – contou.
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Neste ano, pela primeira vez, a Bandoneon Fest não cobrou ingressos. Por isso, a expectativa era de que o público, sempre estimado entre duas mil e três mil pessoas, chegasse a cinco mil neste domingo. Na programação, além dos grupos de bandônion que tradicionalmente participam do evento, como Os Cinquentões e os alunos da Fundação Cultural de Timbó, estavam Ivonita di Concilio & Aurora Montivero, da Argentina, e a bandonionista holandesa Simone van der Weerden. Simone era a atração especial da festa: ela é conhecida internacionalmente e foi considerada a melhor solo do mundo na International Bandoneon Solo Competition, na Alemanha, em 2014.
Tradição passada de pai para filha
Entre os maiores sucessos da Bandoneon Fest está a garantia de sua continuação. Durante os primeiros anos, ela esteve a cargo de Dionisio e Joraia Trapp e era mais uma festa da zona rural de Joinville, com gastronomia alemã e baile.
– Era possível perceber que a maioria do público era formado por idosos. Mas hoje ele está bem diversificado – afirma Francielle.
Na festa deste domingo, Francielle estava à frente da organização. Em seu colo, a pequena Liz, de 11 meses, já usava trajes típicos e acostumava-se ao dia de festa ao som do bandônion. Entre as duas descendentes diretas dos fundadores da festa estão sobrinhos como André Cruz, que aprendeu a tocar bandônion aos 12 anos e hoje dá aula para alunos de que tem entre sete e 78 anos. É André, por exemplo, quem ficou responsável pela apresentação do projeto para o Simdec todos os anos, em busca dos recursos para a Bandoneon Fest.
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– Acho que o fato de trazermos boa música e boas atrações é um incentivo. Ele faz da festa um sucesso, e os jovens da família têm orgulho de participar dela – avalia Francielle.
A empolgação da família Trapp faz com que essa paixão seja passada também para outros integrantes da nova geração. Por isso, o pequeno Carlos, do início da matéria, não hesita em responder o porquê de aprender a tocar o bandônion.
– Eu gosto muito das músicas alemãs. Assisto em DVD em casa com o meu pai – afirma o menino.