Com fotografias tiradas das vítimas antes de elas virarem reféns, o assaltante de bancos Enivaldo Farias, o Cafuringa, 41 anos, preso na quinta-feira no Rio Grande do Sul, espalhava terror aos familiares de gerentes. Era uma maneira de mostrar que sabia tudo da rotina delas e que não teria dificuldade para matá-las caso não cumprissem as suas ordens.
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Desde o primeiro semestre deste ano, capturar o bandido especialista em causar pânico psicológico aos seus alvos e mapear com detalhes grandes roubos a agências bancárias, era o desafio da polícia do Sul catarinense.
Em investidas em Sombrio, Forquilhinha e, na semana passada, em Içara, a quadrilha fortemente armada comandada por Cafuringa levou mais de R$ 1,5 milhão.
No roubo em Içara, enquanto rendia familiares do gerente, Cafuringa era monitorado ao telefone por policiais civis gaúchos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), onde também era caçado por assaltos. Só que os bandidos falavam pouco ao telefone. A polícia tinha dificuldades para encontrá-los e surpreendê-los.
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De Içara, Cafuringa e os comparsas mais uma vez saíram com malotes recheados em dinheiro (R$ 300 mil) e ilesos de cerco policial, causando novamente espanto aos moradores do Sul. Na manhã de quinta-feira, com o monitoramento intensificado, a polícia gaúcha conseguiu chegar ao local em que se refugiava, em Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre.
Estava na casa de uma mãe de santo. O bandido não reagiu à operação formada por 14 policiais. Com o bandido foram apreendidos telefones celulares, dinheiro e duas pistolas 9 milímetros.
O delegado do Deic/RS, Juliano Ferreira, disse que Cafuringa era um dos criminosos mais procurados do Brasil. Além de SC e RS, a polícia suspeita que agiu em São Paulo, Paraguai e Uruguai.
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A sua especialidade é sequestrar familiares de funcionários de bancos, mas a polícia afirma que também comete assaltos com explosivos e a carros fortes. Cafuringa também tinha mandado de prisão decretado por tráfico internacional de drogas, a pedido da Polícia Federal. A sua mulher, que é catarinense, também está presa por esse motivo.
– Ele tem contatos em SC, a sua mulher é daí e conhece bem o Sul catarinense – disse o delegado, informando que a polícia procura comparsas que estão foragidos.
“É o mais quente depois de Papagaio e Seco”
Em Santa Catarina, a prisão de Cafuringa trouxe alívio aos policiais. O DC ouviu quatro delegados (três da Deic/SC) e todos o apontaram como responsável pela onda de roubos a bancos no Sul.
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– Ele é o mais quente hoje depois do Papagaio e do Seco – comparou o experiente delegado Renato Hendges, da Divisão Antissequestro da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Florianópolis.
O delegado se referia a outros dois assaltantes gaúchos que agiam com força no Estado: Cláudio Adriano Ribeiro, o Papagaio, preso em Brusque em dezembro, e José Carlos dos Santos, o Seco, assaltante preso no RS desde 2006.
Renatão afirma que Cafuringa conhece o litoral catarinense e agiu no Estado também pela facilidade em rotas de fugas e o pouco policiamento nas cidades escolhidas.
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Em Sombrio, o delegado Luís Otávio Pohlmann acredita que o bando de Cafuringa monitorou as vítimas por até 40 dias, inclusive fotografando o dia a dia delas.
Cafuringa foi para o Presídio Central de Porto Alegre. Ele é condenado a 37 anos de prisão. O período de cumprimento das penas é marcado por saídas e liberações judiciais, algumas questionadas pela polícia gaúcha.
Da quadrilha que agiu em SC, foi preso em março José Dalvane Nunes Rodrigues de 29 anos, vulgo Minhoca. Ainda é procurado Éderson Marcos da Silva de 26 anos, vulgo Ceará ou Gordo, 25 anos.
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A trajetória de crimes pelo Sul inclui assaltos, resgate e mortes
Em Santa Catarina
Sombrio
16 de fevereiro
A quadrilha era formada por seis homens que invadiram a agência do Banco do Brasil, no Centro, e rendeu 15 funcionários quando eles chegavam para trabalhar. Como ameaça, antes de sair, os assaltantes deixaram um suposto artefato sobre a mesa do banco, informando que seria explodido caso alguém ligasse para a polícia. O bando levou R$ 600 mil.
Forquilhinha
1º de março
Os bandidos invadiram a casa do gerente do Banco do Brasil por volta de 20h30min do dia anterior. Levaram a mulher do gerente e duas filhas num carro e depois a um cativeiro. Enquanto isso, o gerente era mantido refém sob ameaças dos assaltantes. Pela manhã, após mais de 10 horas, ele foi ao cofre do banco e apanhou o dinheiro, mais de R$ 600 mil.
Içara
15 de agosto
Em uma nova investida no Sul do Estado, a quadrilha sequestrou, em Criciúma, a mulher do tesoureiro do Banco do Brasil de Içara. Os bandidos ligaram do celular dela para o marido e exigiram que ele fosse ao banco e pegasse o dinheiro. Foram roubados pelo menos R$ 300 mil. A mulher foi libertada na mesma manhã.
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No Rio Grande do Sul
Dezembro de 2002
Cafuringa e comparsas assaltam uma agência do Banrisul da rua 24 de Outubro, em Porto Alegre, e uma professora é morta.
Janeiro de 2005
O bandido é resgatado por mais de 10 comparsas de um micro-ônibus onde era transportado pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), em Montenegro. No confronto, um agente que fazia a escolta morreu.
Maio de 2005
Cafuringa é recapturado pelo Deic/RS em Ribeirão Preto (SP).
Agosto de 2008
O preso é transferido para o presídio federal de Catanduvas, no Paraná, em razão de sua periculosidade, mas retornou um mês depois ao RS. A Justiça Federal entendeu que a transferência tinha sido um erro.
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Outubro de 2009
Por ter cumprido metade da pena e apresentar bom comportamento na prisão, Cafuringa foi para o regime semiaberto, na Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas.
Maio de 2011
Cafuringa ganha da Justiça gaúcha o benefício da liberdade condicional.
Novembro de 2011
Cafuringa é preso por porte ilegal de arma em Canoas, no RS. Segundo a polícia gaúcha, foi solto pela Justiça porque o juiz teria constatado
equivocadamente que seria réu primário. A Justiça então decreta a sua prisão preventiva.
Agosto de 2012
Cafuringa é preso em Cachoeirinha, no RS, por policiais civis gaúchos.
Confira o vídeo com as gravações exclusivas:

