Não vá dizer que você é daqueles que pensa que música alemã é tudo igual. Nein, nein, nein! Entre as marchinhas entoadas ao meio-dia pelas retretas na marquise do Castelinho da XV, ouvidas por festeiros que no máximo sacodem os ombros na lanchonete, e a dança da Marreca repetida com o entusiasmo de um Carlinhos de Jesus de suspensório, lá pelas três da manhã, existem muito mais estilos do que desconfia nossa vã musicologia alemã.
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No total são 64 bandas envolvidas na festa este ano, 11 a mais do que no ano passado. Uma delas é o Coral Männerchor Liederkranz, do Centro Cultural 25 de Julho. O grupo apresenta o espetáculo “Encontro dos Velhos Camaradas”, mas no linguajar popular dos visitantes já foram batizados eles próprios de Os Velhos Camaradas. O coral é antigo, surgiu em 1909, mas o show apresentado na Oktoberfest nasceu apenas em 2010. No palco, os 35 integrantes cantam sentados em volta de mesas redondas de bar, como se estivessem em uma confraternização de amigos. O repertório é 100% baseado no idioma alemão e abre espaço até mesmo para música clássica – numa versão mais germânica, claro.
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Henrique Barth, 46 anos, assistia com olhos atentos à apresentação dos Velhos Camaradas na primeira noite de Oktoberfest, quarta-feira – o coral cantou logo após a cerimônia de abertura no setor Eisenbahn Biergarten. O pai dele, Georg Karbeck, tem 86 anos e é o integrante mais velho – e talvez o mais empolgado – do grupo. Quando a Oktober chega, Henrique se une à esposa, à mãe e ao filho e Jetzt geht’s los – ou “lá vamos nós”.
– É um grande bar onde todos os amigos se encontram. Esse companheirismo, esse espírito de amizade e de valorização da cultura faz o show ser único – opina.
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A noite em que há apresentação dos Velhos Camaradas costuma atrair muitos apaixonados. Joice Vogel, 43, acompanha de perto a ansiedade que toma conta do marido, Márcio, integrante do coral, sempre que a Oktober se aproxima. Quando finalmente é hora de os velhos amigos cantarem na festa, ela ocupa as primeiras filas acompanhando a música que define como mais cultural e menos modinha.
– Com a criação do espetáculo nós queríamos provar que dá para fazer música boa, com bom texto, em alemão, e que promovesse esse clima de encontro entre amigos – conta o responsável pelo coral e pelo Encontro dos Velhos Camaradas, José Carlos Oechsler.
Um estilo próprio para o bom humor
Há quem prefira ir para a Oktober para curtir repertórios mais agitados ou descontraídos. E é impossível falar desse público sem lembrar da Vox 3. A banda surgiu após compor o divertido hino da Centopeia – olha nós aqui de novo, “pendalando”, “pendalando” – na década de 1990. Desde então a banda gravou 11 discos e virou sinônimo da festa. Deu origem até mesmo ao gênero chucrute music, com “Trinca, mas não Trepa”, “Sexy Frida” e o que promete ser o hit deste ano: “Dez Chopito”, paródia de Despacito (Luis Fonsi).
A irreverência é a marca da banda, a ponto de serem chamados de Mamonas Alemães quando se apresentam em outros lugares do país ao longo do ano. A pegada rock – o grupo chega a fazer um cover de AC/DC nos shows – também ajuda a atrair o público jovem.
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– Respeitamos e temos verdadeiro amor à tradição e à cultura alemã, mas tentamos colocar humor nas músicas e apresentações. Somos uma banda 100% autoral (o grupo faz um pequeno tributo ao Mamonas Assassinas), que busca a irreverência e a alegria – conta o vocalista Rogério França.
Em outubro a rotina dos músicos vira quase do avesso. Sexta-feira a banda tocou na Fenarreco, em Brusque, às 22h, e em seguida voltou a Blumenau para subir ao palco às 2h45min. Depois da maratona, a manhã de sábado é dedicada ao sono, mas à tarde já recomeça a preparação porque às 3h da madrugada a Vox 3 faz outro show na Oktober, no Setor 2. E assim segue o baile, pelo menos até o fim de outubro.
Mistura de ritmos
Apesar do apelo às clássicas canções germânicas, a música da festa se renova. No ano passado um dos sucessos foi a boy band alemã Voxxclub, que embalou muita gente, e teve a estreia da Herr Schmitt, com músicos consagrados.
Este ano caberá às bandas Deggendorfer Stadl Musikanten, que esteve por aqui em 2014, e Troglauer Buam, com forte presença de guitarras, a responsabilidade de representar a Alemanha na festa. Eles chegam segunda e tocam na mesma noite.
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Outra novidade é a Hochsollerleben Band, cujo nome – “Você terá uma vida longa” – é repetido como uma espécie de brinde pelo povo alemão e nos shows do grupo.
Apesar de ser o primeiro ano da banda, ela estreou com um teste de fogo, se apresentando na primeira Oktoberfest de São Paulo, que termina domingo. O conjunto tem músicos como o guitarrista Mazin Silva e aposta no resgate do trabalho de Helmut Högl, maestro alemão e autor do hino da Oktober, mas com releituras e formação instrumental diferenciada. A música “Vamos festejar” é um exemplo da proposta. Um dos principais ingredientes dessa mistura é a presença do DJ Jimmy Allan, filho de Mazin, que também faz as vezes de baterista.
O desafio de trazer novos sons para o repertório foi o que mais motivou Jimmy a abraçar o projeto. O DJ deve ocupar posição de destaque no palco e trazer um apelo mais moderno e eletrônico às canções. Do repertório, 60% será dedicado aos clássicos alemães remixados, outros 30% às novas versões da obra de Högl. Os 10% restantes serão pop, house e música de balada. A banda sobe ao palco do Eisenbahn Biergarten às 2h45min para fechar a programação de sábado.
– O estilo vai agradar muito os mais jovens, mas queremos alcançar todos os públicos. Queremos trazer algo autoral e moderno, inspirado nos clássicos – conta o vocalista Jeferson Renato.
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