Os bancos públicos estão aproveitando a falta de apetite dos pares privados na concessão de crédito a veículos para ganhar participação no segmento. Beneficiados pelos programas com juros menores e a desoneração fiscal para o setor automotivo, Banco do Brasil e Caixa mais do que dobraram a aprovação mensal de financiamentos nesta linha de abril para cá.

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Com a prorrogação do IPI reduzido até o fim de outubro, ambos devem seguir agressivos na liberação de recursos para veículos. Historicamente, segundo especialistas, os últimos meses do ano são mais aquecidos na venda de automóveis e, consequentemente, a demanda para empréstimos é maior.

No BB, a concessão de crédito para veículos saltou de R$ 300 milhões em abril para cerca de R$ 1,5 bilhão em agosto. Já o saldo da carteira dobrou, para R$ 8 bilhões. A expectativa, de acordo com Alexandre Abreu, vice-presidente de negócios de varejo do BB, é de que o desembolso mensal, de cerca de R$ 1,5 bilhão, seja mantido nos próximos meses.

– Este deve ser o patamar de contratações até o fim do ano – estima.

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Na Caixa, o crescimento também foi expressivo. O volume mensal de crédito aprovado para veículos avançou 146%, para R$ 690 milhões, em agosto. A meta do banco é ter 10% deste segmento que concede cerca de R$ 8 bilhões em financiamentos todo mês. No entanto, como a instituição já galgou uma fatia de 7% no crédito a veículos, as metas podem ser revistas para cima, afirma a diretoria.

Segundo o vice-presidente de Pessoa Física da Caixa, Fábio Lenza, além dos juros menores e do IPI reduzido, também contribuiu a ampliação do canal concessionárias, via o Panamericano. A rede de seis mil lojas, em março último, foi expandida para sete mil unidades parceiras.

A Caixa espera que o saldo da carteira de crédito a veículos alcance R$ 2 bilhões até o final deste ano. Se considerados os números do Panamericano, esse montante deve ficar perto dos R$ 11 bilhões em dezembro.

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Impacto negativo na

venda de seminovos

Longe de provocar o mesmo efeito verificado no mercado de automóveis zero quilômetro, a desoneração do IPI dificultou a vida dos empresários que vendem carro de segunda mão.

Os preços recuaram assim como ocorreu entre carros zero quilômetro, mas as vendas dos usados tiveram uma queda de 0,9% no bimestre de junho e julho em relação ao mesmo período de 2011, quando não havia o benefício tributário, enquanto os emplacamentos de automóveis zero quilômetro cresceram 26,4%.

Os empresários do ramo também reclamam da restrição ao crédito para a compra do seminovo, situação que levou a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) a pedir ao governo federal linhas de financiamento especiais para a compra de carros usados.

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O economista da LCA Consultores Rodrigo Nishida explica que um benefício fiscal que alavanque as vendas de veículos novo afeta diretamente o desempenho dos seminovos.

– No período de IPI reduzido, há um claro aumento das vendas para novos e queda para usados – diz.

De acordo com Nishida, o recuo nos preços do automóvel zero quilômetro posicionou o bem como uma opção de escolha daquele consumidor que só tinha condições para adquirir um seminovo.

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– E entre um e outro, a preferência é pelo carro novo – afirma.

Na comparação do resultado acumulado no bimestre de junho e julho sobre a mesma base de comparação de 2011, as vendas de veículos leves novos cresceram 20,4%, mas a negociação de usados avançou apenas 1,5%. Nishida lembra que a mesma situação ocorreu em 2009, quando, para estimular o consumo e tirar a indústria do buraco provocado pela crise financeira internacional, o governo cortou a alíquota de IPI.