Os bancos estrangeiros que atuam no Brasil puxaram a alta da inadimplência no ano passado. O valor das dívidas atrasadas nestas instituições cresceu 45%, mais que o dobro do registrado pelo setor financeiro público no mesmo período.

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Segundo dados do Banco Central, os estrangeiros amargam calote de R$ 17,7 bilhões, praticamente o mesmo valor das prestações em atraso nos bancos estatais (R$ 17,8 bilhões). A diferença é que os públicos têm uma carteira de empréstimos que corresponde a duas vezes e meia o valor emprestado pelas filiais brasileiras de bancos com sede no exterior.

O índice de inadimplência, que corresponde às dívidas com atraso superior a 90 dias, passou de 4,1% dos empréstimos, no final de 2010, para 5% das dívidas dos clientes de bancos estrangeiros. O Santander, a maior dessas instituições no Brasil, registrou aumento de 3,9% para 4,5% na inadimplência em 2011.

Nos públicos, a taxa se manteve em 2% no ano passado. O Banco do Brasil, por exemplo, registrou queda no indicador (para 2,1%), enquanto a Caixa Econômica Federal manteve praticamente o mesmo nível de atrasos do final de 2010 (2%).

Os bancos privados nacionais registraram aumento de 4% para 4,6% no indicador. Em valores absolutos, os atrasos cresceram 34%, abaixo do registrado nos estrangeiros e acima dos públicos.

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O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, diz que os bancos com sede fora do País reduziram pelo segundo ano sua participação no mercado de crédito. Segundo o economista, na medida em que a carteira de crédito cresce mais lentamente, ganham peso operações mais antigas, com maior risco de inadimplência.

– Os bancos estrangeiros estão mais retraídos por conta da crise, mas se eles tiverem autonomia para crescer no Brasil, principalmente em linhas como consignado e carros novos, esses índices podem melhorar neste ano – afirma.

O analista diz ainda que a decisão do Banco Central de incentivar os bancos a retomarem as operações de compra e venda de carteiras de crédito deve contribuir para uma melhora nesses indicadores.

– Isso pode melhorar o perfil da carteira dos estrangeiros, que são tradicionalmente compradores e vendedores de crédito – explica.

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Gustavo Schroden, analista do BES Securities, diz que 2011 foi um ano ruim em termos de inadimplência para todas as instituições e que os bancos públicos tiveram indicadores melhores por conta do peso de empréstimos imobiliários e do consignado, linhas com menor nível de atrasos, em suas carteiras.

Para ele, em 2012, os bancos devem privilegiar essas linhas que são menos rentáveis, porém menos arriscadas.

– Depois do que aconteceu em 2011, essa política mais conservadora dos bancos públicos vai ser uma tendência para todas as instituições – projeta Schroden.

Para o economista, isso deve significar também redução no crescimento do crédito para empresas de menor porte e nos financiamentos de veículos. Essa última modalidade, por exemplo, registrou no ano passado o dobro da inadimplência do final de 2011.

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Isso explica o aumento dos atrasos nos bancos de montadoras, que também respondem por parcela significativa do crédito de instituições estrangeiras no Brasil.