O Banco Popular espanhol, à beira da quebra, foi vendido nesta quarta-feira ao Santander por um euro em uma operação efetuada em horas, e que implica perdas de 100% para seus acionistas.
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A operação garante os depósitos dos poupadores, e nela não houve “nenhum tipo de ajuda nem de apoio público”, segundo o ministro da Economia espanhol, Luis de Guindos.
Para o Santander implicará um aumento de capital de 7 bilhões de euros, anunciou a entidade cuja capitalização financeira é de aproximadamente 84 bilhões, a segunda da Bolsa de Madri.
Este dinheiro ajudará a financiar provisões adicionais de 7,9 bilhões, destinadas a cobrir os ativos imobiliários tóxicos herdados do Popular.
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Em virtude da operação, “todos os acionistas de Banco Popular Espanhol S.A., assim como todos os titulares de bônus contingentes conversíveis e de bônus subordinados, perderam totalmente seu investimento”, informou organismo supervisor da Bolsa espanhola, a CNMV.
Entre esses acionistas está a família chilena Luksic (3%) e a mexicana Del Valle, que junto com outras tinha 4,13% do capital.
– Uma queda sem paliativos –
A última semana havia sido catastrófica para o Popular, líder espanhol no segmento de créditos a pequenas e médias empresas: sua capitalização financeira caiu pela metade (a 1,33 bilhão de euros) e sua ação chegou aos 0,32 centavos de euro no fechamento de terça-feira.
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Guindos reconheceu que nos últimos dias “a saída de depósitos foi muito intensa”. O jornal El Independiente estimou a fuga de capitais em 18 bilhões de euros em apenas 10 dias.
Diante deste panorama, o Banco Central Europeu (BCE) estimou na terça-feira à noite que a entidade estava em situação de “quebra ou quebra provável”, segundo apontou em um breve comunicado.
Com essa constatação, informou o Mecanismo Único de Resolução (MRU), que em questão de horas adotou um plano de venda do Popular ao Banco Santander, o de maior capitalização financeira da zona do euro.
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“Foi uma noite longa, devo confessar”, disse Elka König, presidente do Mecanismo de Resolução Único, destacando a urgência com a qual executou a operação, para concluí-la antes da abertura das bolsas europeias, às 07H00 GMT.
Concretamente, o Santander foi a entidade adjudicatória de um leilão realizado por este mecanismo e pelo Fundo espanhol de Reestruturação Ordenada Bancária (FROB).
A fusão representa a primeira ocasião em que se emprega o novo mecanismo europeu de resgate, vigente desde 2016.
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Seu propósito é que os bancos sejam resgatados sem recursos públicos, como aconteceu durante a crise econômica e financeira de 2008.
– Um passivo imobiliário difícil de digerir –
Nos últimos meses, o Banco Popular acusou o peso dos ativos imobiliários tóxicos acumulados desde que a bolha criada neste setor estourou em 2008.
Esses ativos o obrigaram a provisionar 5,7 bilhões de euros em 2016, que explicam as perdas deste ano (de 3,485 bilhões de euros).
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Seu presidente, Emilio Saracho, mencionou em abril a opção de uma nova ampliação de capital, mas nos últimos dias foi ganhando força a possibilidade de uma absorção por parte de uma entidade maior.
Saracho foi substituído nesta quarta-feira por José García Cantera, que até agora era diretor financeiro do Santander.
A presidente, Ana Patricia Botín, defendeu a fusão afirmando que com ela o Santander terá um “complemento significativo no que sempre foi a grande fortaleza do Banco Popular, o negócio de pequenas e médias empresas”, onde é líder.
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É nesse segmento que a entidade resultante terá na Espanha uma fatia de mercado de 25%.
Além disso, a fusão “transforma o Santander no banco líder na Espanha e no banco líder privado em Portugal”, disse Botín, que prevê uma maior rentabilidade em ambos os países.
A Espanha continua traumatizada pela lembrança do resgate europeu em 2012 de seu setor bancário, por mais de 41 bilhões de euros.
Oficialmente, o resgate era só para o setor bancário, devastado pelo estouro da bolha financeira. Mas entre as condições dos europeus havia muitas macroeconômicas.
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Guindos quis enviar uma mensagem de tranquilidade, afirmando que “a situação atual é muito diferente à do ano de 2012, dada a boa saúde do conjunto do setor financeiro e da economia espanhola em geral”, que cresceu 3,2% em 2015 e 2016.
* AFP