Há nove anos, Flávio Francisco da Conceição, hoje com 27 anos, descobriu que tinha uma doença que poderia prejudicar completamente sua visão. O ceratocone causa mudanças estruturais na córnea. Jogador de futebol profissional pelo Operários de Mafra, deixou o sonho de lado. Ele só queria enxergar.
Continua depois da publicidade
Na rede privada de saúde, fez seu primeiro transplante de córnea. Esperou um ano na fila. Neste ano, as dificuldades passaram para o olho esquerdo. Desta vez, ele procurou o Banco de Olhos de Joinville, que organiza a fila para os procedimentos. Registrou seu nome em março, e em setembro, no dia 13, entrou na sala de cirurgia. Sua vida, segundo ele, melhorou pela segunda vez.
A sensação de alívio de Flávio – que contava com apenas 10% de visão em seu olho esquerdo – pode ser compartilhada por milhares de pessoas de Joinville e região que foram beneficiadas pelo Banco de Olhos.
De Flávio, um dos operados mais recentes, ao fotógrafo Peninha Machado – um dos primeiros transplantados de Joinville, em 1982 – não há contagem dos números. Mas de 2006 para cá, quando passaram a ser colocados no papel, mais de 1,2 mil pessoas passaram por cirurgias na cidade e começaram a enxergar melhor. Os procedimentos foram todos realizados pelo SUS.
Abordagem à família
Continua depois da publicidade
Não bastasse ser o responsável pela boa notícia – a garantia de um transplante de córnea -, o Banco de Olhos, que domingo comemorou 35 anos, também é responsável por conscientizar a população sobre a doação de órgãos. São seus profissionais que chegam no momento mais difícil para família e pedem autorização para a retirada da córnea.
A técnica em enfermagem e funcionária do banco Sirlei Martins Grawe, conta que explica aos familiares como uma córnea pode ajudar a vida de outra pessoa. É por causa da delicadeza de pessoas como Sirlei e das demais voluntárias da entidade que os números de doações têm aumentado na cidade.
Em 2012, o número atingiu seu pico: 318 doações. As campanhas de conscientização são realizadas anualmente pelo Banco do Olhos. Neste ano, contou com apoio da dupla Vitor e Léo.
Histórias de vida e de voluntariado
Assim como Flávio, que após a cirurgia recuperou 95% de sua visão, o estudante Jean Carlo Max, 19, mudou significativamente de vida. Ele largou os estudos, tamanha era a sua dificuldade na escola. Hoje, após sua segunda cirurgia, já pensa na faculdade. Na época, nem óculos ou lente ajudavam. Era preciso passar pelo transplante.
Continua depois da publicidade
O Banco de Olhos foi fundado em 29 de setembro de 1978 por um grupo de profissionais e de pessoas interessadas em ajudar. A entidade até hoje não tem fins lucrativos e fica em uma das salas do Hospital São José.
De acordo com o presidente do Rotary Sul, Luiz Roberto Franco, o médico oftalmologista Newton Salerno, na década de 70, contou aos dirigentes do clube que muitas pessoas em Joinville estavam perdendo a visão. Era preciso um Banco de Olhos na cidade. E foi criado. O trabalho era e até hoje é totalmente voluntário.