Caminhando contra o aumento da representação das mulheres na política brasileira, Santa Catarina terá apenas duas parlamentares na bancada feminina da Assembleia Legislativa do Estado (Alesc). As deputadas Paulinha (Podemos) e Luciane Carminatti (PT) são as únicas a formar, nos próximos quatro anos, o grupo de expressão das mulheres na luta pelos direitos femininos catarinenses.
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O número é o menor desde que o grupo de representação foi criado na Alesc, em 2011. Ana Campagnolo, que está entre as três deputadas eleitas nas Eleições 2022, e que representaria a terceira mulher na bancada, não fará parte do grupo pela segunda vez — ela já não participava da bancada no mandato anterior (2019 a 2022).
— Eu e Luciane vamos ter que nos redobrar nas atenções da causa feminista, mas estamos preparadas para essa jornada juntas. Até para trazer mais luz na forma como a mulher exerce seu papel na política — analisa a deputada Paulinha.
— Aprendi na bancada feminina que não basta ter mais mulheres, precisamos de mulheres comprometidas com a causa das mulheres — completou Carminatti.
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A dupla já faz parte da bancada feminina há mais de quatro anos. Carminatti está em seu quarto mandato, enquanto Paulinha se encaminha para o quinto ano (segundo mandato) na representação feminina da política catarinense.
“Retrocesso”
A bancada feminina em Santa Catarina foi oficializada em 2014, apesar de ter iniciado os trabalhos cerca de três anos antes. Desde então, o número de parlamentares participantes do grupo não chegou a menos de quatro mulheres — situação que representa um regresso na luta feminina dentro da política catarinense, segundo as parlamentares.
Mulheres de SC perdem representação com resultado das Eleições 2022
Conforme Paulinha, o fato é incompreensível e triste para o Estado, visto que os números de deputadas eleitas em todo o Brasil cresceram. A representação da bancada no mandato passado (2018 a 2022) foi de cinco mulheres — mais do que a metade da expressão atual.
— A gente reduzir a bancada a esse tempo é evidente que é um retrocesso, até porque tinham muitas boas mulheres candidatas ao parlamento nas eleições. Mas penso que temos condições de evoluir e cobrar esse resultado novamente, afinal o parlamento é a casa de todas as ideias, de todos os sentimentos — diz.
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Procurada pela reportagem para esclarecer o motivo pelo qual não participa da bancada, Ana Campagnolo respodeu que “jamais participaria de um movimento que defende o feticídio.”
SC tem menor número de deputadas no sul do país
Diferente dos demais estados do sul do país, Santa Catarina elegeu o menor número de mulheres para a Assembleia Legislativa. Enquanto o Paraná e o Rio Grande do Sul têm cerca de 10 mulheres na bancada feminina pelos próximos quatro anos, o Estado tem duas representantes da luta.
Nesta quarta-feira, 19 mulheres tomaram posse nas federações vizinhas. Oito no Paraná e 11 no Rio Grande do Sul.
A bancada feminina no estado paranaense é a mais recente criada. O grupo foi oficializado em agosto de 2022.
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O que é a bancada feminina?
A bancada feminina, criada em 2011 e oficializada em 2014 em Santa Catarina, tem objetivo de debater temas que permeiam as questões de gênero, enfrentar as desigualdades femininas, e contribuir para a consolidação das políticas públicas para as mulheres na busca por igualdade política e social.
“Vai prevalecer a harmonia”, diz Nadal sobre divergências ideológicas na Alesc
Durante os quase 189 anos de história do Poder Legislativo em Santa Catarina, menos de 20 mulheres compartilharam com os homens a criação de leis no Estado. Situação que ainda se deu após 101 anos anteriores, até que então Antonieta de Barros conseguisse seu lugar na Assembleia.
— Nesse último mandato, a gente conseguiu colocar em prática a procuradoria da mulher, espaço que dialoga com vítimas de violência sexual e psicológica, em todo o Estado. Conseguimos avançar na questão do observatório da mulher, que nos dá dados de violência para conseguirmos criar políticas públicas mais sólidas. Não tenho dúvida alguma do olhar que a gente oferece com essa representatividade. Acredito que só as mulheres conseguem construir pautas para mulheres com a grandeza que elas merecem, ainda que tenhamos as aprovações de colegas homens, o que temos que agradecer. Mas agora, apenas em duas, a gente se compromete em organizar a ocupação desses espaços e debater todas as questões importantes nos próximos anos — diz Paulinha.
SC tem a primeira deputada na mesa diretora desde Antonieta de Barros
Apesar da baixa representatividade das mulheres na política em Santa Catarina, deputada Paulinha vai compor a mesa diretora da Alesc — a parlamentar ocupará o cargo de 1ª secretária. A cadeira não pertencia a uma mulher desde Antonieta de Barros, conforme divulgou o colunista do NSC Total Ânderson Silva, que atingiu a marca em 1937.
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— Mesmo em uma bancada de minuta reduzida, a gente conseguiu a nossa presença nesse espaço. E espero a partir daí trazer mais jus para a nossa causa e mostrar para a sociedade que a mulher também está preparada para exercer qualquer função de poder, tanto quanto qualquer colega homem — diz Paulinha.
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