Alguma coisa muito errada, maligna, esconde-se nas entranhas da sociedade brasileira. Quando vem à tona, todo o mundo se pergunta como é possível que horrores assim ocorram num país como o Brasil. Como sobrevivemos nós a um cotidiano tão ameaçador para a vida? Que custo isso nos traz? Estes que morrem nas ruas, nas chacinas, nos assaltos, não são nossos parceiros de guerra?

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Na recente escalada de crimes cometidos em Santa Catarina, nenhum vandalismo foi mais grave do que esse na cidade de Florianópolis. Pela extensão, o espetáculo macabro avançou um patamar no rol de explosões periódicas de insanidade. Volta e meia, malucos saem atirando contra multidões, movidos por convicções obscuras.

Aceitar que a violência possa ser banalizada e naturalizada é uma tentativa de diluir o seu impacto, seu terror; de evadir de seus efeitos, de não se implicar com a existência de suas manifestações e com as possibilidades, por pequenas que sejam, de sua transformação. Essa banalização da violência é, talvez, um dos aliados mais fortes de sua perpetuação.

A virulência desse hábito mental é tão daninha e potente que, quem quer que se insurja contra este preconceito, arrisca-se a ser estigmatizado de idealista, otimista ingênuo ou bobo alegre.

Que a violência aterrorize e que diante de uma cena assim todos pareçam dizer “já que não é comigo não vou me meter”, que a solidariedade desapareça por um risco de se expor a própria vida, a isso já nos acostumamos!

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O previsível, porém, é que gente muito desajustada no Brasil sempre consegue acesso desimpedido às armas de fogo. Prefiro fazer uma previsão tristemente óbvia: “Há um grande número de outros bandidos por aí que estão acumulando ressentimentos dentro de si, e fora do nosso alcance”. Ou seja: há o risco de acontecer de novo.