– Quem é o dono dessa van aqui!? Ô, motorista, chega ela um pouco mais pra frente!

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A gritaria a bordo da balsa abarrotada de carros chama a atenção de dois jornalistas alemães, que lançam olhar curioso para o funcionário. Ele tem a missão de abrir espaço para a entrada de mais um caminhão, tarefa cumprida quando a van é realocada. Pronto: é hora da embarcação “Bicudo I” sair, com destino à casa germânica na Copa do Mundo.

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Não há outro jeito de chegar à Vila de Santo André, povoado do município de Santa Cruz Cabrália, próximo a Porto Seguro, na Bahia, onde Pedro Álvares Cabral desembarcou com suas caravelas há pouco mais de 500 anos. É lá que a seleção alemã está hospedada, em um centro de treinamento construído por investidores germânicos em parceria com a Federação – e que será comercializado como condomínio de luxo após o Mundial.

Enquanto a “Bicudo I” segue a travessia, os repórteres a bordo se dividem entre suspiros admirados pela paisagem paradisíaca e olhares preocupados em direção aos relógios: falta pouco para começarem as entrevistas coletivas do dia. Quem não está em Vila de Santo André – onde a hospedagem é limitada – precisa se planejar para não perder o horário.

As balsas saem a cada 30 minutos, e forma-se uma fila de carros para aguardar o próximo transporte. O preço do trajeto – que dura cerca de cinco minutos – é de R$ 1 por passageiro, R$ 11 por veículo.

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Ao fim do caminho, cada um pega seu carro e cumpre mais um curto trecho, terminando em uma rua de chão batido que abriga o resort Costa Brasilis, local onde a seleção montou uma estrutura para a imprensa. O Campo Bahia, como foi batizado o centro de treinamento, fica a 200 metros dali, isolado da badalação da mídia.

– É um tanto surreal – admite o repórter Oliver Fritsch, do Berlinzeit, que releva:

– Mas o futebol, a Copa do Mundo, são surreais. Faz parte da ideia de que eles precisam se isolar para vencer. Por outro lado, em 2006, a Alemanha ficou em Berlim. Quando queriam privacidade, simplesmente fechavam os treinos.

Empolgação, protesto e forte segurança

Dos dois lados da travessia, em Santa Cruz Cabrália e Vila de Santo André, a animação com a presença de duas seleções da Copa é evidente. Além da Alemanha, a Suíça está hospedada em Cabrália. Bandeiras dos países se misturam às do Brasil pelas ruas, mas o forte aparato de segurança gerou revolta em parte da população.

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O bloqueio de ruas em Vila de Santo André motivou protestos de moradores, e pichações com a inscrição “Fifa máfia” apareceram em prédios do povoado. O gerente da seleção alemã, Oliver Bierhoff, foi questionado sobre a indignação dos vizinhos temporários.

– Nós queremos ser bons convidados, não é nossa intenção causar revolta nos moradores. Mas o pessoal que faz a segurança também não quer errar. Temos bicicletas à disposição e gostaríamos de passear, mas não podemos – respondeu.

Desde domingo, quando a Alemanha desembarcou e o ônibus da delegação foi o único veículo a fazer uma das travessias até Vila de Santo André, os jogadores pouco saíram do Campo Bahia. Têm se deslocado apenas para os treinamentos e entrevistas coletivas.

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Enquanto isso, desfrutam das casas com vista para o mar e a área de piscina com 700 metros quadrados, em um empreendimento de 15 mil metros quadrados que foi erguido em apenas cinco meses.