Confirmação, animação e muito trabalho. Assim podem ser definidos os primeiros dias desta semana no trade turístico de Balneário Camboriú, sacudido por uma mobilização considerada histórica para esta época do ano. Com a notícia de que a cidade receberá até 3 mil torcedores da Argélia durante a primeira fase da Copa do Mundo, entre 19 e 26 de junho, poder público e entidades privadas e de classe se unem para planejar o atendimento a todos esses turistas – que têm um perfil diferente daquele que o município está acostumado e prometem gerar grande impacto no turismo e na economia.

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As conversas para que a cidade recebesse os argelinos ocorrem há algumas semanas e o acerto foi divulgado na segunda-feira. Todo o grupo virá ao Litoral Norte por meio de uma parceria entre a Federação de Futebol Argelina (FAF), a operadora de turismo francesa Voyages do grupo Couleur, sediada em Lyon, e a agência de receptivo carioca Latitude 30º, com o apoio da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Balneário. Até agora está confirmada a vinda de 2,1 mil torcedores à região, mas a expectativa é de que o número final fique entre 2,5 e 3 mil turistas, que ficarão hospedados em 1,3 mil leitos de pelo menos 10 dos melhores hotéis de Balneário.

– O impacto será positivo em todos os sentidos. Além da economia, vai gerar divulgação, muita mídia espontânea para a cidade. Nosso próximo passo, como prefeitura, é oferecer passeios turísticos aos argelinos, além de acompanhar as capacitações de hotéis e restaurantes – destaca o secretário de Turismo de Balneário, Ademar Schneider.

Idioma e cultura

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Os fatores encarados como os principais desafios para Balneário atender bem os argelinos são o idioma oficial do país visitante, o francês, e a cultura do islamismo, religião de 99% dos habitantes da Argélia. Para amenizar o “conflito” de costumes, os hotéis previamente mapeados devem intensificar a qualificação dos funcionários, embora a maior parte dos empreendimentos, com o desenvolvimento constante do turismo na cidade, já tenha trabalhadores com formação mais internacionalizada.

Restaurantes também estão sendo orientados quanto a alguns cardápios especiais. Nesse caso, além da questão da língua, existem condições que não se resumem às preferências ou às características de um país. Os muçulmanos só comem carne de frango ou de boi na forma halal (lícita ou permitida por Deus, em português), em que o animal deve ser abatido com o corpo virado para Meca e pelas mãos de um praticante. Importadores islâmicos geralmente exigem certificado desse procedimento, e estes produtos é que deverão ser servidos aos visitantes africanos.

A lista com os hotéis e restaurantes que vão atender preferencialmente os argelinos não foi divulgada até esta quarta-feira.

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Cidade foca na capacitação

Em plena baixa temporada e com o forte do turismo concentrado nas cidades onde serão disputados jogos da Copa do Mundo, Balneário Camboriú pretende aproveitar ao máximo o “pedacinho” do Mundial no Litoral Norte com a visita dos argelinos. A ideia é dar fôlego ao ano que teve um verão cheio de problemas de infraestrutura e que ainda reserva eleições em outubro, o que tradicionalmente impacta a economia.

– Para o empresariado essa presença dos argelinos trará grandes oportunidades. Nosso mercado sempre foi voltado para a América Latina, então agora teremos a chance de estreitar relações e de mostrar as maravilhas da nossa cidade para que, quem sabe, seus próximos investimentos sejam aqui – avalia o presidente da Associação Comercial e Industrial de Balneário Camboriú (Acibalc), Nelson de Oliveira.

O foco agora é na capacitação, principalmente no francês e no inglês, e na qualidade do atendimento, com objetivo de conquistar o turista e incentivá-lo a voltar – se possível com ainda mais visitantes.

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– É um turista de bom poder aquisitivo e que vai agregar valor à nossa economia. Acredito que comércio, hotelaria e gastronomia estão preparados para receber esse público e espero que a infraestrutura da cidade também esteja, porque o turista tem que levar a melhor impressão possível daqui – considera o presidente da CDL de Balneário, José Roberto Cruz.

Experiência para garantir novos turistas

Esta será a primeira vez que Balneário recebe uma demanda tão grande de visitantes de fora do Mercosul, e representantes do trade turístico sabem que a responsabilidade é grande. Presidente do Balneário Camboriú Convention & Visitors Bureau, Margot Libório diz que essa é uma experiência que só um evento como a Copa proporciona e que Balneário pode mirar exemplos como os de Itajaí com a Volvo e a Jacques Vabre:

– Será necessário algumas adaptações e melhorias em comunicação e certas questões culturais, e a própria agência de turismo estuda colocar alguém como concierge (profissional que auxilia os turistas em diversas situações). Penso que será muito positivo para a cidade e pode até deixar um legado nesse tipo de experiência.

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O Sindicato dos Empregados do Comércio Hoteleiro, Bares e Restaurantes e Similares de Balneário Camboriú e Região (Sechobar) trabalhou durante todo o ano passado com cursos de inglês para seus associados e pretende fazer nas próximas semanas algumas ações específicas para o período do Mundial. Presidente do sindicato, Olga Ferreira analisa que a vinda dos argelinos pode começar uma mudança significativa no setor turístico da cidade:

– Estamos em uma expectativa de mudar o perfil do nosso turista. Não menosprezando o visitante do Mercosul, mas também devemos divulgar Balneário fora das Américas porque temos mercado para oferecer. A partir do momento que vier o turista mais exigente, automaticamente todos os serviços serão melhorados.