A correnteza do Rio Camboriú marca o compasso da vida mansa no Bairro da Barra. Tradicional reduto de pescadores, foi ali que nasceu Balneário Camboriú, cercada pelo verde dos morros e envolta no arrasto das redes. As ruas estreitas, que levam os nomes de alguns dos antigos moradores, revelam o contraste entre as antigas construções e a silhueta dos arranha-céus da Barra Sul – um convite a apreciar a cidade de um ângulo diferente, que aos poucos é descoberto pelos turistas.

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Dona de uma casa simples, na curva do rio, Elizabete Correia, 59 anos, tem vista para toda a orla de Balneário Camboriú. Ali, uma tarefa tão trivial quanto pendurar a roupa no varal é emoldurada pelo colorido dos barcos de pesca sob o vaivém dos teleféricos, que levam os turistas entre a praia e o morro.

– Moro aqui desde que nasci e todo mundo se conhece. A maioria vive da pesca, é uma vida muito boa.

O ganha pão da família é a captura do camarão, que chega fresquinho à porta de casa. Nas mãos rápidas de Elizabete, viram croquetes e empanados, vendidos a peixarias da região e também direto ao consumidor.

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A oferta de peixe fresco e barato fez a fama do bairro e ainda convence muita gente a vir do lado de lá do rio para comprar as iguarias. Anchovas, charutos e camarões de todos os tipos e tamanhos enchem os balcões das tradicionais peixarias, negócios de família que se espalham pelas principais ruas da Barra.

Pescador desde menino, aos 64 anos José Felipe conta que a fartura já não é a mesma de algumas décadas atrás, mas garante que peixes não faltam. Do píer construído nos fundos de casa, de frente para uma das ilhotas do Rio Camboriú, ele observa a pesca dos mergulhões e enumera as espécies que ainda se pega com facilidade por ali:

– Tem tainhota, bagrinho e até linguado, tudo no rio.

O charme e o apelo cultural do bairro, palco da mais conhecida festa do pescado da cidade, têm feito o tradicional mercado de peixes e frutos do mar a dividir espaço com outro tipo de comércio, como os antiquários. Móveis e objetos carregados de história, alguns com mais de 300 anos, estão à venda num dos endereços mais conhecidos da Barra, vizinho à Colônia de Pescadores.

– É um bairro histórico, e já havia na Barra uma oficina de restauro. Hoje a maioria dos turistas que passa por aqui está de passagem, voltando das praias, mas a tendência é de crescimento – acredita o arquiteto Alexandre Suñé, dono de antiquário.

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Capela do século 17 resgata a história da comunidade

Comunidade antiga, a Barra cresceu envolta em mistérios. Tem a lenda do escravo que, tendo ganhado a liberdade, teria passado o resto da vida a produzir velas na Capela Santo Amaro, usando como formas os buracos das paredes.

A igreja, tombada pelo patrimônio histórico municipal e estadual, nasceu para ser a matriz do então Arraial do Bom Sucesso, no século 17. Fica no alto de uma longa escadaria, e é responsável por um dos mais nostálgicos momentos vividos pela comunidade local: cada vez que se registra uma morte na Barra, o sino badala sete vezes.

– Se é sinal de morte, toca bem compassado, e todo mundo fica sabendo que alguém faleceu. Quando tem missa, uma vez por mês, o sino toca mais rápido – diz Elizabete Correia, moradora da Barra.

Outro sino, rachado e já aposentado das ressoadas, descansa dentro da igreja, ao alcance dos olhos dos turistas. Dizem que a rachadura ocorreu quando os escravos souberam da abolição da escravatura. Teriam badalado o sino dia e noite, até que ele se partiu – história pouco provável segundo os historiadores, mas que faz parte da memória local.

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Passarela promete incrementar turismo

O acesso à Barra pode ser feito pela BR-101 ou pela balsa, que faz o trajeto gratuitamente entre o bairro e a Barra Sul, para pedestres. A expectativa é que a chegada ao local seja facilitada pela construção de uma passarela, que permitirá a passagem a 25,5 metros acima do rio.

A obra, que começou há quatro meses, deve ficar pronta em março de 2013. Além de acesso para pedestres e ciclistas, a passarela contará com restaurante panorâmico. A intenção, segundo o diretor da Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Balneário Camboriú (Compur), Niênio Gontijo, é incrementar o turismo na Barra. A obra custará R$ 23,3 milhões, financiados pelo Badesc.