Quem viu este, provavelmente não verá outro igual. A considerar pela visível estafa dos ministros e declarações do presidente e relator, Joaquim Barbosa, jamais o Supremo se embretará em outro julgamento com tantos réus (38), tantas testemunhas (mais de 600) e tantas páginas (mais de 50 mil).
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A sucessão alucinante de fatos embaralha a memória: do distante 2 de agosto, o da sessão inaugural do julgamento do mensalão, pouco restou de igual na Justiça e na política do país. No começo, foram os às vezes enfadonhos, às vezes engraçados discursos de advogados e do Ministério Público. Roberto Gurgel, sisudo, foi duro com os réus e acusou um esquema “atrevido e escandaloso” de corrupção. O advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva, que defendia a ré Geiza Dias, surpreendeu e atacou a cliente: “funcionária mequetrefe”, disse. Deu certo: a funcionária de Marcos Valério escapou ilesa pela mão pesada dos ministros. Alguns riram da semelhança de Gurgel com o apresentador Jô Soares. Outros, falaram de novela.
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NÚMEROS E FATOS DO MENSALÃO:
AS CONCLUSÕES DO JULGAMENTO
:: O mensalão existiu – Após analisar as provas apresentadas pela Procuradoria-Geral da República, os ministros do Supremo Tribunal Federal concluíram que houve um esquema de distribuição de propina a agentes públicos a aliados em troca de apoio.
:: José Dirceu era o chefe – Condenado por formação de quadrilha e corrupção ativa, o ex-ministro foi apontado pela denúncia como chefe da quadrilha, o que foi reafirmado pela Corte.
:: Banco Rural fez empréstimos fraudulentos para Valério abastecer o esquema – O Supremo entendeu que a cúpula do Banco Rural forjou empréstimos fictícios para financiar a compra de apoio político no Congresso.
:: Mensalão teve dinheiro público – A compra do apoio ao governo Lula por conta do mensalão não envolveu apenas recursos de empresas corruptoras, mas também verbas públicas originadas no Banco do Brasil e na Câmara dos Deputados.
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:: Houve quadrilha no mensalão – De acordo com o entendimento dos ministros do STF, ex-dirigentes petistas, a cúpula das empresas de publicidade de Marcos Valério e a direção do Banco Rural formaram quadrilha com objetivo de comprar parlamentares.
UM JULGAMENTO TENSO
Foram mais de quatro meses de tensão. E de duelos. Ricardo Lewandowski x Joaquim Barbosa. Marco Aurélio Mello x Joaquim Barbosa. O relator esteve em quase todas as disputas. Disse que Lewandowski “barateava” o crime de corrupção. De Marco Aurélio, ouviu pedidos para que “policiasse” sua linguagem.
Nos bastidores do plenário, um personagem dos autos emergia da sombra. Ao passo em que sua defesa caía e as condenações sobrevinham, Marcos Valério procurou a Procuradoria-Geral da República. Envolveu Lula. É o pós-fim do julgamento, o que ainda virá. Por ora, caiu José Dirceu. Caiu Delúbio Soares. Foi condenado até o delator, Roberto Jefferson. Coube a ele a frase mais contundente contra Valério e sua suposta boa vontade com as investigações: “Delação premiada é coisa de canalha”.
Barbosa não quer mais. “Condenar não é fácil”, disse na segunda-feira. E concluiu:
– Que tenhamos conseguido terminar esta ação já é uma proeza extraordinária.
Em infográfico, saiba mais sobre o processo: