A notícia de que a cobrança de valores de ingresso diferente para homens e mulheres é ilegal e que bares, restaurantes e casas noturnas terão um mês para se adequarem gerou discussões e reacendeu o debate sobre igualdade de gênero na noite. Em Santa Catarina, as principais empresas dos setores de lazer e entretenimento começam a se preparar para atender a nota técnica do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O órgão, parte da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), divulgou o documento na última segunda-feira (4).

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O Grupo All, que tem casas em Florianópolis e Balneário Camboriú, discorda da decisão. Mas afirmou que está estudando a normativa, avaliação dos impactos que ela pode causar e planejamento de eventuais mudanças. Por meio de nota, o grupo disse que “compreende as boas intenções do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor”, mas “acredita firmemente na livre iniciativa para que cada negócio encontre estratégias para prosperar e possa se posicionar por opção e não obrigatoriedade, sendo contrário à ações que interfiram na economia de livre mercado”. A nota diz ainda que atualmente, além de preços diferenciados por gênero, também são praticados diversos descontos pelas empresas do setor de entretenimento, como para clientes frequentes, estudantes, idosos, fornecedores e parceiros, entre outros, e a medida abre precedentes para que haja igual interferência nessas práticas.

Em agosto de 2016, o Terraza, clube de música eletrônica de vanguarda que pertence ao Grupo All e tem unidades na Capital e em Balneário Camboriú, passou a cobrar o mesmo valor de ingressos para homens e mulheres. Foi a primeira e única casa do grupo – que também é dono do Stage Music Park, Posh, Villa Mix Jurerê Internacional, entre outros – a adotar os ingressos igualitários, decisão justificada pelo fato de o local reunir um público específico, mais interessado na música do que na paquera, por exemplo.

Para Luis Gustavo Zagonel, diretor do Warung, clube de música eletrônica localizado na Praia Brava, em Itajaí, a decisão foi uma surpresa por não ter sido aberto nenhum debate prévio sobre o assunto com empresários do ramo.

— Cada empresa tem sua forma de conduzir seus negócios. O que a gente vende no Warung é a música eletrônica, a gente não explora as mulheres. E fomos um dos primeiros da região a cobrar ingresso feminino, porque em outros lugares elas sequer pagavam para entrar. Em eventos no mundo todo são vendidos mais ingressos masculinos que femininos, isso é comum, e as casas têm que se preocupar com o equilíbrio de homens e mulheres. Os empresários vão sofrer diretamente com essa medida — acredita o diretor.

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Algumas casas de Santa Catarina já trabalhavam com venda de ingressos unissex de forma parcial antes da divulgação da nota técnica. A Fields, casa focada no segmento sertanejo do Centro de Florianópolis, já vinha oferecendo entradas unissex para alguns eventos. Em nota, a empresa disse que vai acatar a decisão e que dentro de um mês, prazo determinado para que os estabelecimentos se adequem, todos os eventos terão ingressos unissex.

O mesmo ocorre com o Centro de Eventos Petry, em Biguaçu, que já não fazia diferenciação de preços dos ingressos feminino e masculino nos eventos com shows nacionais. Em nota, o Grupo Petry afirmou que “para os eventos locais, inclusive aqueles promovidos por parceiros externos, estamos avaliando com a Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape) a melhor forma de adequação”.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Wood’s, que tem unidade em Balneário Camboriú, disse que estava analisando as tendências do mercado e não iria se pronunciar. Procurados pela reportagem, o Grupo Maria’s, que atua em Camboriú e Itajaí; o clube Green Valley, de Camboriú; a Shed, casa sertaneja de Balneário Camboriú; e o Grupo Novo Brasil, dono de casas como P12 e Milk, na Capital, não se pronunciaram até a publicação desta reportagem.

Saiba mais sobre o caso

O documento divulgado na última segunda-feira pela Senacon diz que a diferenciação de preços entre homens e mulheres é uma “afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana”, “prática comercial abusiva” que utiliza a mulher como “um objeto de marketing para atrair o sexo oposto aos eventos”. Após o período de um mês de adequação, a orientação é que sejam feitas fiscalizações nos locais até que as práticas consideradas abusivas sejam banidas. O consumidor também poderá exigir o menor valor, caso ainda haja diferenciação.

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