Comunidades e instituições precisam fazer muito mais para que o massacre no trânsito deixe de ser visto como fatalidade. ?

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Santa Catarina comemora a queda das mortes em rodovias estaduais e federais. Fatores como a tolerância zero da Lei Seca e até o aumento no valor da multa explicam a redução de acidentes nos últimos três anos no Estado, segundo a Polícia Rodoviária. Mas ainda há acidentes que reafirmam a relação entre mortes no trânsito e o consumo de álcool e drogas e certamente são semelhantes aos de levantamentos na maioria das cidades brasileiras. É a confirmação de que o massacre, principalmente de jovens, não representa uma fatalidade.

A maioria dos mais de 40 mil brasileiros que morrem todos os anos em acidentes é, na verdade, vítima da irresponsabilidade de quem dirige, da negligência dos governos e da complacência das leis e do Judiciário. Fatores relacionados com falhas mecânicas e outras questões técnicas são minoria entre as causas da mortandade em ruas e estradas. O que mata é a combinação de omissões e de atitudes delituosas. Desde 2008, quando o país adotou a chamada Lei Seca, corrigiu-se parte das deficiências. Mas se constata que, apesar das campanhas e blitze ainda é preciso fazer mais. É longo também o caminho a percorrer em escolas e instituições que podem intensificar ações educativas para as novas gerações. E o próprio Judiciário precisa adequar-se a uma realidade em que a impunidade é um complicador para quem participa dos esforços pela redução dos acidentes.

Nesse contexto, merece reprodução este desabafo do juiz Carlos Eduardo Richinitti, em recente artigo publicado em um jornal do Grupo RBS: “Não se prioriza educação, a lei é absolutamente frouxa e nós, juristas, talvez até porque esse é um crime que qualquer um pode cometer, em nome de garantias fundamentais, fundamentamos cada vez mais a impunidade que mata como guerra”. Não é a manifestação de um leigo, mas de um integrante do Judiciário, sobre a complacência com responsáveis por acidentes comprovadamente causados por motoristas alcoolizados.

Num momento em que os gaúchos ainda estão traumatizados com a morte da jovem de 16 anos, que teve o carro em que voltava de uma festa atingido por um condutor jovem com sinais de embriaguez, é de se perguntar se as comunidades, as forças de segurança, o Ministério Público e a Justiça fazem mesmo o que lhes compete em nome da paz no trânsito. Para que a resposta seja sim, é preciso fazer muito mais, especialmente agora, às vésperas das festas e, infelizmente, também das tragédias de fim de ano.

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