Os produtores de arroz, banana e trigo do Norte do Estado já sentem os efeitos da escassez de chuva que atinge a região há pelo menos um mês. Responsável por 50% da produção de banana em Santa Catarina, a região Norte pode ter queda de 5% a 10% na produtividade média da fruta, caso a falta de chuvas regulares persista até o mês de outubro. A normalidade do cultivo do arroz e do trigo, que encontra-se no período de floração, também preocupa os agricultores.
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A atenção se justifica pelo baixo volume de chuvas sobre o Planalto Norte e o Litoral Norte neste mês. Conforme levantamento técnico do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) e do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram), o Planalto Norte teve a terceira menor incidência de chuvas no Estado nesse período.
Até o dia 21 de setembro foi registrado na região precipitação de apenas 1,7 milímetros (mm), sendo que a média histórica para esta época do ano é de 156,4 mm. No Litoral Norte, o volume de chuva chegou a 4,3 mm, e a média histórica na região é de 159 mm.
Conforme a Central de Meteorológica da Epagri/Ciram, a tendência é de que o tempo se mantenha estável nos próximos dias. A previsão é de ocorrência de chuvas ao longo da semana, mas ainda em volumes muito baixos, insuficientes para normalizar a demanda de água para as plantações. Caso esse quadro seja mantido, as consequências para a agricultura serão inevitáveis.
Nesta segunda-feira, o nível do rio Piraí, canal de irrigação para diversos cultivos locais e responsável pelo abastecimento de cerca de 30% da população joinvilense, era de 1,88 metros – volume de água maior que a média normal do rio, de 1,50 metros. Segundo a Cia. Águas de Joinville, a alta é referente à chuva do último fim de semana e tende a baixar rapidamente. Para que o nível fique estabilizado é necessário maior incidência de chuvas na região. Enquanto isso, a população deve poupar água.
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Bananais ficam prejudicados
Os efeitos da estiagem também começam a aparecer nos bananais do Norte. Nos municípios de Corupá, Massaranduba, Joinville, Jaraguá do Sul e Garuva, onde são produzidas cerca de 600 toneladas de banana caturra e 41 toneladas de banana prata por ano, a Epagri monitora os possíveis impactos negativos ao setor em termos produtivos.
Segundo Rogério Goulart Junior, analista de socioeconomia e desenvolvimento rural da Epagri/Cepa, caso a estiagem continue assolando o Estado nas próximas duas semanas, o ciclo de desenvolvimento das frutas deve ser estendido em mais de um mês. A mudança de cronograma pode impactar diretamente na qualidade e no preço do produto.
– Entre os efeitos gerados pela estiagem podem estar a redução do calibre e tamanho da fruta, além de diminuição na densidade da polpa. Isso impacta negativamente no preço do produto, que já está baixo e pode ter queda maior – diz.
O analista destaca ainda maior risco de aumento da presença da doença Mal do Panamá, provocada pelas temperaturas altas aliadas ao estresse hídrico que debilita as plantas. Apesar de alguns bananais estarem plantados sobre solos cobertos e úmidos, a incidência do sol também corrobora para a secagem e folhas de bananeiras queimadas.
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A Epagri explica que não é possível ainda calcular o impacto geral na próxima safra, mas considera crucial que as condições dos níveis de chuva e água das bacias se estabeleçam nos próximos quinze dias para evitar perdas maiores. A bananicultura movimenta mais de R$ 519,2 milhões de valor bruto da produção (VBP) e mais de R$ 1,6 bilhão considerando toda a cadeia produtiva no Estado. O Norte do Estado responde por 50% da produção e 44% do VBP do setor em Santa Catarina.
Em época de semeadura, arrozeiras precisam de água
A falta de chuva impacta diretamente na umidade do solo e, em época de semeadura do arroz, que na região atinge uma área de 20 mil hectares, os rizicultores encontram dificuldade para irrigar o solo e fazer o manejo das áreas de plantio. De acordo com o gerente regional da Epagri, Hector Silvio Haverroth, caso a estiagem persista, muitos produtores deverão atrasar a semeadura e podem ter redução na produção, no segundo corte da colheita.
– A dificuldade se dá na irrigação das áreas de plantio, como no controle de arroz vermelho, em propriedades em sua maioria abastecidas pelo rio Piraí. A preocupação é quanto ao prazo para pulverização de herbicidas, adubação e irrigação, que, se a seca continuar, pode atrasar a semeadura. A situação, por enquanto, está normalizada, mas se não tiver volume de chuva satisfatório entre cinco e dez dias, pode se tornar um problema sério – destaca Haverroth.
No bairro Vila Nova, em Joinville, onde há grande número de arrozais, muitas das propriedades que utilizam águas de córregos e do rio Piraí nas plantações precisam intercalar a irrigação do solo ou atrasar o plantio. A situação é relatada pelo rizicultor Osni Altrak, de 54 anos, que possui uma área de plantio de 120 hectares na Estrada do Salto – cerca de 40 deles irrigados com água do rio.
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Segundo ele, em sua propriedade a situação está normalizada, mas algumas fontes da região estão secando e a regadura do solo ocorre de forma intercalada entre os rizicultores. Na mesma localidade, a condição é confirmada pelos rizicultores Paulo César e José Moser, que atrasaram o plantio por conta da falta de água.
– No final de semana, choveu e aliviou um pouco a situação, mas ainda não é suficiente e vamos ter que esperar. Já era para ter plantado, mas por enquanto não tem o que fazer – comenta Paulo César.
Cerca de dois quilômetros dali, a preocupação chega até a família Macoppi, que possui uma empresa especializada na produção de sementes certificadas de arroz em casca. A propriedade e produtores cooperantes de Joinville e cidades como Garuva, Guaramirim, Massaranduba, Camboriú, Rio do Cedro e Pouso Redondo são responsáveis por produzir cerca de 10 mil sacas de arroz e 1,4 mil toneladas de semente por ano.
Conforme o engenheiro agrônomo Roni Gil Macoppi, até o momento a produção está normalizada e, como os reservatórios não chegaram a secar, as atividades não paralisaram. Apesar disso, a irrigação também é feita de forma intercalada.
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– A chuva que caiu no final de semana ajudou a melhorar a situação e ainda estamos com as atividades dentro do normal, mas é necessário chover mais para não termos prejuízos – diz.
Safra de trigo pode ter perdas de até 40%
A safra de trigo é outra a enfrentar problemas devido ao déficit hídrico no Planalto Norte. A estimativa de área plantada é de cerca de 9,5 mil hectares na região, safra 30% a 35% menor que a registrada no ano passado. Em Canoinhas, onde 70% do trigo está em fase de florescimento, se as chuvas não retornarem até o enchimento do grão, haverá perda significativa de produtividade.
A estiagem pode provocar perdas de até 40% da produção, considerando que existem lavouras que não serão colhidas. A informação é do pesquisador da Epagri Gilcimar Voigt, que afirma que as chuvas registradas no fim de semana na região foram isoladas e de baixo volume, não alterando a situação da seca. Outro alerta refere-se ao baixo nível do rio Canoinhas, que marcava 1,13 metro na tarde de ontem, quando o nível normal é de aproximadamente 1,65 metro.
Os cultivos de milho e olerícolas também podem sofrer alterações na região, diz o engenheiro agrônomo Haroldo Elias. O impacto sobre a safra de milho é pequeno porque poucas áreas foram semeadas, mas ele destaca que para os agricultores que pensam em suceder a plantação por soja, pode ter atraso no plantio subsequente devido a falta de umidade do solo. Já as olerícolas estão tendo irrigação garantidas por meio de açudes.
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Já o cultivo de feijão não preocupa, uma vez que o plantio ocorre entre outubro e janeiro. Quanto aos produtores de leite, eles não registram perdas na produção, mas a estiagem prejudica o desenvolvimento das pastagens perenes e a alimentação dos animais é feita com o uso de silagem e ração, onerando os custos de produção.