Por volta de 11h30min desta sexta-feira (21), na praia do Campeche, em Florianópolis, dezenas de pescadores olhavam atentos ao mar. As tainhas rondavam o costão. Uns apontavam o trajeto do cardume, outros não estavam confiantes de que havia peixe suficiente para um arrastão. Era uma sensação de quase desânimo. Desde o dia 1º de maio, quando iniciou a temporada de pesca artesanal, poucas vezes os pescadores invadiram o mar com as redes. De acordo com a Federação de Pesca de Santa Catarina (Fepesc), foram capturadas 45 toneladas de tainha neste ano. No mesmo período do ano passado, eram 1 mil toneladas no período.
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Ansiosos, pescadores de um dos quatro ranchos da praia do Campeche acataram o pedido do vigia — que enxergou o vermelhão do cardume na água — e entraram com o barco no mar no final da manhã desta sexta. O trabalho é pesado. É necessário o apoio de pescadores, dos camaradas, de familiares, e de quem mais estiver na praia e quiser ajudar. O barco encarou as ondas da beira da praia e levou a rede para cercar o cardume. Mas ele era pequeno e o repuxo no mar não colaborou. Depois de pelo menos uma hora e meia de esforço, apenas três tainhas ficaram nas redes.

— Este ano está difícil. O frio não chega, o vento Sul não chega, e a tainha não está subindo. Nós reformamos o barco, arrumamos as redes. Pelo menos até agora, estamos tendo um prejuízo de R$ 20 mil. Mas estamos na expectativa que com a chegada do inverno, elas apareçam por julho — explicou um dos sócios da embarcação do Campeche, Eduardo Pacheco, 40 anos.
Ainda na manhã desta sexta, mais cedo, o mesmo grupo de pescadores já havia conseguido arrastar ao menos 120 tainhas para a praia. Como era uma quantidade considerada bem pequena, não serve para a venda. Os peixes foram divididos entre todos que ajudaram no arrastão.
Outro rancho de pesca do bairro teve um pouco mais de sorte nesta sexta-feira: pegou 600 tainhas, que totalizavam entre 800 a 900 quilos. As praias de Gravatá e Santinho, também na Capital, registraram capturas. No Balneário Rincão, no Sul do Estado, mais peixeis na rede nesta sexta. Por lá, foram 200 tainhas.
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De acordo com o presidente da Fepesc, Ivo Silva, a expectativa é de que o Estado consiga ao menos bater metade da meta estabelecida para a temporada deste ano, de 2 mil toneladas de tainha.
— Eu espero que dê pelo menos 1,2 mil toneladas. Junho sempre foi o melhor mês para a pesca artesanal, mas temos registros de lanços grandes em julho. Estamos com esperança — disse.

Lanço recorde foi registrado no Sul de SC
Foi na última quinta-feira (20), na praia da Galheta, em Laguna, no Sul de SC, que os pescadores conseguiram arrastar o maior lanço desta temporada no Estado, afirmou o presidente da Fepesc. Foram quatro toneladas de peixes.
— Estes últimos lanços, tanto no Sul como na Capital, aumentam nossa expectativa. Por enquanto, o Sul do Estado conseguiu arrastar mais tainha, principalmente em Passos de Torres e Balneário Rincão. Esperamos que o vento Sul ajude essa tainha a subir agora para a região da Ilha de Santa Catarina — avalia Ivo.
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Segundo ele, as praias do Rio Grande do Sul, que ficam próximas à divisa com Santa Catarina, também estão registrando bons lanços nesta temporada.
Tempo pode não colaborar
A expectativa para o tempo neste inverno não é muito animadora para os pescadores. Este ano, por influência do El Niño, existe a possibilidade de as temperaturas não ficarem tão frias. Com um inverno de temperaturas amenas e mais chuvas, as tainhas podem não entrar nos costões, e seguirem reto para as águas mais quentes do Rio de Janeiro e até do Espírito Santo, onde geralmente ocorre a desova. Os cardumes migram a partir de maio da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, para o mar aberto.