A baixa procura pela vacina possui impactos diretos na situação do sistema de saúde catarinense, que já enfrenta superlotação, e além das doenças também recebe outros tipos de atendimentos, como cirurgias, acidentes, entre outros. A médica infectologista Renata Zomer de Albernaz Muniz reforça que as doenças que possuem vacina poderiam ser evitadas, e dessa forma conter esse aumento de demanda.
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— Com menos pessoas vacinadas, há um aumento no número de casos de doenças evitáveis, como gripe e COVID-19, o que sobrecarrega ainda mais essas instituições de saúde. Isso resulta em falta de leitos, recursos e pessoal para lidar com a demanda, o que pode comprometer a qualidade do atendimento e a capacidade de salvar vidas. Além disso, é importante ressaltar que a vacinação protege as pessoas do agravamento da doença e até mesmo da morte, reforçando a importância de se vacinar — explica Renata.
Já o médico Marcos Paulo Guchert reforça também que a baixa adesão às campanhas de vacinação pode resultar no reaparecimento de doenças graves, como sarampo, poliomielite e difteria. Ele destaca ainda que o ato de se vacinar é coletivo, e não protege apenas quem se imuniza, mas também quem está ao redor, já que interrompe casos graves das doenças.
O infectologista aponta como um dos motivos para a baixa procura pela vacinação uma espécie de “menosprezo” da geração atual com os imunizantes por conviver com uma sociedade em que diversas doenças já foram erradicadas, justamente por conta das vacinas.
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— Dizemos que as vacinas, de um modo geral, são “vítimas de seu próprio sucesso”. A geração atual não teve contato com as doenças graves, como poliomielite, varíola, difteria, sarampo, que foram eliminadas com as vacinas e, consequentemente, menospreza o benefício que as vacinas trouxeram à vida moderna — alega o médico.
Já a médica Carolina Ponzi afirma que existe um fenômeno chamado “hesitação vacinal”, de pessoas que não são contrárias à vacinação, mas possuem dúvidas, ou medo.
— Então elas acabam não se vacinando por não terem as informações corretas, por ficarem inseguras. E isso a gente sabe que quando a gente orienta bem um paciente, o familiar de um paciente, sobre imunizações, a gente fala sobre o que essa vacina vai proteger, quais são os riscos da doença para qual a pessoa está se vacinando e conversa a respeito de efeitos colaterais de imunizações. A gente acaba dando subsídios para essa pessoa decidir em prol de vacinar-se — afirma a infectologista.
Ao mesmo tempo que uma parcela da população não busca as vacinas por falta de informação ou medo, outros são contrários aos imunizantes, em um movimento crescente, que ganhou força durante a pandemia de Covid-19.
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— O fenômeno antivacina é global e existe há algum tempo, sendo amplificado pela Covid-19. No entanto, deve ser combatido com informações científicas que comprovam a segurança e eficácia das vacinas. Em Santa Catarina, o movimento antivacina pode estar contribuindo para a baixa adesão às campanhas de vacinação ao disseminar informações falsas ou enganosas sobre a segurança das vacinas. Isso pode resultar na diminuição da confiança do público em relação às vacinas e, consequentemente, em uma menor adesão à vacinação — relata a médica Renata Zomer.
Uma das bases do movimento são as notícias falsas e a disseminação de conteúdos sem embasamento científico nas redes sociais. Com isso, a proporção dos movimentos se expande, e os riscos também.
— Infelizmente, os indivíduos com esta postura [antivacina] são muito ativos em redes sociais, na divulgação de notícias falsas e na deturpação de alguns dados, aterrorizando pessoas com pouca informação. Essas notícias falsas disseminam-se com muita rapidez e são muito contagiosas, assim como as doenças que certamente ressurgirão, caso as coberturas vacinas não sejam restabelecidas. Lamentavelmente, inclusive médicos e outros profissionais de saúde têm aderido ao movimento antivacina, geralmente de forma oportunista e atrelada a ganhos secundários questionáveis — diz o médico Marcos Paulo.
Idosos e crianças de 5 a 9 anos representam maioria dos casos
Marilésia Soares Schroeder, de 73 anos, só esperou o tempo de se recuperar de uma cirurgia na coluna para ir ao Ambulatório Geral da Família do Centro de Blumenau garantir a dose dela. A aposentada nem se lembra há quantos anos se imuniza contra a influenza, assim como não se recorda quando foi a última vez que pegou uma gripe.
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— Tomei a sexta dose da Covid e tomo a da gripe desde que começaram a oferecer, já tenho duas cadernetas de tanto carimbo que tem — conta orgulhosa.
Mãe de dois filhos e viúva há quatro anos, Marilésia gosta de cuidar da saúde e valoriza a ciência. Faz parte do grupo prioritário da campanha, já que tem mais de 60 anos. Em Blumenau, a meta é imunizar 127,6 mil pessoas do público-alvo, mas até o começo desta semana apenas cerca de 25% desse total havia procurado alguma unidade de saúde para garantir a dose.
— Quando alguém me diz que não toma a vacina eu só falo “problema seu”, mas a vontade é dizer que é ignorância — comenta a moradora da região central da cidade.
Em Florianópolis, a vacinação contra a gripe também enfrenta desafios para atingir as metas de imunização. Segundo a secretaria municipal de Saúde, a cobertura vacinal é de 11,37% em crianças de seis meses a menores de 6 anos, 10,43% em gestantes, 7,20% em puérperas e 31,73% em idosos.
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— As internações por doenças respiratórias haviam atingido pico na primeira semana de março e voltaram a subir no mês de abril. Os registros são mais prevalentes entre as crianças (0 a 4 anos), mas também idosos e crianças de 5 a 9 anos — afirma Cristina Pires Pauluci, secretária de Saúde de Florianópolis.
Entre as ações adotadas pelo municípios estão a vacinação em Instituições de Longa Permanência para Idosos e vacinação domiciliar para pessoas com dificuldade de locomoção, o Dia D, realizado em 13 de abril, a divulgação da campanha em escolas e o uso da Van da Vacinação em bairros do município.
A secretaria ainda pretende, até o fim da campanha, identificar áreas de baixa cobertura para ajustar as estratégias, oferecer vacinação aos sábados e mais pontos de vacinação em locais de grande circulação e reforçar as campanhas de conscientização, assim como articular com outras divisões da administração para promover a vacinação em grupos de atividades.
Vacinação contra Covid-19 e dengue também tem baixa adesão
Além da gripe, a Covid-19 segue entre as doenças respiratórias que provocam aumento nos atendimentos nas unidades de saúde e também internações. A vacina contra a doença, que teve a campanha amplamente divulgada desde janeiro de 2021, agora faz parte do calendário vacinal de rotina, e também precisa de atenção. Atualmente, a recomendação do Ministério da Saúde para ter o esquema da vacinação contra a Covid-19 completo, para pessoas acima de 12 anos, é ter duas doses da vacina monovalente, ou uma dose da vacina bivalente.
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Crianças a partir dos seis meses de idade, até 4 anos, 11 meses e 29 dias devem se imunizar com a Pfizer Baby, aos seis, sete e nove meses. A Coronavac pode ser usada em crianças com 3 e 4 anos de idade, em duas doses, com uma dose de reforço após a segunda dose. Já a partir dos 5 anos, até 11 anos, 11 meses e 29 dias, a recomendação é a Pfizer pediátrica, em duas doses.
No caso dos grupos prioritários, a orientação é fazer a vacinação com duas doses da vacina Pfizer bivalente. Quem já tinha uma ou mais doses de outras vacinas contra a doença, também deve tomar uma dose da vacina bivalente para completar o esquema.
Crianças a partir dos 5 anos até 11 anos, 11 meses e 29 dias, que façam parte dos grupos prioritários, devem também tomar uma dose de reforço seis meses após a segunda dose.
O painel do Ministério da Saúde com dados da cobertura vacinal contra a Covid-19 em Santa Catarina mostra que 77,8% da população se imunizou com duas doses da vacina, enquanto 40,13% teve a cobertura com três doses, e 11,82% com quatro doses. Já a cobertura vacinal bivalente, contabilizada separadamente, foi de 13,67%.
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O número fica abaixo da média do país, que possui 84,5% de cobertura vacinal com duas doses. O Estado fica em 19º lugar em comparação com os outros estados do país e o Distrito Federal.
Doses contra dengue nas regiões mais críticas
Outra campanha de vacinação em curso no momento que preocupa pela baixa procura é a da dengue. Por enquanto, a vacina é oferecida para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, nas regiões em que a situação da dengue é mais crítica. A vacinação ocorre em duas doses, com um intervalo de três meses entre elas.
Na região nordeste de Santa Catarina, que compreende os municípios de Barra Velha, Corupá, Guaramirim, Jaraguá do Sul, Massaranduba, São João do Itaperiú, Schroeder, Araquari, Balneário Barra do Sul, Garuva, Itapoá, Joinville e São Francisco do Sul, a imunização atingiu 31,49% do público alvo. Os dados são da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de SC (Dive), atualizados na segunda-feira (22).
Na Grande Florianópolis, que compreende as cidades de Águas Mornas, Alfredo Wagner, Angelina, Anitápolis, Antônio Carlos, Biguaçu, Canelinha, Florianópolis, Garopaba, Governador Celso Ramos, Leoberto Leal, Major Gercino, Nova Trento, Palhoça, Paulo Lopes, Rancho Queimado, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, São João Batista, São José e São Pedro de Alcântara, a cobertura vacinal é de 13,33%.
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SC enfrenta desafios para vacinar população
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