A dança é uma arte que desafia os limites do corpo. Dedicação e disciplina são credenciais para quem deseja dedicar-se, porém, para pessoas com deficiência visual as provocações são ainda maiores. Mas nada que a sensibilidade não dê conta. É o que dizem os bailarinos da Companhia Bem Galantes, da Associação Catarinense para Integração do Cego (ACIC), que vão participar da 40ª edição do Festival de Dança de Joinville.

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As apresentações dos 24 dançarinos cegos ou com baixa visão serão dias 26 e 27. No palco Feira da Sapatilha, o grupo da ACIC promete encantar o público no dia 26 das 13h às 14h45. No dia 27 de julho o Bem Galantes se exibe das 14h45 às 15h45. Desta vez no Shopping Cidade das Flores.

— Na ACIC, nós entendemos a dança como uma possibilidade para todos os corpos e um direito a qualquer pessoa. Além disso, uma ferramenta muito eficaz na questão da habilitação reabilitação de que tem deficiência visual — diz a professora e coreógrafa Mara Cordeiro.

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A coreografia “Eu quero que o mundo me veja” (dança contemporânea) é uma criação coletiva, pois em vários momentos os movimentos são improvisados pelos alunos. Além da coreógrafa, o trabalho também conta com a participação do músico Mateus Costa, do Duo Acorda em Si.

Mara explica que a dança contemporânea permite explorar as possibilidades de movimento de cada indivíduo, além de interagir com outras linguagens da arte. No grupo da ACIC, a técnica utilizada é do contato por improvisação, onde é criado um laboratório de movimentos, o que faz com que cada bailarino vá ampliando seu repertório. Para a professora, ensinar dança para pessoas com deficiência visual é gratificante. Os alunos também consideram uma oportunidade ímpar.

Mateus Costa, do Duo Acorda em Si

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“Quando eu era criança, dançar era só para corpos perfeitos”

É o caso de Inês Berlanda Seidler, 44 anos, que desde bebê convive com cegueira congênita. Atualmente ela tem problema auditivo associado, mas com boa funcionalidade e consegue levar uma vida bem ativa enquanto professora da ACIC, onde trabalha há 20 anos. Além das aulas de dança, Inês se ocupa com teatro, comunicação alternativa (Libras) e artesanato em cerâmica. Inês também gosta de leitura e escreveu o livro de poesias Inclusão em prosa e verso (Amazon), no qual faz um relato da vida enquanto criança cega e mulher adulta profissional. É casada com um portador de deficiência visual, mãe de uma moça de 22 anos, ciclista (Projeto Novos Horizontes) e dona de um cachorro.

— Não sei responder quando me perguntam como é ser bailarina com deficiência visual, pois a cegueira sempre esteve comigo. Posso responder que dançar é libertador, é um processo coletivo que me faz não pensar em mais nada para só me deixar levar pela expressão corporal.

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Inês conta que desde criança gosta de dançar, mas anos atrás era uma atividade quase impossível para uma menina cega. A sociedade que se tinha, explica, pensava que a dança exigia movimentos coreografados e para um perfil que tivesse equilíbrio, que conseguisse ficar na ponte do pé. A família morava em Xanxerê a foi a minha irmã gêmea quem ensinou Inês:

— A gente ouvia e dançava música gauchesca. Depois, já em 2010, a professora Mara Cordeiro me convidou para uma oficina. Gostei muto daqueles movimentos e descobri que não havia certo ou errado, apenas vontade em dançar. Desde então, já foram várias apresentações como bailarina.

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Para Inês e seus parceiros da companhia, as pessoas com deficiência produzem e consomem arte de acordo. Uma das experiências mais marcantes para ela foi com a lira (círculo), uma espécie de dança acrobática inspirada no circo. Inês diz que a cada ensaio busca melhorar a performance.

— Quando eu criança e adolescente, pensava que a dança era apenas para pessoas que enxergassem. Não penso que exista um grande desafio para nós enquanto bailarinos cegos, mas para a sociedade: quebrar o mito de que a dança é só para aqueles corpos perfeitos.

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A participação dos bailarinos da ACIC é resultado de uma parceria entre o Instituto Festival de Dança de Joinville e Fundação Catarinense de Educação Especial. Para o assistente-executivo do Instituto Dança Festival, a parceria reforça ações ligadas a área de inclusão e acessibilidade.

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