O azeite de oliva enfrenta uma disparada de preços nos últimos meses. Comum em receitas típicas de Natal, o ingrediente deve exigir dos consumidores uma pesquisa neste fim de ano. A alta tem interferido nos custos de restaurantes catarinenses, mas em contrapartida, produtores de Santa Catarina enxergam uma possível oportunidade de ganhar espaço no mercado.

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O aumento acumulado no preço do azeite, entre janeiro e novembro, já chega a 25% neste ano no Estado. O número é cinco vezes maior do que a inflação geral registrada neste período, de 4,92%, segundo o Índice de Custo de Vida (ICV) de Florianópolis, calculado pela Udesc/Esag. A diferença fica ainda maior quando o aumento do produto é comparado com a inflação específica de alimentos e bebidas, que foi de 3,57% na capital catarinense nesses mesmos meses.

Por que subiu tanto?

O principal motivo da alta dos preços é o calor. Países do Mediterrâneo, como Portugal e Espanha, principais produtores de azeite no mundo, enfrentaram o terceiro verão consecutivo com altas temperaturas e seca extrema. Com isso, as árvores produziram menos frutos e a produção nestes países sofreu forte queda. A Espanha, que extrai quase metade de todo o azeite consumido no mundo, viu a produção cair pela metade. A escassez do produto levou até mesmo a roubos de cargas no país espanhol.

O reflexo disso tem sido o aumento nos preços em todo o mundo, incluindo o Brasil, onde 99% de todo o azeite consumido no país é importado. A situação exige mudanças e estratégias para consumidores e também a quem precisa de grandes quantidades do ingrediente.

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O chef Anderson Antônio, proprietário do restaurante Taberna Ibérica, de Florianópolis, conta que apelou para os fornecedores fiéis em busca de bons preços. Na semana passada, adquiriu um lote de um dos distribuidores com preço ainda não tão influenciado pelos aumentos recentes. Fez estoque do produto que deve ser suficiente para o preparo dos pratos até o fim de janeiro.

Ele conta que como a cozinha é portuguesa tradicional, com muito bacalhau, as receitas exigem bastante azeite — em média, sete litros por dia. Na próxima compra, no entanto, o estabelecimento não deve conseguir escapar dos preços já inflacionados.

— A gente em geral trabalha com garantia de duas, três semanas no máximo, mas como vi a tendência de que o azeite ia subir bastante, eu fui estocando. Com essa estratégia, não precisei repassar nada ao cliente ainda, mas devo precisar em janeiro ou fevereiro — conta.

Veja fotos da produção de azeite de oliva em SC

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Para produtores de SC, alta pode ser oportunidade

Ao mesmo tempo em que pesa para o consumidor e para restaurantes, o aumento nos preços é visto como uma possível oportunidade para produtores de azeite de oliva em Santa Catarina. O Estado tem oito propriedades que cultivam azeitonas e extraem o produto, a maioria delas no Oeste. Segundo os dados da Epagri Chapecó, a produção neste ano no Estado foi de cerca de 28 toneladas de olivas, o suficiente para produzir aproximadamente 3 mil litros de azeite.

O cultivo de oliveiras com foco no azeite em Santa Catarina é um processo relativamente recente. Teve uma iniciativa em 2005, mas ganhou força nos últimos 10 anos.

O produtor Marcos Matias Roman, de Campo Erê, explica que a alta dos preços dos azeites importados pode facilitar a entrada no mercado dos produtos feitos no Estado. Isso porque o preço dos produtos tradicionalmente encontrados em supermercados em alguns casos já ultrapassa a casa dos R$ 50 e até R$ 60 pela garrafa de meio litro. Com isso, aproximam-se dos valores de alguns dos extravirgens produzidos no Estado, vendidos na faixa de R$ 100.

— Eu mantive meu preço, então vai facilitar a gente entrar no mercado para conquistar o paladar do cliente, para ele ver que nosso produto é bem superior ao azeite importado e depois poder permanecer com nosso produto — explica.

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O agrônomo Vagner Brasil Costa, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e pesquisador de projetos de olivicultura no Rio Grande do Sul, confirma que a alta no preço dos importados pode tornar os azeites brasileiros mais competitivos. Uma vez consumindo os nacionais, segundo o especialista, o consumidor ainda evitaria risco de adquirir produtos importados fraudados, vendidos como extravirgem em supermercados, mas que seriam de qualidade inferior — uma crítica comum entre os produtores nacionais.

— A principal diferença é que ele estará consumindo azeite extravirgem mesmo, de qualidade. A gente pode conseguir chegar, mostrar ao consumidor brasileiro que produzimos bons azeites e que temos preços equiparados, ou mesmo [mostrar] o porquê de às vezes ele ser mais caro, que é ainda haver pouca produtividade, o produtor ter o custo maior para produzir esse azeite — avalia.

Veja vídeo sobre produção de azeite de oliva em SC

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