Primeiro foi um estrondo ruidoso. Em seguida o andar de cima da casa desabou sobre três pessoas. No momento da tragédia chovia forte e toda a redondeza estava às escuras. Não se via nada além do que o clarão dos raios permitia vislumbrar. Assim que o temporal começou, Marli Leal foi até o andar superior e trouxe para baixo os netos José Carlos Oliveira, 6 , e Amanda da Silva Oliveira, 14.

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Os pais das crianças estavam em Balneário Camboriú e por precaução Marli achou melhor trazê-los para o térreo, onde mora no número 80 da Rua Ponta Porã, uma transversal da Belo Horizonte, no bairro Glória. Na sala às escuras, as crianças foram para o sofá e a avó, de 57 anos, sentou-se numa cadeira ao lado. Sem muito o que fazer em horas assim, os três aguardavam pacientes a chuva passar.

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Até que por volta de 20h15min de quinta-feira um ruído forte precedeu a tragédia que se abateria sobre eles segundos depois: parte do barranco nos fundos do quintal desmoronou, levando junto barro e galhos de árvores. O entulho atingiu a parede de alvenaria do andar térreo, que cedeu e não suportou o primeiro piso da casa, feito em madeira. Paredes, móveis, tudo caiu sobre Marli e os netos.

– Vó, nós vamos morrer! Tira essa parede daqui! Nós vamos morrer! – gritava Amanda, abraçada ao irmão caçula e tentando salvá-lo de algo pior.

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– Fiquem calmos! Respirem devagar! – aconselhava Marli, mal disfarçando o nervosismo.

– Eles estão demorando – respondeu a neta.

Marli tentou socorro pelo celular, mas tamanha era a aflição que não conseguiu ligar para ninguém. Mas os moradores das casas ao lado assistiram a tudo e acionaram os bombeiros. A avó foi a primeira a sair de casa, pela janela do quarto de costura. Por sorte ela foi protegida por uma mesa, que aparou as madeiras do andar do cima e evitou um acidente maior.

Uma hora depois, foi a vez de José Carlos ser resgatado. Ele estava abraçado à irmã e envolto em um cobertor, o que lhe salvou de arranhões e outros ferimentos de maior gravidade. Enquanto ocorria o resgate, a avó foi aconselhada a se abrigar na ambulância dos bombeiros. Mas ela se negou e disse que só sairia dali quando os netos também estivessem a salvo.

Marli viu José Carlos ser levado para o Hospital Santo Antônio, de onde recebeu alta na manhã de sexta-feira, enquanto a neta Amanda permanecia sob os escombros, com parte de um caibro em cima do abdômen. À esta altura, os pais das crianças já haviam sido informados da situação e, desesperados, estavam a caminho de casa.

Apenas três horas depois do desabamento, os bombeiros conseguiram retirar Amanda dos destroços. Ela também foi levada para o Santo Antônio, reclamando de dormência na perna direita. Uma ressonância não acusou nenhuma fratura e, por isso, ainda na sexta seria submetida a novos exames.

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Família planeja reconstruir a casa

No hospital, Amanda disse que não quer voltar para o antigo endereço e pediu que a mãe, Mércia da Silva, 30 anos, não chorasse mais. A família por enquanto está abrigada na casa de outra filha de Marli, perto dali. José Carlos, que teve apenas um hematoma na região da barriga, parece estar recuperado: passou a sexta-feira brincando com amigos.

A avó só conseguiu dormir algumas horas à base de remédios. Disse que ainda estava em pânico, sem acreditar no que havia acontecido a eles. Os dois irmãos, alunos na escola Celso Ramos, estão em férias. O pai Salmo Oliveira Júnior, 36 anos, funcionário da Altona, ainda abatido, com olhos fundos e marejados, se emociona ao relembrar os apuros da noite anterior:

– É triste ver que a casa, cuidada com carinho, se foi, não tem mais nada.

Morando há 14 anos na Rua Ponta Porã, a família calcula que tenha perdido tudo. Marli, que trabalha em uma confecção e complementa a renda costurando em casa, acredita que tenha perdido também sua máquina de costura. O plano deles, caso a Defesa Civil autorize, é construir uma nova casa no mesmo terreno.

– Deus ajudou. Colocou sua mão ali e nos protegeu _ comenta Marli, agora um pouco mais aliviada.

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Para ajudar a família, entre em contato pelo 3329-0978/9913-0980.