Foi aliando nossa paixão pelas cicloviagens e a vontade de conhecer mais a Europa utilizando a bicicleta como meio de transporte que pensamos nesta viagem poucos meses antes de partirmos. Nossa viagem começou no início de setembro de 2013 e terminou no início de novembro, totalizando dois meses entre o verão e o outono. Diariamente, pedalávamos uma média de 100 quilômetros. Tudo dependia do relevo, do clima e se tínhamos um destino fixo naquele dia. Totalizamos a viagem em 4.5 mil quilômetros aproximadamente.

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Esta foi nossa segunda grande cicloviagem juntos: na primeira percorremos o litoral nordestino, de Fortaleza a Salvador, na companhia de cinco amigos, percorrendo cerca de 2 mil quilômetros. Já realizamos outras pequenas viagens no Sul do Brasil, além de utilizar também a bike como transporte na grande Florianópolis, apesar da falta de estrutura, dos riscos e do alto índice de atropelamentos de ciclistas na região.

Para essa viagem, não fizemos grandes planos iniciais, apenas um roteiro rudimentar dos países pelos quais gostaríamos de percorrer e conhecer. O plano mais elaborado, que incluía as cidades e estradas pelas quais iríamos pedalar, foi sendo elaborado e reelaborado ao longo da viagem, muitas vezes no dia anterior. Isso não era uma grande preocupação para nós, pois as sinalizações em geral são boas, e contávamos, além do GPS, com um bom e velho mapa para os momentos de dúvida. Foram raros os momentos em que nos perdemos. A única preocupação era evitar ao máximo as grandes cidades, principalmente as capitais, pelo transtorno da entrada e de circulação na mesma (ainda que muitas possuíam excelente infraestrutura cicloviária).

Além disso, buscamos conhecer também opções de hospedagem solidária para cicloviajantes, e por meio de amigos conhecemos o WarmShowers (www.warmshowers.org), uma rede mundial de hospitalidade para viajantes de bicicleta. Quando não havia hospedeiros disponíveis para nos alojar, buscávamos outras opções como campings (enquanto ainda estava quente para acampar), pequenas pousadas ou hotéis do tipo Bed and Breakfast.

Dos Alpes ao Reno

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Chegamos em Paris algumas semanas antes do início da viagem, e fomos a Milão receber nossas bicicletas que havíamos comprado pela internet com a ajuda de um amigo, que realizou o trâmite da compra e a manutenção delas. De Milão retornamos para Paris pedalando, atravessando os Alpes pela região de Bardonecchia, na Itália e Briançon, na França, e descendo até Grenoble, também em território francês. Percorremos do sudeste da França até Paris, passando por lindas regiões montanhosas (o Maciço Central) e por caminhos chamados Voies Vertes, ou Vias Verdes, sendo a maioria antigos caminhos ferroviários transformados em vias compartilhadas para ciclistas, pedestres, praticantes de roller e patins, e outros não-motorizados. Após alguns dias de descanso na casa de familiares em Paris, seguimos para nosso segundo trecho, como denominamos.

Da capital francesa subimos até a Bélgica, nos direcionando para a linda cidade de Bruges (chamada de Veneza do Norte). Decidimos não passar por Bruxelas pois queríamos chegar em Amsterdã pelo litoral noroeste da Holanda, e a capital encontra-se justamente no lado oposto. Desta maneira, cruzamos a Bélgica e a costa oeste da Holanda passando por lindas ilhas e áreas rurais, um caminho totalmente plano e bastante ventoso. As sinalizações para rotas de bike na Bélgica são muito bem estabelecidas e mudam ao entrar na Holanda, mas seguem os princípios de point bike, ou pontos guia, os quais formam uma grande rede cicloviária no país, entre cidades, bairros ou comunidades. Como não poderia deixar de ser, as famosas cervejas belgas e os sucos e laticínios na Holanda foram nossos grandes companheiros na viagem.

Chegando em Amsterdã nos encantamos com a maravilhosa cidade, porém deve-se atentar muito para o roubo de bicicletas. Aproveitamos dois dias para conhecer essa linda capital. Nosso próximo passo seria pedalar até a casa de um grande amigo no sul da Alemanha, o Johannes, saindo por ciclovias que beiram os canais holandeses. Rapidamente já estávamos em território alemão, buscando alcançar o rio Reno, a partir do qual seguimos beirando as muito bem estruturadas ciclovias até a casa desse amigo, percorrendo cenários lindos, de enormes vinhedos nas montanhas, castelos medievais e pequenas e médias cidades importantes na história do país, como Düsseldorf, Köln e Koblenz.

Encantos do leste europeu

Após descansar por alguns dias na casa do nosso amigo, seguimos em direção a Viena, na Áustria. Neste trecho, deixamos o rio Reno para encontrar outro importante rio, em Regensburg, ainda na Alemanha: o rio Danubio. Assim como o Reno, o local é totalmente indicado para ciclistas, com ciclovias bem indicadas (especialmente com a ajuda de mapas específicos destas ciclovias que beiram rios), um relevo plano, e muitos cenários maravilhosos, cores de outono e pequenas cidades típicas.

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Nosso plano inicial seria ir a Praga, na República Tcheca, porém as previsões do tempo de frio intenso, a travessia de duas grandes cadeias de montanhas e a pedalada agradável junto ao rio Danubio nos fizeram trocar de direção, seguindo até Budapeste pelo rio. Em apenas um dia saímos de Viena e já chegamos na capital da Eslováquia, Bratislava, onde os preços de tudo já eram bem mais reduzidos, porém as condições das ciclovias muito piores. Rapidamente chegamos a Budapeste, uma cidade encantadora, linda e bem organizada, pela qual passa o Danubio, com ligações entre os dois lados através de cinco pontes. Nesta capital, há oito anos não havia pessoas usando a bike como meio de transporte. Hoje, por força dos movimentos sociais e de incentivo às ciclovias, cerca de 5% da população pedala diariamente como forma de transporte, um grande exemplo para Floripa.

Nosso trecho seguinte partiu de Budapeste para seguir novamente entre as montanhas que cruzam o interior da Hungria, em direção à Croácia, para enfim chegar ao mar Adriático. Este caminho foi lindo, percorrendo cidades e vilas agrícolas e ainda duas cidades com águas termais maravilhosas, bastante comuns nesta região do interior da Croácia. Seguimos até a costa do mar Adriático, por onde percorremos as lindas ilhas de Krk, Rab, Pag e Brac.

Da cidade de Split, ainda na Croácia pegamos uma balsa que atravessou o Mar Adriático até Ancona, na Itália, onde um grande amigo nos aguardava. Após alguns dias de descanso, seguimos nosso rumo para Turim (este trecho de trem), de onde, com a companhia de outro amigo italiano, pedalamos até Nice, na França, atravessando novamente os Alpes. Foi nessa linda cidade francesa mediterrânea que encerramos nossa cicloviagem.