Santa Catarina tem 50.093 caminhoneiros autônomos que podem passar a receber o chamado auxílio-caminhoneiro, que o governo federal tenta criar a três meses da eleição. Esse é o número de profissionais do Estado registrados como Transportadores Autônomos de Cargas (TAC) na Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT), critério que será utilizado para a concessão do benefício. Em todo o Brasil, há 872 mil autônomos cadastrados.

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SC tem 41 mil famílias na fila de espera do Auxílio Brasil; Senado ampliou benefício

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O voucher para os caminhoneiros faz parte da chamada PEC Kamikaze, aprovada na última semana no Senado e que agora será analisada pela Câmara. Nesta quinta (7), uma comissão especial dos deputados deve votar o texto que, depois, seguirá para o plenário. Se aprovado na Câmara, sem alterações, o projeto segue para sanção do presidente Jair Bolsonaro.

A proposta cria um pacote de bondades do governo federal às vésperas da campanha para a eleição presidencial. A medida recebe críticas de parlamentares e especialistas, por criar benefício social em ano de eleições, o que é proibido pela legislação, e por utilizar a estratégia de declarar “estado de emergência” no país para permitir a criação dos programas.

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Além do vale para os caminhoneiros, a PEC prevê a inclusão de famílias da fila de espera pelo Auxílio Brasil, o aumento do benefício de R$ 400 para R$ 600 até dezembro e o aumento do vale-gás para R$ 120 a cada dois meses. Há previsão ainda de incluir os taxistas no rol de beneficiários, com limite de até R$ 2 bilhões, e de subsídios para empresas de transportes, por causa da gratuidade de pessoas acima de 65 anos, e para empresas da cadeia do etanol. O impacto total aos cofres do governo federal é estimado em R$ 41,2 bilhões.

Entre os caminhoneiros, o benefício divide opiniões. Jean César Ogliari, 45 anos, é caminhoneiro autônomo desde a adolescência e atua na região de Navegantes, no Vale do Itajaí. Ele define o possível auxílio como “esmola” e diz que o valor não deve mudar nada no dia a dia de trabalho dos profissionais:

— Fui abastecer hoje, coloquei 130 litros, deu R$ 900. Eu já rodei hoje 320 quilômetros, praticamente já gastei esse valor todo. O que isso vai mudar no dia a dia?

Jean acredita que mais eficaz para os caminhoneiros seriam mudanças que reduzissem o preço dos combustíveis, por exemplo.

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— Se esse governo quisesse mudar algo, ele tem poder na Petrobras, por que não muda a política de preços? — questiona.

O presidente da Federação de Caminhoneiros Autônomos (Fecam) e do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de SC (Sindicam), Francisco Biazotto, reconhece que o benefício não resolve, mas diz que como paliativo é um “bom ponto de partida”. Ele afirma que o valor poderá ajudar os caminhoneiros autônomos porque muitos pararam por conta dos altos custos da atividade.

— Vemos como um bom benefício. Podia ser mais, né? Mas aprovaram R$ 1 mil, é uma boa ajuda — afirma.

O dirigente cita outras bandeiras defendidas pelos motoristas, como desconto percentual nos abastecimentos subsidiado pelo governo e o cumprimento da tabela de frente criada após a greve dos caminhoneiros, em 2018.

Outros profissionais do setor de transportes afirmam que o benefício pode ajudar caminhoneiros que precisem de apoio financeiro na vida pessoal, mas que deve ter pouco impacto na atividade profissional dos caminhoneiros. Isso porque o aumento dos custos fica muito acima do eventual pagamento de R$ 1 mil.

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Atualmente, o preço médio do diesel comum é de R$ 7,52 em SC, segundo o levantamento mais recente da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Por essa base, o benefício equivaleria a 133 litros do combustível — menos da metade de um tanque de um caminhão médio, com capacidade de por volta de 300 litros, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

O empresário do setor de transportes e ex-caminhoneiro autônomo Ruy Hermes Gobbi, afirma que o voucher pode ajudar caminhoneiros nos gastos domésticos ou na alimentação, mas que o valor não faz frente aos altos custos como diesel, pneu e manutenção.

— O auxílio [aos caminhoneiros] é muito aquém das necessidades, assim como o Auxílio Brasil é aquém do que as famílias precisam. Não é nem eleitoreiro, nem efetivo. É um meio-termo. Não dá para dizer que não ajuda, mas também não dá para dizer que resolve — avalia.

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