A ferrovia anunciada no programa de infraestrutura do governo federal que beneficia o Estado foi saudada por empresários gaúchos mas também suscitou dúvidas. Não detalhado pelo Ministério dos Transportes, o projeto causou surpresa até mesmo em órgãos do governo federal ligados ao modal ferroviário.

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A ligação entre São Paulo e Rio Grande, que passa pela cidade catarinense de Mafra, torna incerto o futuro do prolongamento da Ferrovia Norte-Sul, projeto considerado prioritário pelo governo gaúcho. Com um outro traçado, a extensão da via nacional partiria de Panorama (SP), passaria por Chapecó e também chegaria a Rio Grande. Os trechos já têm até edital lançado para estudos de viabilidade econômica e ambiental.

Colunistas de ZH comentam as medidas do governo. Confira:

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– É bastante surpreendente o que está mapeado neste trabalho. Nunca houve qualquer discussão com os Estados que integram o Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) sobre este itinerário. Nesse caso, o governo federal estaria abandonando o conceito de ferrovia tronco e de alta velocidade da Norte-Sul ? – questiona o secretário de Infraestrutura e Logística, Beto Albuquerque.

O projeto do governo também intrigou o engenheiro ferroviário Daniel Lena Souto, do Conselho de Infraestrutura (Coinfra) da Fiergs.

– Não deu para entender. Talvez faça parte de um outro projeto do Ministério e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para modernizar e dar maior velocidade e capacidade para trechos antigos – avalia Souto.

De fato, o traçado divulgado pelo governo federal coincide com o trecho hoje concedido à concessionária ALL que liga a Capital a São Paulo. Em dezembro do ano passado, o então presidente da ANTT, Bernardo Figueiredo, admitiu que existia a intenção de modernizar três trechos, um deles entre Porto Alegre e a capital paulista. O governo poderia retomar os pontos considerados subutilizados e licitar novas obras, mantendo as concessionárias com o direito de utilizar apenas a capacidade atual e dando a outros operadores o direito de também usarem as ferrovias, algo semelhante ao modelo anunciado nesta quarta-feira.

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Os prazos propostos pelo governo também são considerados ambiciosos. No caso da ferrovia Rio Grande-São Paulo, o cronograma prevê a finalização de estudos em fevereiro de 2013 e assinatura de contratos até setembro. No total, o plano para as ferrovias prevê recursos de R$ 91 bilhões – a maior parte dos R$ 133 bilhões previstos no pacote anunciado na quarta-feira para estradas e vias férreas, considerado o maior programa de concessões da história brasileira.

Além dos R$ 56 bilhões na construção da nova malha, que seguirá o modelo de parceria público-privada, R$ 35 bilhões seriam gastos 25 anos após a conclusão dos projetos na manutenção e operação das ferrovias. Nos R$ 42 bilhões previstos para 7,5 mil quilômetros de rodovias, o modelo será o de concessões, com cobrança de pedágios.