Nesta sexta-feira, dia seguinte à morte do militante islâmico Mohamed Merah, que assumiu a autoria de sete assassinatos na região de Toulouse, o governo francês tenta responder a questões levantadas sobre falhas na vigilância antiterrorista, enquanto a investigação busca novos elementos sobre a atuação do ativista morto.

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Embora o primeiro-ministro, François Fillon, tenha afirmado que “não existia nenhum elemento que permitisse deter Mohamed Merah porque a França é um Estado de direito”, foi revelado que os serviços de inteligência franceses vigiavam Merah desde 2010. Neste ano, ele foi repatriado para a França pelo exército americano, depois de passar por um controle da polícia em uma estrada no Afeganistão.

As autoridades policiais francesas consideravam que o assassino levava uma vida normal para um jovem de 23 anos, aparentemente incompatível com o islã radical. Porém, condenado várias vezes por crimes comuns menores, Merah frequentava um pequeno grupo que reivindicava o salafismo, um dos ramos mais radicais do islã.

– O fato de pertencer a uma organização salafista não é um crime em si. Não se deve confundir fundamentalismo religioso com terrorismo, inclusive se conhecemos, naturalmente, os vínculos que unem ambos – argumentou Fillon.

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O primeiro-ministro também disse que Mohamed Merah, que figurava na lista de pessoas que não podiam sobrevoar os Estados Unidos, também formava parte na França de uma lista de pessoas para vigiar em caso de deslocamento. Mas “ele não se deslocou”, acrescentou o primeiro-ministro.

Jean-François Copé, chefe do partido do presidente Nicholas Sarkozy, o UMP, reconheceu que é totalmente legítimo que exista transparência na investigação a fim de não deixar eventuais “zonas de sombra”.

Na quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Alain Juppé, disse que entendia que “possa ser levantada a questão de saber se houve uma falha ou não” e pediu para que isso seja esclarecido.

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O assassino

Mohamed Merah vivia oficialmente com pouca renda, mas possuía vários endereços, alugava automóveis mensalmente e possuía um grande arsenal de armas. Em seu diálogo com a polícia durante a operação que o cercou, afirmou que vivia de roubos, mas a polícia não parece se contentar com esta explicação.

Seu irmão mais velho Abdelkader, detido desde a madrugada de terça-feira com sua companheira e sua mãe, afirmou que não estava ciente dos projetos criminosos de seu irmão, embora várias testemunhas tenham declarado que estava mais comprometido que este com o combate islamita.

A prisão para investigação dos três familiares de Mohamed Merah foi prolongada nesta sexta-feira pela manhã. Segundo a lei francesa, pode durar até a madrugada de domingo, antes de uma eventual acusação.

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Alain Penin, um psicólogo que examinou Merah em 2009, o descreve como um jovem frágil, influenciável, fascinado pela violência e que sofria de uma “falha de identidade” que favoreceu o desenvolvimento de um “processo monstruoso”.

– Quando eu o examinei, vi um jovem muito ansioso, em dificuldade, emocionalmente muito frágil, com uma personalidade um pouco neurótica. Seu pai abandonou sua mãe quando ele tinha cinco anos. Ela teve dificuldades para manter suas responsabilidades educacionais e não conseguiu fornecer a segurança emocional desse menino, que foi colocado em um abrigo, depois com uma família adotiva e em uma instituição. Posteriormente foi fichado por comportamento anti-social e atos de delinquência na adolescência – afirmou Penin.