Outrora chocantes pelo ineditismo, as imagens de ônibus queimando deixaram de causar impacto, tamanha a repetição destes episódios. Não significa que a população deixe de se assustar, mas depois de 45 coletivos incendiados em 2013, as ocorrências já não alarmam como antes. Nesta semana ocorreu de novo. Em Criciúma e em São José, passageiros, motoristas e cobradores saíram às pressas dos veículos para escapar das chamas.

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Não se trata da violência em série como foram os primeiros dias de fevereiro, pior período da segunda onda de violência. Mas com a confirmação da Polícia Militar de que dois casos são mesmo ataques, as estatísticas apontam 116 atentados só neste ano, além dos 68 de novembro de 2012. A reedição se deu mesmo com 40 líderes do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) isolados em penitenciárias federais. Neste cenário, o governo afirma não saber se a ordem partiu da facção e fala em vandalismo.

1. Por que ônibus voltaram a ser queimados no Estado?

A resposta objetiva eu não sei. O que eu sei é que tivemos dois episódios, um em São José o outro em Criciúma. Em decorrência disso, a PM está em situação de alerta com ações preventivas sendo desenvolvidas nas cidades onde exista a possibilidade de ocorrer isso.

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Coronel Nazareno

comandante-geral da Polícia Militar

Só o andamento da investigação irá dizer. Trabalhamos com duas hipóteses: ação de organizações criminosas para chamar a atenção no sistema prisional ou atos de vandalismo.

Aldo Pinheiro D?Ávila

delegado-geral da Polícia Civil

2. Qual a motivação para os novos ataques registrados?

Não saberia dizer por ser o comandante-geral da PM e ter a certeza de que não foi por ação da PM. Participei de uma reunião com o governador, com a Secretaria de Segurança Pública e a Secretaria de Justiça e Cidadania, ele mandou que se tomassem providências para remover as possíveis causas dessas manifestações e determinou um alerta dentro dos órgãos de segurança. Pelo que eu entendi, também a SJC está tomando medidas necessárias para enfrentar o problema e as causas.

Coronel Nazareno Marcineiro

Ainda não conseguimos apontar a motivação dos novos incêndios.

Aldo Pinheiro D?Ávila

3. Trata-se de uma terceira onda de atentados?

Pela análise dos fatos e circunstâncias, trato como crimes contra o patrimônio público. É possível que seja para chamar a atenção de alguém, mas isso é suposição. Eu, como comandante, preciso lidar com fatos e dados.

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Coronel Nazareno Marcineiro

Não. Nesse momento não considero ou acredito que seja nova onda. Pode acontecer, e se for vamos reagir com toda força e não vamos poupar esforços.

Aldo Pinheiro D?Ávila

4. Quais as medidas caso se confirme uma nova onda?

Há uma ação muito intensa da PM. Em Florianópolis, por exemplo, há blitze e abordagens em vários lugares. Isso é uma primeira etapa. Cada segmento da segurança está fazendo a sua parte. A ordem que eu dei era para aumentar a segurança e as ações repressivas, mas cada unidade analisa e acaba adotando as medidas. Blumenau, Balneário Camboriú, Criciúma estão acompanhando os ônibus por área.

Coronel Nazareno Marcineiro

Concentramos a investigação dos casos de São José e Criciúma (dois ônibus queimados). Há força-tarefa montada pela Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), mas as polícias locais também têm as condições e devem fazer as investigações iniciais.

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Aldo Pinheiro D?Ávila

5. São ações de presos ligados à facção criminosa PGC?

As autoridades ouvidas pelo DC preferiram não oficializar, mas policiais dos setores de investigação e inteligência apuram essa possibilidade como sendo a mais provável. Dois DVDs deixados no local do ataque de segunda-feira, em São José, são atribuídos ao PGC. Na gravação, além de apontar maus-tratos que ocorreriam no sistema penitenciário catarinense, o mensageiro afirma que uma nova onda de violência seria deflagrada no Estado.

6. A Força Nacional é garantia de proteção à comunidade?

Não, porque os agentes não têm contato direto com os presos. Eles são responsáveis pela segurança externa das unidades prisionais, como as guaritas e proximidade dos muros. A legislação determina que a função é da Polícia Militar, mas a corporação não executa a tarefa por falta de efetivo. A Força Nacional está saindo de maneira gradual do Estado desde abril. O número de agentes que permanece em Santa Catarina não foi divulgado pelas autoridades procuradas pelo Diário Catarinense, mas sabe-se que eles continuam em São Pedro de Alcântara e Blumenau.

7. Há chances de ocorrer mais transferências de presos?

O Ministério da Justiça nos ofertou da outra vez mais duas centenas de vagas. Então é possível que transferências voltem a acontecer e elas não estão descartadas.

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Leandro Lima

Diretor do Departamento de Administração Prisional

Se ficar constatado que partem de presos, vamos defender a transferência de quantos forem precisos e sem dúvida serão transferidos.

Aldo Pinheiro D?Ávila

8. Os dois DVDs entregues em São José são de detentos?

Ainda não conseguimos confirmar.

Aldo Pinheiro D’Ávila

Nem me parece que foi feito dentro da cadeia. A locução e o texto são muito bem feitos. Não estamos aqui atendendo o que eles pedem. O que está no áudio é algo que não acontece. Não temos enfermeira fazendo toque, nenhuma pessoa é submetida à tortura, nem algum tipo de maus-tratos. O exame é humilhante, não é o adequado, mas infelizmente é um instrumento que garantiu a segurança à sociedade.

Leandro Lima

9. As mudanças em São Pedro atendem pedidos de presos?

Não existem relações entre as mudanças na penitenciária e os ônibus queimados. Não estamos atendendo nenhuma reivindicação de presos e tudo estava programado.

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Leandro Lima

10. O Estado está vulnerável à ação do crime organizado?

Nosso serviço de inteligência, integrado com os órgãos federais, está atuando e tomando medidas necessárias no sistema prisional. Algumas coisas levantadas estão sendo discutidas. Nós formamos uma comissão externa que está avaliando todos os casos. Qualquer ocorrência como as que têm acontecido aqui e acolá a polícia está pronta para fazer todas as investigações tomar todas as providências. Esta é a determinação do governo.

Raimundo Colombo

Governador de Santa Catarina