Há seis anos, o escritor David Nicholls conquistou milhares de leitores mundo afora ao lançar a história de uma grande amizade que tinha tudo para se transformar em amor. O best-seller Um Dia pula a cada capítulo exatamente um ano na vida de Emma e Dexter para, muito além de narrar um romance, confrontar os sonhos de jovens adultos com o que de fato se consegue (ou não) realizar ao longo da vida. Nós, novo livro de Nicholls que acaba de chegar ao Brasil, mergulha nessa mesma inquietação.
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Agora, contudo, em vez de dois jovens que sabem ainda não ter idade para se acomodar com planos não realizados, Nicholls nos apresenta um desencantado homem de meia-idade perguntando-se como chegou àquele ponto e se ainda há tempo para uma virada.
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Em uma madrugada qualquer, o bioquímico Douglas Petersen é despertado pela mulher com um desabafo: está pensando em deixá-lo. A constatação de que ela não está feliz (e, possivelmente, ele também não) é um choque. Assim como a certeza de ser um estranho para o filho de 17 anos. Mas o cientista metódico vê logo uma oportunidade para recolocar tudo nos eixos: a viagem pela Europa em que estão prestes a embarcar como um último programa em família antes de o guri partir para a faculdade.
O leitor embarca junto nesse conflituado tour por museus da Europa e na prosa fluida de Nicholls, recheada de referências sobre arte, música e cinema. Com habilidade e sem ser piegas ou apelativo, o autor comove ao mostrar que nem os fatos mais contundentes parecem abalar o otimismo a toda prova de Petersen. Até ele finalmente perceber que, para resolver os dramas de sua vida, será preciso muito mais do que um roteiro cuidadosamente planejado com ingressos comprados de antemão e comentários sobre obras de arte pinçados da Wikipédia. A cada nova cidade, o bioquímico vê a mulher mais irritada e condescendente e o filho, mais entediado e arredio.
A trama narrada em primeira pessoa por Petersen alterna o diário de viagem com memórias, que vão desde o dia em que ele conheceu a mulher com alma de artista que iluminou sua vida pacata às brigas e aos desencontros que culminaram em um casamento morno e um filho distante. Apesar de tudo – passado e presente – ser revisto pelo olhar de um cinquentão, a lógica é a de um romance de formação: assim como o filho adolescente, o narrador precisará se perder para, enfim, depois de algumas experiências transformadoras, encontrar-se.
Nas 384 páginas da saga de Petersen, os fãs de Um Dia vão reconhecer o humor, a autoironia e a melancolia de Nicholls em uma trama envolvente que conduz a um desfecho honesto e verossímil. Mais do que isso: ao longo das descobertas e reflexões do personagem, repassando as escolhas que o levaram àquele impasse, o leitor vai perceber que o pronome “nós” do título refere-se não apenas ao narrador e sua família.
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Nós
De David Nicholls
Romance, Intrínseca, 384 páginas, R$ 39,90. Tradução de Alexandre Raposo.
Cotação: 3 estrelas